Entenda como a crise de fome se agravou na Faixa de Gaza

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Um grupo de monitoramento global da fome afirmou nesta terça-feira (29) que um cenário de fome se desenvolve na Faixa de Gaza, com a desnutrição aumentando, crianças menores de cinco anos morrendo de causas relacionadas à fome e o acesso humanitário severamente restringido.Israel cortou a ajuda a Gaza desde o início de março, alegando ser uma forma de pressionar o Hamas a entregar dezenas de reféns que ainda mantém, e reabriu a ajuda com novas restrições em maio. O grupo palestino acusa Israel de usar a fome como arma.Dados da ONU coletados entre 19 de maio, quando o bloqueio foi suspenso, e 25 de julho mostram que apenas cerca de um em cada oito dos 2.010 caminhões de ajuda humanitária coletados em pontos de travessia no âmbito da operação humanitária liderada pela ONU chegaram ao destino.O restante foi saqueado, “seja pacificamente por pessoas famintas ou à força por agentes armados durante o transporte”. ONU diz que não consegue enviar quantidade de ajuda necessária para Gaza Análise: Israel anuncia pausa nas operações em Gaza; mas será o suficiente? Moradores de Gaza descrevem envio de ajuda aérea como "insulto à dignidade" Uma análise interna do governo dos EUA não encontrou evidências de roubo sistemático de suprimentos humanitários financiados pelos EUA pelo grupo militante palestino Hamas, e a ONU se recusa a cooperar com a GHF (Fundação Humanitária de Gaza), provedora de ajuda escolhido por Israel.As Nações Unidas estimam que as forças israelenses tenham matado mais de mil pessoas em busca de suprimentos alimentares, a maioria delas perto dos locais de distribuição militarizados da GHF, que emprega uma empresa de logística americana administrada por um ex-oficial da CIA e veteranos americanos armados.A fundação nega que tenha havido fatalidades em seus postos e afirma que os mais mortais ocorreram perto de outros comboios de ajuda humanitária.O exército israelense reconheceu que civis foram feridos por seus tiros perto dos centros de distribuição e afirma que suas forças agora receberam instruções mais precisas.Cenário de fome generalizadoNas últimas semanas, a fome, já prevista por agências humanitárias anteriormente, chegou a níveis severos no território palestino.Agências da ONU informaram que quase 470 mil pessoas em Gaza enfrentam condições semelhantes à fome, com 90 mil mulheres e crianças precisando de tratamentos nutricionais especializados.Israel anunciou no domingo (27) que interromperia as operações militares por 10 horas por dia em partes do local e designaria rotas seguras para comboios que entregam alimentos e medicamentos entre 6h e 23h, no horário local.Na segunda-feira (28), o Ministério da Saúde de Gaza, ligado ao Hamas, informou que pelo menos 14 pessoas morreram de fome e desnutrição em 24 horas, elevando o número de mortos pela fome na guerra para 147, incluindo 88 crianças, a maioria apenas nas últimas semanas.Crianças palestinas esperam para receber comida preparada em uma cozinha de caridade em meio à escassez de alimentos, em Rafah, na Faixa de Gaza • Ibraheem Abu Mustafa/Reuters (13.fev.24)A agência da ONU para refugiados palestinos, UNRWA, afirma que são necessários de 500 a 600 caminhões por dia para evitar que mais pessoas da população de 2,1 milhões morram de fome.Desde o anúncio, mais de cem caminhões de ajuda humanitária foram transportados para Gaza, informou a organização.O Programa Mundial de Alimentos (PMA) declarou que apenas metade dos cem caminhões que esperava receber diariamente foram autorizados a entrar, e que não conseguiu reabrir padarias e cozinhas comunitárias, fechadas em maio devido à escassez.Desnutrição agudaMais de 20 mil crianças foram internadas em hospitais com desnutrição grave entre abril e meados de julho, segundo o Monitor da Fome, Classificação Integrada da Fase de Segurança Alimentar (IPC).A UNICEF, organização beneficente infantil da ONU, está se concentrando na entrega urgente de Alimentos Terapêuticos Prontos para Uso, incluindo pasta de amendoim densa e biscoitos de alto valor energético, que as pessoas com desnutrição aguda precisam antes de poderem começar a comer alimentos normais.Bebês com menos de seis meses precisam de uma fórmula terapêutica que funcione de forma semelhante à pasta. A UNICEF afirma que esses alimentos especiais devem se esgotar em meados de agosto.Crianças desnutridas frequentemente sofrem complicações que exigem antibióticos — outro item que a OMS (Organização Mundial da Saúde) afirma estar se esgotando.Crianças com desnutrição aguda geralmente podem se recuperar em 8 a 10 semanas, afirmam especialistas. Para crianças menores de 2 anos, que podem ter sido desnutridas durante o desenvolvimento cerebral crítico, a recuperação completa é mais difícil de alcançar.Em todos os casos, o acesso a longo prazo a alimentos nutritivos, como frutas, vegetais e carne, é essencial para a recuperação total, exigindo a retomada do fornecimento comercial, diz a UNICEF.Menino palestino é alimentado com mamadeira no hospital Abu Yousef al-Najjar, em Rafah, no sul da Faixa de Gaza, enquanto os moradores de Gaza enfrentam níveis críticos de fome e desnutrição crescente • 24/01/2024 REUTERS/Ibraheem Abu MustafaCaixas de ajuda e lançamentos aéreosA GHF afirmou ter distribuído mais de 96 milhões de refeições desde o final de maio, em caixas contendo alimentos básicos como arroz, farinha, macarrão, atum, feijão, biscoitos e óleo de cozinha.No entanto, a maioria precisa ser cozida, e o relatório do IPC observou que água limpa e combustível são amplamente indisponíveis em Gaza.Israel afirma que permite o lançamento aéreo de alimentos, e a Jordânia e os Emirados Árabes Unidos lançaram 25 toneladas de paraquedas no território palestino no domingo (27).No entanto, é amplamente reconhecido que a única maneira eficaz de atender às necessidades de Gaza é por caminhão.Os lançamentos aéreos são muito mais caros e o UNICEF observa que eles alimentam os primeiros a chegar, não os mais necessitados.