Um artigo publicado nesta quarta-feira (30) na revista Nature relata a detecção de neutrinos – ou “partículas fantasmas” – usando um método totalmente oposto ao habitual.Esse avanço pode permitir ir além do que os olhos alcançam, explorando os componentes mais secretos do Universo.Em poucas palavras:Uma equipe de pesquisadores conseguiu detectar neutrinos usando uma técnica diferente;Conhecidos como “partículas fantasmas”, os neutrinos atravessam tudo sem deixar rastros visíveis;Até então, para detectá-los, eram utilizados tanques colossais de água ou gelo, que além de imensos são muito caros;O novo método deve impactar não só a física, como também a segurança nuclear e o estudo do Universo.Neutrinos, também conhecidos como “partículas fantasmas”, são capazes de atravessar qualquer coisa sólida no Universo de forma imperceptível. Crédito: Kakteen – ShutterstockPor que “partículas fantasmas”?Neutrinos são partículas minúsculas, sem carga elétrica, capazes de atravessar qualquer objeto sólido no Universo. Eles passam direto por planetas, prédios e até pelo nosso corpo, sem deixar vestígios. E é por serem tão discretos que são apelidados de “partículas fantasmas”. A cada segundo, 60 bilhões deles, vindos do Sol, atravessam cada centímetro quadrado de nós.Detectar essas partículas é um enorme desafio. Normalmente, os cientistas usam tanques gigantes de água limpa ou blocos de gelo subterrâneo, esperando que algum neutrino mais energético colida com um átomo e produza um leve clarão. São estruturas caras, imensas e difíceis de construir e manter, como, por exemplo, o IceCube, na Antártida, ou o HyperKamiokande, no Japão.Acontece que nem todos os neutrinos são superenergéticos. Alguns têm baixa energia e, ainda assim, conseguem interagir com a matéria de forma diferente. Esse tipo de interação é chamada de CEvNS (sigla para Espalhamento Elástico Coerente Neutrino-Núcleo). Nela, o neutrino bate no núcleo inteiro de um átomo e provoca um movimento quase imperceptível, mas pode ser medido com equipamentos muito sensíveis.O experimento CONUS+ usou essa técnica para detectar antineutrinos – a versão “espelhada” dos neutrinos. Com um detector de apenas três quilos, instalado a 20,7 metros do reator nuclear de Leibstadt, na Suíça, a equipe conseguiu captar o sinal dessas partículas quase invisíveis. Durante 119 dias, registraram 395 interações, número que bate com os cálculos da teoria.Configuração e posicionamento do detector CONUS+ no reator da usina nuclear de Leibstadt, na Suíça. Crédito: MPIK/KKLEstudar neutrinos pode ficar mais simples e barato com novo método“Confirmamos com sucesso a sensibilidade do experimento CONUS+ e sua capacidade de detectar o espalhamento de antineutrinos em núcleos atômicos”, disse um dos autores do estudo, Christian Buck, cientista do Instituto Max Planck de Física Nuclear, na Alemanha, em um comunicado.A principal novidade do experimento está em mostrar que é possível detectar neutrinos sem estruturas gigantes. Dessa forma, o CONUS+ abre caminho para uma forma mais prática e acessível de estudar essas partículas tão misteriosas, podendo ajudar a melhorar o modelo atual da física de partículas e talvez até revelar fenômenos que ainda não conseguimos explicar.Essa nova abordagem promete revolucionar não só a física de partículas, mas também áreas como a segurança nuclear e a astrofísica. Detectores compactos e sensíveis como o CONUS+ podem, no futuro, ser usados para monitorar reatores em tempo real ou estudar eventos cósmicos distantes sem depender de instalações colossais. Ao tornar a detecção de neutrinos mais acessível, essa técnica inaugura uma nova era na investigação do invisível – um passo fundamental para entender os componentes mais sutis e intrigantes do Universo.O post Inovação na detecção de “fantasmas do Universo” promete revolucionar a física de partículas apareceu primeiro em Olhar Digital.