Pole dance e diária de R$ 3.600: motéis de Belém viram hospedagem na COP30

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A suíte, com lençóis brancos e sabonetes pequenos, poderia passar por um hotel simples qualquer, não fosse pelo teto espelhado e o mastro de pole dance ao lado da cama.A decoração do Motel Secreto, nos arredores de Belém (PA), costuma servir de pano de fundo para encontros furtivos na hora do almoço, casos extraconjugais e casais apaixonados em busca de algumas horas de privacidade longe das casas familiares apertadas.Mas o motel, assim como outros espalhados pela capital paraense, está agora adaptando quartos que vão do sensual ao ousado para um público bem diferente: diplomatas, cientistas do clima, servidores públicos e ativistas ambientais que chegarão à cidade em novembro para a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática, a COP30.“Estamos tirando qualquer coisa muito erótica dos quartos”, disse Yorann Costa, 30, dono do Motel Secreto. “E a localização é perfeita.”A cúpula, a primeira realizada na região amazônica, fez Belém correr para se preparar para os milhares de visitantes esperados. Para atender à demanda, autoridades prometeram quase triplicar a oferta de leitos — de 18 mil em 2023 para 50 mil durante o evento.À medida que o encontro se aproxima, porém, a incerteza sobre a capacidade de hospedagem elevou os preços para mais de US$ 1.000 por noite e provocou alertas de crise diplomática, com delegações de países pobres — os mais afetados pelas mudanças climáticas — reclamando dos valores exorbitantes.Para conter os ânimos, o governo brasileiro anunciou acordo com dois navios de cruzeiro, que oferecerão cerca de 6 mil leitos adicionais a preços subsidiados, de até US$ 220 por noite, inicialmente destinados a países em desenvolvimento e insulares.Uma jacuzzi em forma de coração em uma das suítes de luxo do Secreto, um motel para casais em Belém, Brasil, 25 de junho de 2025. (María Magdalena Arréllaga/The New York Times)Novos hotéis estão sendo construídos e antigos, reformados. Escolas estão recebendo camas, clubes esportivos estão sendo transformados em alojamentos e moradores estão adaptando suas casas para aluguel. Ainda assim, a menos de quatro meses do evento, grande parte das obras segue inacabada, e a cidade ainda está milhares de leitos abaixo da meta.Nesse cenário, os motéis — estabelecimentos que cobram por hora e costumam dispensar recepção ou academia — estão se adaptando para preencher a lacuna, reformando parte dos 2.500 quartos disponíveis para receber os visitantes da cúpula.“É hora de somar forças”, disse André Godinho, representante de Belém na organização da COP30. “A possibilidade de um motel ser usado como hospedagem não é feia, não é errada. É parte da solução.”Os motéis cresceram no Brasil durante a ditadura militar, quando casas eram frequentemente vigiadas. Tornaram-se comuns no país, onde muitos jovens moram com os pais até a vida adulta.Inspirados nos motéis de beira de estrada dos EUA e nos motéis japoneses, os motéis brasileiros ganharam fama por suas tarifas acessíveis e decoração romântica ou provocante.Numa tarde recente em Belém, as reformas para deixar os motéis menos sensuais estavam em plena atividade. No Fit Motel, camas redondas foram encostadas nas paredes para dar lugar a colchões retangulares convencionais.No Love Lomas, poucos quilômetros adiante, os quartos recebiam nova pintura e roupas de cama limpas. Na suíte premium, as luzes coloridas piscantes seriam mantidas, mas os hóspedes poderiam pedir a retirada da “cadeira erótica” — um misto de cadeira de dentista com correias de couro fixadas ao chão.“As pessoas acham que é um prostíbulo”, disse Ricardo Teixeira, 49, administrador dos dois motéis e entusiasta de melhorar sua imagem. Ele ainda não decidiu se vai trocar o cardápio dos quartos, que inclui cervejas, hambúrgueres e aluguel de brinquedos eróticos.Um quarto no motel do amor Acrópole, atualmente em reforma em Belém, Pará, na Amazônia brasileira, antes da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, em 24 de junho de 2025. (María Magdalena Arréllaga/The New York Times)No Motel Secreto, Costa adaptou uma suíte com beliches e retirou um quadro com as nádegas de uma pessoa. Mas decidiu manter o mastro de dança, o papel de parede de oncinha e a banheira vermelha em formato de coração. “Tenho que pensar no pós-COP30”, afirmou. “Não posso gastar uma fortuna e arrancar tudo.”Ao sair de uma suíte por um corredor escuro, Costa se desculpou ao som de gemidos vindos dos quartos ocupados, identificados por luzes vermelhas piscando. “Pode ficar um pouco constrangedor”, sussurrou. “Tem gente fazendo amor.” Essas luzes, segundo ele, também serão mantidas.Até agora, poucos visitantes confirmaram reservas em motéis. Delegações de ao menos seis países demonstraram interesse, segundo donos de motéis e corretores, mas poucas efetivaram as reservas.Mesmo com poucas opções, muitos ainda resistem à decoração sugestiva, explicou a corretora Giselle Robledo. “As embaixadas são bem conservadoras”, disse. “Não querem ficar em motel.”Um quarto no motel do amor Acrópole, atualmente em reforma em Belém, Pará, na Amazônia brasileira, antes da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, em 24 de junho de 2025. (María Magdalena Arréllaga/The New York Times)Há também a questão dos preços. Apesar dos alertas do governo, muitos motéis continuam cobrando centenas de dólares por noite. “Os preços estão absurdos, precisam voltar à realidade”, afirmou Robledo.Casais que frequentam motéis em Belém normalmente pagam de US$ 10 a US$ 35 pela primeira hora; uma noite na suíte premium custa mais de US$ 150. Mas, durante a COP30, alguns donos esperam cobrar de US$ 300 a US$ 650 por noite.“O mercado está definindo esses preços”, disse Teixeira, que também é diretor regional da associação brasileira de motéis. “E ainda é mais barato que um hotel.”Em um hotel três estrelas do outro lado da rua do centro de convenções, as diárias estão em US$ 1.250, segundo sites de reservas. “A demanda está insana”, relatou o gerente Jeimison Louseiro, cujo senhorio pediu o apartamento de volta para alugá-lo durante a COP.Costa, por sua vez, não tem dúvidas de que os visitantes vão mudar de ideia e lotar seu motel. “Infelizmente, não vai ter quarto para todo mundo”, disse. “E o que a gente está oferecendo é uma opção.”c.2025 The New York Times CompanyThe post Pole dance e diária de R$ 3.600: motéis de Belém viram hospedagem na COP30 appeared first on InfoMoney.