Por Folha de São Paulo 31/07/2025 21h00 — emArte e CulturaPARATY, RJ (FOLHAPRESS) - Era difícil fazer convergirem os dois autores convidados para a mesa das 19h desta quinta-feira na Flip -duas pessoas de repertórios, estilos e origens muito diferentes. Mas a saída estava bem ali, evidente: era só falar sobre ser uma pessoa comum.O italiano Sandro Veronesi e o brasileiro Pedro Guerra foram mediados pela jornalista Gabriela Mayer, apresentadora do podcast Café da Manhã, da Folha de S.Paulo, numa mesa algo destoante que acabou se afinando em uma celebração do ordinário.Veronesi é um dos autores mais premiados de seu país. Ganhou duas vezes o prêmio Strega, o mais importante da Itália, pelos romances "Caos Calmo" e "O Colibri", que virou um fenômeno de boca a boca no Brasil ao ser editado pela Autêntica Contemporânea. Guerra está ascendendo agora na cena literária, com "O Maior Ser Humano Vivo", da Record.A mesa começou com uma leitura de trechos que apresentaram bem o contraste entre os autores. Veronesi leu um trecho da "tradução mais importante feita pelo seu protagonista". Traduziu, para a plateia da Flip, uma canção de Harry Belafonte que tocou ao vivo no som do auditório. Descrevia o primeiro momento em que o protagonista do novo "Setembro Negro" tocava o cabelo da menina por que estava apaixonado.Guerra leu um trecho mais despachado, em que o protagonista fazia um stand-up diante do público sobre seus sete anos de advogado -a plateia da festa riu onde se emocionou no trecho tocante lido pelo italiano. Em comum, tinham o fato de serem histórias de gente... comum."As pessoas são quase todas ordinárias aos olhos das outras. É difícil pensar no outro como alguém extraordinário, ao menos que você o conheça. Não quero machucar ninguém, mas eu sabia muito bem que Paolo Rossi era extraordinário quando era jovem", disse, em referência ao jogador italiano que morava na cidade em que cresceu e foi algoz da seleção brasileira em 1982.O italiano, convidado internacional que era uma das estrelas mais esperadas dessa Flip, teve maior destaque que sua contraparte, fazendo discursos mais longos, bem recebidos pelo público. A certa altura, fez uma breve revisão da história da literatura mundial, contando que no início os livros pertenciam só à aristocracia, depois passaram à burguesia quando ela passou a ler.O grande marco da virada da literatura do "extraordinário para o ordinário" veio segundo ele de um poema de W.H. Auden, "Ao Cidadão Desconhecido", um retrato trágico de um homem qualquer. Depois disso, afirmou Veronesi, "o século 20 foi o século das pessoas comuns"."Os fatos contados muitas vezes se entrelaçam com a história com 'H' maiúsculo, mas eles continuam sendo seu vizinho, seu parente ou você mesmo. A literatura levou séculos para fazer essa mudança."Marco Carrera, protagonista do sucesso "O Colibri", não sabe como comunicar o que lhe acontece de extraordinário. "A única coisa heroica que pode fazer é suportar. O heroísmo está na aceitação, no fato de que apesar do que o atingiu, você dá mais um passo e mais um.""O herói não existe, se você colocar uma lupa nele", afirmou Guerra. Todo mundo se reconhece em sua normalidade, segundo ele. "Por mais que nós tenhamos diferentes pontos de vista e venhamos de lugares diferentes, tem algo que nos conecta. A gente gosta de ser amado, de amar, de vencer na vida, temos medo. Existe uma linguagem comum a cada uma das pessoas."Por isso Veronesi acabou se lembrando de seus leitores que o abordam em sessões de autógrafos dizendo que ele havia contado a história deles. "Mas como é possível eu inventar uma história e a pessoa dizer que viveu aquilo? É que aquelas pessoas já viveram aquela emoção. Você só traz isso à tona."O livro é também de autoria do leitor, defendeu Veronesi, e só se completa com as emoções dele. Por isso seu maior interesse é "se jogar dentro de personagens diferentes" dele mesmo. "Eu faço o contrário da autoficção, faço autoimaginação."Ou, parafraseando uma frase simbólica que colheu de um conterrâneo seu, resumiu: "Se me pedissem de volta aquilo que não é meu, não me sobraria nada".FESTA LITERÁRIA INTERNACIONAL DE PARATY 2025Quando Até 3 de agostoOnde Centro Histórico de Paraty (RJ)Preço De R$ 39 a R$ 135 por mesaIngressos e mais informações flip.org.brBastidores da PolíticaXandão vive o seu maior pesadelo"; // imagens[1] = // ""; // imagens[4] = // ' source src = "/sites/all/themes/v5/banners/videos/vt-garcia-07-2023.mp4" type = "video/mp4" >'; // imagens[2] = // ""; // imagens[4] = // ""; // imagens[3] = // ""; // imagens[4] = // ""; index = Math.floor(Math.random() * imagens.length); document.write(imagens[index]);//]]>O Portal do Holanda foi fundado em 14 de novembro de 2005. Primeiramente com uma coluna, que levou o nome de seu fundador, o jornalista Raimundo de Holanda. Depois passou para Blog do Holanda e por último Portal do Holanda. Foi um dos primeiros sítios de internet no Estado do Amazonas. É auditado pelo IVC e ComScore.