No dia 1º de agosto, entram em vigor as tarifas de 50% impostas por Donald Trump em face de importações de produtos brasileiros pelos Estados Unidos. Elas estabelecem a mais grave crise em décadas no relacionamento entre as duas nações mais populosas do ocidente.Não obstante a balança comercial entre os dois países ser amplamente favorável ao mercado norte-americano — um superavit de US$ 7,4 bilhões —, o Brasil está sendo punido em tarifas muito superiores àquelas fixadas em face de países cuja balança comercial é imensamente desfavorável aos Estados Unidos.Além da alegada motivação calcada no desrespeito a marcas e patentes, e em práticas supostamente anticoncorrenciais em meios de pagamento, transparece por parte da ação de Donald Trump a motivação política e o protecionismo em relação às gigantes do mundo digital.LEIA TAMBÉM: Onde investir nesta temporada de balanços? O Money Times quer disponibilizar para você recomendações sobre quais empresas investir de forma prática e gratuita.Sob a aura do patriotismo, só a indústria norte-americana consumidora de aço e alumínio arcará com um excedente tributário de U$ 5,7 milhões.Como na situação do marisco na luta entre o rochedo e o mar, no caso presente, o agronegócio parece ser um dos maiores prejudicados até o momento, juntamente com o consumidor norte-americano dos produtos agrícolas brasileiros.Exemplos dos efeitos nefastos da tarifação desmedida são os experimentados pelo mercado do suco de laranja e do café. Estudos do CNA apontam para uma redução quase que integral das importações de suco de laranja brasileiro, com aumento de mais de 30% sobre o preço do produto comercializado no mercado consumidor americano.No que se refere ao café, há estimativas de redução em mais de 30% nas importações por aquele país. Os mesmos estudos apontam para prejuízos substanciais no mercado de carnes (diminuição por volta de 47% no volume de importações) e açúcar (redução de até 74% no volume de importações), entre outros.Tratando-se de uma disputa em que não há ganhos e todas as partes envolvidas perdem, a atuação de Donald Trump acaba por causar um efeito contrário ao aparentemente pretendido.Pesquisas aqui e lá apontam para uma massiva reprovação em relação à forma como o assunto está sendo tratado, com a desaprovação de 47% dos americanos e 62% dos brasileiros.Mas há outras consequências graves decorrentes dessa posição do governo americano. Há uma inegável quebra de confiança dos países em geral em relação a esse parceiro comercial ocidental. Isso conduz à busca de novos mercados e, em muitos casos, a uma cada vez maior aproximação da China em relação aos mercados desses países, resultado de um novo alinhamento de interesses.A solução, indiscutivelmente, deve passar e está passando por negociações sérias e livres de componentes que desvirtuam a lógica comercial. Caso as negociações não funcionem, talvez vejamos no futuro a história considerando esse episódio como o tarifaço que fez os Estados Unidos perderem o Brasil como grande parceiro comercial.