Faltando 100 dias para a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP30, a CEO do evento, Ana Toni, afirmou que a ausência dos Estados Unidos nas negociações tem atrapalhado diretamente os avanços rumo a acordos mais ambiciosos no combate à crise climática.“Infelizmente os Estados Unidos não estão engajados”, disse em entrevista exclusiva à CNN.O presidente Trump logo que começou a sua gestão, já divulgou que quer sair do Acordo de Paris. Eles ainda estarão dentro do acordo durante a nossa COP, mas eles não estiveram presentes em nenhuma das reuniões preparatórias que a gente está fazendo.Ana ToniA fala ocorre no momento em que o governo brasileiro vive um dos períodos mais tensos da relação diplomática com Washington nos últimos anos, após o tarifaço imposto por Donald Trump.“Não tem nenhuma dúvida que isso, sim, atrapalha muito o ambiente de debate e negociação, é não ter presente um dos maiores emissores e um grande financiador. E atrapalha ainda mais porque a atenção do mundo agora é responder, seja a guerras militares, seja a guerras tarifárias”, pontuou. Leia Mais Detentos cultivam mais de 50 mil mudas para COP30 em Belém COP30: novo site reúne agenda com programações nacionais e internacionais COP30: Brasil pode se tornar protagonista na transição energética Brasil corre contra o tempo para receber metas climáticas até a COP30A COP, que será realizada em Belém, marca os dez anos do Acordo de Paris, e por isso carrega a expectativa de receber uma nova rodada de compromissos climáticos por parte dos países. No entanto, boa parte das nações mais poluentes ainda não entregou suas atualizações das chamadas NDCs — as Contribuições Nacionalmente Determinadas.“A gente está monitorando como é que os países estão elaborando e a gente vê que todos os países estão muito engajados”, explicou Ana Toni.Ela destacou que, apesar do engajamento, há atraso por parte de algumas potências.Segundo a CEO da COP30, a expectativa é de que entre 80 e 100 NDCs sejam entregues até novembro.“A gente está fazendo um esforço específico nos países mais emissores pra gente ter uma ideia de como é que o mundo está evoluindo para chegar às metas do Acordo de Paris.”Ela destacou, no entanto, o êxito obtido em Bonn, na Alemanha – em uma reunião preparatória para a conferência. Foi quando o texto preliminar proposto pelo país recebeu boa aceitação dos demais integrantes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC).Local onde será a Bluezone da COP30 em Belém • Edivaldo Sodré/Ag. ParáGeopolítica dificulta avanços nos acordosO desafio de avançar nas negociações não se limita à questão técnica. Ana Toni afirmou que o momento geopolítico global tem influenciado negativamente no foco das lideranças mundiais sobre a pauta climática.“As COPs não estão acontecendo numa bolha separada da geopolítica, elas refletem a geopolítica”, afirmou.“Fica claro que a geopolítica nesse instante está com diversos desafios e problemas, e os Estados Unidos têm contribuído diretamente para esses desvios de atenção à mudança do clima – e com uma campanha de quase negação às mudanças climáticas.”Apesar disso, a CEO reforçou que o Brasil está a “todo vapor” na preparação da conferência, com avanços tanto nas negociações formais quanto na chamada agenda de ação.“Já estamos elaborando como é que esses planos em temas específicos como metano, energia renovável, floresta, oceanos, como é que esses temas todos chegarão na COP. Com anúncios concretos específicos, seja do setor privado, seja da sociedade civil, seja dos governos subnacionais.”COP30 será vitrine para soluções brasileiras em clima e bioeconomiaAlém da meta global de acelerar o cumprimento do Acordo de Paris, a conferência também é vista pelo governo como uma oportunidade de projetar o Brasil como referência em soluções climáticas.“Essa COP vai nos dar essa oportunidade de mostrar”, disse Toni.“O Brasil tem soluções para combater a mudança do clima em muitos setores. Mais de 90% da nossa energia elétrica já é renovável. Todo país sonharia ter uma matriz elétrica como a nossa.”A executiva ressaltou o potencial do país em áreas como reflorestamento, agricultura sustentável, energia limpa e saúde. Segundo ela, o Brasil pode se apresentar ao mundo como “um provedor de soluções climáticas”.Ao falar sobre a conexão entre as negociações internacionais e a vida cotidiana da população, Toni reforçou que já é possível sentir os efeitos — positivos e negativos — da pauta climática.“Toda essa nova tecnologia de painéis solares, carros elétricos, ônibus elétricos para menos poluição nas cidades (…) foram trazidas muito por causa dessas negociações internacionais.”Por outro lado, ela alerta que os impactos da crise climática já são sentidos de forma direta.“As grandes enchentes, as ondas de calor que a gente está vendo no mundo inteiro, os incêndios, as secas, isso já afeta as pessoas e a agricultura, o preço dos alimentos.”A COP30 será realizada entre os dias 10 e 21 de novembro de 2025, em Belém, no Pará, e deve reunir cerca de 40 mil pessoas de quase 200 países, incluindo chefes de Estado, representantes da sociedade civil, empresários, cientistas e ativistas.O evento é organizado pela Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), com o Brasil na presidência oficial das negociações. Será a primeira vez que uma COP acontece na Amazônia.