A decisão do Federal Reserve (Fed) pela manutenção da taxa de juros nos Estados Unidos já estava precificada. No entanto, o que chamou atenção do mercado foi a votação do Fomc (Comitê Federal de Mercado Aberto), que teve duas dissidências entre os 12 membros — o que não acontecia desde 1993.No Giro do Mercado desta quinta-feira (31), o jornalista Vinicius Pinheiro, diretor de redação do Money Times, recebeu Claudio Pires, sócio-diretor da MAG Investimentos, para analisar os sinais do Fed e do Copom após as decisões de ontem (30).VEJA TAMBÉM: O Copom decidiu e a Selic foi mantida em 15%: entenda o impacto no mercado e como investir após a reunião“Essa dissidência mostra que o Fed está começando a rachar, começando a mostrar fissuras em relação ao comando. E certamente as críticas totalmente abertas do presidente Donald Trump à autoridade monetária não contribuem”, afirma Pires.Segundo o especialista, a situação contraria uma expectativa histórica sobre o Fed, de que o chairman Jerome Powell deveria conduzir os participantes do Fomc para um voto de consenso, o que não aconteceu ontem.Na ocasião, Michelle Bowman e Christopher Waller, indicados por Trump, votaram por um corte de 25 pontos base por identificarem sinais de crescente desaceleração econômica.Em relação a Waller, o especialista afirma que a postura e o posicionamento podem deixá-lo em uma posição de disputar a sucessão da presidência do órgão, já que Powell não deve ser reconduzido ao cargo após o fim do mandato, em 2026.Para a próxima reunião, em setembro, a MAG Investimentos mantém a expectativa de corte de 25 pontos base, mas Pires ressalta que as projeções estão divididas entre manutenção e corte. Os próximos dados econômicos devem ditar a expectativa.Juros no Brasil seguem em 15%Em relação ao Brasil, a decisão de manutenção da Selic em 15% também não surpreendeu. A projeção da casa é que o próximo corte ocorra apenas em março de 2026, com movimentos curtos, de cerca de 0,25 ponto percentual.Pires considera que a postura mais hawkish (dura) do presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, surpreende o mercado, após ser indicado pelo presidente Lula.Na visão dele, Galípolo está em um processo de “compra de credibilidade” em meio a desconfiança do mercado, dado que foi indicado por um governo leniente com o fiscal.“Ele precisa se mostrar muito mais duro para conseguir conquistar credibilidade e fazer com que as projeções de longo prazo venham para dentro da meta e o custo disso vem para o país, com uma Selic ainda mais alta do que o BC precisaria”, disse Pires.Além dos juros, o especialista comentou sobre a questão tarifária dos EUA com o Brasil. Para ele, o impacto ainda pode ser relevante, mas as isenções aliviam grande parte dos segmentos.O programa ainda contou com participação de Renan Dantas, editor-assistente do Money Times, para comentar os resultados do Bradesco (BBDC4). Para acompanhar o Giro do Mercado na íntegra, acesse o canal do Money Times no YouTube.E MAIS: Selic mantida em 15% – entenda como isso afeta os seus investimentos