O desafio não é tecnológico

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Estamos a exagerar no algoritmo e a falhar no abraço.Vivemos obcecados com a próxima disrupção, mas ignoramos o mais urgente: não é a tecnologia que está em crise. É a nossa humanidade.As empresas querem ser exponenciais, mas continuam a liderar com folhas de cálculo em vez de propósito. Acreditam que vão mudar o mundo com inteligência artificial, mas não sabem escutar um estagiário sem interromper. Correm atrás da inovação, mas esquecem-se do essencial: ninguém segue um líder que perdeu a alma.O maior risco hoje não é ficar para trás na transformação digital. É ficar para trás como ser humano.Não adianta o metaverso se as relações no local de trabalho estão em coma. Não adianta a cloud se ninguém tem tempo para uma conversa verdadeira com quem está no terreno. Não adianta a tecnologia se a cultura continua tóxica, defensiva e reativa. É possível ter as melhores ferramentas do mercado e, ainda assim, estar espiritualmente falido enquanto organização.Já vi empresas com dashboards impecáveis e equipas emocionalmente esgotadas. Já vi quem fala de “mindset ágil”, mas não tem coragem para ouvir quem pensa diferente. Já vi gestores viciados em métricas, mas cegos para o medo, o burnout e o silêncio dos seus colaboradores. E pergunto: que liderança é essa, afinal? Para quem? Para quê? Que valor estamos, de facto, a criar?A verdade é simples: não há cultura saudável sem escuta. Não há inovação sustentável sem empatia. Não há transformação real sem vínculo, sem verdade, sem humanidade. E não há liderança viva sem consciência de que, mais do que gerir pessoas, é urgente cuidar de pessoas com presença e intenção.O desafio dos próximos anos não é tecnológico. É antropológico. É reaprender a ser gente. É voltar a perguntar: o que é que ainda nos torna humanos? E ter a coragem de viver – e liderar – de acordo com a resposta.Porque, enquanto muitos se deslumbram com o próximo software, há empresas que nem conseguem responder a um e-mail sem marcar uma reunião. Enquanto sonhamos com chips no cérebro, há líderes que já nem sabem o nome de quem limpa o open space. Enquanto se fala em machine learning, esquecemos o que é aprender com o outro, com a escuta, com o erro, com a vida real. O essencial não está nos dados, está no gesto, no olhar, na escuta com alma.Nos meus livros, nos artigos de opinião, ou nas conversas de corredor, repito uma ideia que parece simples, mas é profundamente incómoda: há ferramentas para quase tudo, menos para sermos inteiros. Porque a inteireza não se automatiza. Não se programa. Não se subcontrata.E líderes sem propósito constroem fachadas. Fachadas modernas, com dashboards reluzentes e inteligência artificial de última geração… mas por dentro, vazias. Sem alma. Sem gente. Sem futuro.O conteúdo O desafio não é tecnológico aparece primeiro em Revista Líder.