A tendência do ‘fibermaxxing’ faz bem para você? Sim — e aqui está o porquê

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Sementes de chia, goji berry, morangos e framboesas: uma usuária do TikTok conhecida como “impamibaby” está conquistando a internet ao compartilhar vídeos de seu café da manhã em uma charmosa tigela de madeira repleta de alimentos ricos em fibras. Segundo ela, o segredo para acabar com o inchaço está nesse simples hábito. Assim nasceu o movimento conhecido como #fibermaxxing.A tendência consiste em preparar refeições que ajudam a atingir — ou até ultrapassar — a ingestão diária recomendada de fibras, com o objetivo de melhorar a saúde intestinal, controlar o peso e prevenir doenças. Vídeos com a hashtag já acumulam dezenas de milhões de visualizações e curtidas. Neles, usuários mostram refeições coloridas e carregadas de fibras, muitas vezes com textos indicando a quantidade do nutriente e seus benefícios à saúde. Leia Mais Vontade de lanche e ansiedade: hábitos afastam alimentação saudável no trabalho Um alimento ultraprocessado pode fazer bem à saúde e ao planeta; veja qual Dieta mediterrânea reduz risco de câncer, revela estudo O TikTok já nos apresentou modismos alimentares duvidosos — sim, estamos falando do frango com NyQuil e do #SkinnyTok —, mas, de tempos em tempos, surge algo que realmente vale a pena experimentar, segundo a nutricionista Lauren Manaker, fundadora da Nutrition Now Counseling em Charleston, Carolina do Sul.Segundo Manaker, a maioria dos americanos não consome a quantidade recomendada de fibras. As Diretrizes Alimentares para Americanos indicam um consumo diário de 22 a 34 gramas, dependendo da idade e do sexo. No entanto, mais de 90% das mulheres e 97% dos homens não atingem essa meta. “Seja adicionando sementes de chia a tudo, escondendo legumes nas refeições ou explorando novos grãos integrais, o fibermaxxing pode ser a tendência que nem sabíamos que precisávamos”, afirma a nutricionista. Ela destaca ainda que o consumo insuficiente de fibras está ligado ao aumento nos casos de câncer de cólon, principalmente entre pessoas de 20 a 54 anos.O gastroenterologista Dr. Kyle Staller, do Massachusetts General Hospital e professor em Harvard, concorda. “Apesar das idas e vindas da ciência e das modas, a recomendação para ingestão de fibras permanece firme há anos. Fibras são um clássico que funciona”, afirma.Contudo, Staller alerta que mudanças muito rápidas na alimentação podem causar desconfortos. “Especialmente com tendências do TikTok, é preciso cautela”, diz.Por que a fibra é tão importante?Existem dois tipos principais de fibras alimentares: solúveis e insolúveis. As solúveis se dissolvem em água e formam uma substância semelhante a um gel, trazendo diversos benefícios digestivos. Já as insolúveis não se dissolvem e ajudam a formar fezes mais volumosas e regulares.“Um equilíbrio entre as duas é essencial para a saúde”, explica Manaker. “Se você exagerar em um tipo e deixar o outro de lado, pode acabar com inchaço ou constipação.” A maioria dos alimentos fibrosos contém ambos os tipos, mas alguns se destacam: maçãs, bananas, frutas cítricas, aveia, cenouras, cevada, feijões e o psyllium (fibra da casca da semente da Plantago ovata) são ricos em fibras solúveis. Já os vegetais como vagem, couve-flor e batatas, além de farinha de trigo integral, nozes e leguminosas, são fontes de fibras insolúveis.As refeições compartilhadas por usuários como impamibaby geralmente são ricas em fibras insolúveis, com tigelas coloridas cheias de frutas, sementes e vegetais variados.Staller lembra que há mais fatores a considerar: a viscosidade e a fermentabilidade da fibra influenciam diretamente a digestão e a saúde do microbioma intestinal. Além disso, a forma como o alimento é processado — cru, cozido, cortado ou industrializado — também impacta o efeito das fibras no organismo.Benefícios comprovados da ingestão de fibrasJennifer House, nutricionista e fundadora da First Step Nutrition, no Canadá, explica que uma das razões pelas quais a fibra está associada à prevenção do câncer de cólon é a redução do tempo de contato das fezes com o intestino. “Além disso, as bactérias do intestino fermentam a fibra, produzindo ácidos graxos de cadeia curta, como o butirato, que nutre as células do cólon e combate inflamações e células cancerígenas”, afirma.Estudos recentes também mostram que pacientes com câncer de cólon têm maiores chances de sobrevivência ao aumentar o consumo de fibras. A fibra ainda está ligada à prevenção de doenças como diabetes tipo 2, colesterol alto, problemas cardiovasculares e morte precoce. Ela também regula o açúcar no sangue e prolonga a sensação de saciedade, contribuindo para o controle do peso.E embora alguns influenciadores digam que o fibermaxxing “desintoxica” o intestino — termo visto com desconfiança por especialistas —, House confirma que há um fundo de verdade: “Como a fibra ajuda na evacuação, ela literalmente remove toxinas do corpo”.Manaker complementa dizendo que vegetais folhosos e oleaginosas também favorecem a saúde do fígado, órgão fundamental no processo de desintoxicação. Além disso, há cada vez mais evidências de que a saúde intestinal influencia diretamente o humor e a saúde mental.Como começar a praticar o fibermaxxingSe você quer aderir à tendência, vá com calma. “Sair do zero e começar a comer muita fibra de uma vez só pode causar desconforto”, alerta Staller. Isso porque a fibra atrai água para o intestino, expandindo o trato digestivo e causando inchaço, especialmente em quem não está acostumado.A dica é começar devagar, como adicionar frutas vermelhas ao cereal ou trocar um prato do dia por uma opção com mais fibras. Após uma ou duas semanas, avalie como se sente e vá aumentando a ingestão gradualmente. Lembre-se de que nem todo tipo de fibra funciona para todo mundo, por isso é importante observar os sinais do corpo. Se possível, procure um nutricionista para orientar o processo.Suplementos de fibra, como os feitos com psyllium, podem ser úteis, especialmente em casos clínicos como colesterol alto. Mas eles não substituem os benefícios dos alimentos naturais, que oferecem também vitaminas, minerais e antioxidantes.Algumas trocas simples sugeridas por Manaker incluem: optar por arroz, pães e massas integrais; adicionar vegetais a pratos já conhecidos; e incorporar leguminosas e sementes às refeições. E um alerta importante: beba bastante água. Sem ela, a fibra pode causar constipação, gases e fezes ressecadas.Para facilitar, o site das Diretrizes Alimentares para Americanos disponibiliza uma lista com a quantidade de fibras por porção em centenas de alimentos comuns.A mensagem final dos especialistas é clara: com moderação, planejamento e variedade, o fibermaxxing pode ser mais do que uma tendência — pode ser um hábito valioso para sua saúde a longo prazo.Fibras podem proteger o intestino e a saúde cardiovascular