Quem já passou horas vasculhando a internet em busca do vestido ideal para ser madrinha de casamento sabe o quanto essa missão pode ser cansativa. Com uma infinidade de estilos, cores, tamanhos e preços disponíveis, encontrar a peça perfeita pode se tornar um verdadeiro desafio.Mas uma startup de tecnologia chamada Daydream quer mudar isso — e promete facilitar a experiência de compras on-line com a ajuda da inteligência artificial. A proposta é simples: permitir que os usuários procurem produtos da mesma forma que descreveriam a um amigo. Leia Mais Exposição em Londres revela segredos dos looks da rainha Elizabeth II "Escândalo das sandálias" da Prada mostra dilema da moda de luxo na Índia Namoros fora do feed: linguagem do amor da Geração Z é mais discreta Em vez de filtros complicados ou palavras-chave, basta digitar algo como “vestido de vingança para usar em uma festa na Sicília em julho” ou “bolsa de verão para usar no trabalho e depois no happy hour”. Com sede em Nova York e São Francisco, a Daydream é uma das mais novas empresas a usar IA para tornar as compras on-line mais simples e personalizadas.E o mercado está receptivo: segundo uma pesquisa da Adobe Analytics com 5 mil consumidores norte-americanos, 39% afirmaram já ter usado ferramentas de IA generativa para fazer compras on-line no ano passado — e 53% planejam usar este ano.Competindo com os gigantesA Daydream entra em um território disputado. Grandes empresas como Meta, Amazon, Google e OpenAI já oferecem soluções de IA para facilitar a experiência de compra. A Meta, por exemplo, usa IA para ajudar vendedores a listar produtos e mostrar anúncios mais relevantes aos usuários.O OpenAI lançou um assistente que faz compras em nome do usuário em diferentes sites, e a Amazon está testando uma funcionalidade parecida. O Google também vem investindo pesado, com ferramentas que incluem rastreamento de preços, busca por imagem em redes sociais e provadores virtuais.Mas, segundo a CEO da Daydream, Julie Bornstein, o diferencial da empresa está no profundo conhecimento que ela e sua equipe têm dos setores de moda e varejo.Bornstein foi vice-presidente de e-commerce da Nordstrom, trabalhou em cargos executivos na Sephora e Stitch Fix e, em 2018, cofundou sua primeira startup de IA para compras, The Yes, vendida ao Pinterest em 2022. “As grandes empresas não têm as pessoas, a mentalidade e a paixão necessárias para fazer a moda funcionar com recomendações via IA”, afirmou Bornstein à CNN. “Como passei minha carreira inteira nesse setor, sei que ter um catálogo completo e conseguir mostrar o produto certo para a pessoa certa é o que realmente facilita a experiência de compra.”A Daydream já arrecadou US$ 50 milhões em sua rodada inicial de investimentos, com apoio de nomes como o Google Ventures e a modelo e empreendedora Karlie Kloss, fundadora do projeto Kode With Klossy.Como funcionaA plataforma, gratuita, funciona como um personal stylist digital. O usuário pode digitar o que procura em linguagem natural — sem necessidade de operadores de busca complicados — ou até mesmo enviar uma foto de inspiração. A partir daí, o sistema apresenta sugestões de mais de 8.000 marcas parceiras, que vão da Uniqlo à Gucci.É possível continuar a conversa com o assistente virtual para refinar a busca, pedindo, por exemplo, alternativas mais casuais ou acessíveis. Com o tempo, a plataforma aprende com o comportamento do usuário — como histórico de buscas, cliques e produtos salvos — para oferecer recomendações mais precisas.Quando chega a hora da compra, o usuário é redirecionado para o site da marca, e a Daydream recebe uma comissão de 20% sobre a venda. Diferente de outras gigantes do e-commerce, Bornstein evita ranqueamentos baseados em anúncios pagos. “Queremos que o produto apareça na recomendação porque combina com o cliente, não porque a marca pagou por isso”, diz. “Assim que a Amazon começou com os patrocínios pagos, eu pensei: ‘Como vou saber qual é o produto realmente bom?’”Em um teste recente feito pela CNN, a busca por “camisa branca ajustada, de botão, sem bolsos, para usar no escritório” levou a uma peça da marca Theory por US$ 145 que se encaixava bem no pedido. Já a busca por “vestido para mãe da noiva em um casamento de verão na Califórnia” apresentou opções formais, mas também algumas escolhas curiosas, como vestidos de alça finos e brancos, mais apropriados para uma despedida de solteira.Bornstein reconhece que a tecnologia ainda está em evolução e que o feedback dos usuários é essencial para melhorar o sistema. “Queremos entender como as pessoas usam a plataforma para saber onde estamos acertando e onde precisamos melhorar”, explica. Parte desse processo, segundo ela, envolve treinar o modelo para entender expressões mais subjetivas — como “um vestido para viajar à Grécia em agosto” (o que implica um clima quente) ou “um casamento black-tie” (que exige trajes formais).Próximos passosA versão web da Daydream foi lançada ao público no mês passado, ainda em fase beta, e a empresa planeja lançar o aplicativo oficial no outono americano.O futuro, segundo Bornstein, vai além das compras: ela acredita que a IA poderá ajudar os consumidores a montar looks inteiros com base no que já têm no guarda-roupa ou nas peças que estão considerando adquirir. “Essa foi uma das minhas primeiras ideias, mas eu ainda não conhecia o termo ‘IA generativa’, nem sabia que um modelo de linguagem seria a chave para isso”, conclui.Exposição em Londres revela segredos dos looks da rainha Elizabeth II