Rafaela Silva, campeã olímpica de judô e símbolo de superação, abre o coração ao contar sobre os traumas que enfrentou após ser desclassificada nas Olimpíadas de Londres, em 2012. Apesar de revelar ter passado um período muito difícil ao enfrentar uma depressão, ela também conta como foi o processo para a superação. “Eu fiquei em depressão, pensei em tirar minha vida. Foi um processo muito difícil, mas que me abriu os olhos para outras coisas, principalmente para o meu futuro pós-judô”, conta a judoca brasileira no primeiro episódio da nova temporada do podcast Zona Segura, da MAG Seguros, apresentado pelo diretor comercial da companhia, Leonardo Lourenço. A seguradora também é apoiadora da atleta.Na conversa, Rafaela conta que, aos 33 anos, dedica-se a entender mais sobre saúde mental, ressignificar traumas e construir um novo legado para além das competições. Ao longo do episódio, a campeã olímpica relembra momentos decisivos da carreira, como a infância na Cidade de Deus e o impacto do racismo sofrido após sua eliminação nos Jogos de Londres.“Me chamaram de macaca, disseram que lugar de macaco era na jaula, não numa Olimpíada. Aquilo me destruiu por dentro”, diz a judoca, que passou meses afastada do esporte após o episódio.Leia mais: Seguro é investimento? Saiba como a proteção é peça-chave no planejamento financeiroDinheiro, planejamento e futuroCom a maturidade, Rafaela passou a olhar com mais atenção para o lado financeiro da carreira. Depois da consagração no Rio, em 2016, quando foi campeã olímpica ao conquistar o ouro na categoria até 57 kg, viveu uma fase de bonança — e também de descontrole. “Ganhei muito dinheiro, mas gastava muito. Cresci sem poder comprar um chinelo, então quis ter tudo que nunca tive.”A ficha caiu quando foi suspensa por dois anos e se viu sem treinar, competir ou se sustentar. “Fiquei pensando: ‘Se eu quiser parar hoje, não posso’. Eu não tinha me preparado para isso.”A experiência despertou nela o desejo de ajudar outras crianças com origens semelhantes por meio da criação de um projeto social. “Quero resgatar aquela menina que queria jogar futebol, mas não tinha espaço. Quero transformar vidas.”Leia também: Poupança previdenciária da sociedade soma R$ 1,7 trilhão em 2025A história da menina de ouroRafaela nasceu e foi criada até os 8 anos na comunidade da Cidade de Deus, no Rio de Janeiro. Seu primeiro contato com o esporte se deu em uma associação de moradores, onde tentou futebol, mas foi no judô que encontrou igualdade e pertencimento.“O que me chamou atenção no judô foi que não importava se você tinha dinheiro, kimono ou era homem ou mulher. Todo mundo treinava junto”, explica. Foi nessa mesma época que conheceu Geraldo Bernardes, ex-técnico da seleção brasileira, que a enxergou como um “diamante bruto”. Aos 8 anos, ela foi convidada a integrar uma academia recém-aberta perto de casa. “Ele chamou meu pai e disse: ‘Essa menina tem potencial para chegar à seleção brasileira’. Eu achei que ele estava doido.”A infância difícil, marcada por tiroteios e falta de oportunidades, ajudou a moldar a competitividade de Rafaela. “Eu era o patinho feio que nenhuma mãe queria que o filho andasse junto. Mas o judô foi me moldando. A parte mais difícil era a disciplina, treinar e competir era o mais fácil”, detalha. Leia mais: Real Madrid cogita vender Vinícius Júnior após exigências contratuais, diz jornalSuperação no tatame e fora deleO episódio mais marcante da carreira de Rafaela ocorreu nas Olimpíadas de Londres, em 2012. Favorita ao pódio, foi desclassificada por uma infração técnica e, além da frustração esportiva, enfrentou uma onda de ataques racistas nas redes sociais.“Eu não conseguia andar, fiquei caída no tatame. E quando vi meu celular, só tinha notificações de ódio. Aquilo mexeu comigo de uma forma que pensei em desistir”, conta. O apoio da coach Nell Salgado foi essencial para sua retomada. “Ela pediu para eu me imaginar vendo a próxima Olimpíada do sofá de casa. Eu não aceitei aquilo. Eu queria estar lá”, relembra a atleta. O resultado veio em 2016, quando, no Rio de Janeiro, Rafaela se consagrou como a primeira campeã olímpica do judô feminino brasileiro. Além da medalha, ela aprendeu a lidar melhor com as críticas e passou a blindar sua saúde mental. “Hoje, quando vou competir, deixo o celular de lado. Se o resultado não é bom, demoro uns três dias para voltar. Preciso desse tempo para me reconectar.”Leia também: Brasileiro busca mais bem-estar, e seguradoras miram nova geração de produtosO peso das expectativas e a busca por equilíbrioApós o ouro no Rio, Rafaela sentiu o peso da fama. “No Brasil, se você ganha uma Olimpíada, é obrigado a ganhar tudo depois. As pessoas esquecem que somos humanos”, desabafa. O excesso de compromissos e o desgaste físico e mental afetaram seu desempenho.Em meio aos altos e baixos, a atleta reforçou a importância de cuidar da mente e que é uma preocupação que, hoje, ela leva muito a sério. “Vi colegas que chegaram invictos numa Olimpíada e desabaram por causa de problemas pessoais. Isso me fez querer estudar Psicologia. A faculdade está trancada, mas o interesse permanece.”Ela destaca ainda o valor de adaptar a disciplina ao perfil de cada um. “Nem todo mundo é metódico. É preciso entender a individualidade para extrair o melhor da pessoa. Eu não era obcecada por treino, mas sabia me entregar 100% na hora da competição”, relatou.Com um olhar maduro sobre sua trajetória, ela reconhece que as conquistas foram possíveis por causa da rede de apoio: “Minha família, o professor Geraldo, meu amigo Frango e minha coach são fundamentais. Sem eles, não teria chegado onde cheguei.”The post “Foi difícil, mas abriu meus olhos para o futuro”, diz Rafaela Silva sobre depressão appeared first on InfoMoney.