O produto químico tóxico diquat, utilizado como substituto do glifosato em herbicidas nos Estados Unidos, causa diversos tipos de danos a órgãos e elimina bactérias intestinais, segundo uma nova pesquisa.Esse composto tem sido amplamente pulverizado em pomares e vinhedos, com uso crescente à medida que substâncias controversas como o paraquat e o próprio glifosato vêm sendo aplicadas com menor frequência, informou o The Guardian.“O diquat é um herbicida bipiridílico amplamente utilizado, amplamente aplicado na produção agrícola e no manejo de recursos hídricos devido à sua alta eficácia no controle de plantas daninhas. No entanto, sua persistência ambiental e os efeitos tóxicos que induz têm gerado preocupação generalizada”, escreveram os autores da análise. “Estudos mostram que o diquat entra no corpo principalmente pelo trato digestivo, levando à intoxicação.”Foto: PixabayApesar de pesquisas recentes indicarem que o diquat pode ser ainda mais tóxico que o glifosato, a Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA) tem resistido à proibição desse produto químico, que atualmente está presente no herbicida comum Roundup, segundo o The Guardian. Devido aos riscos associados, o diquat já foi proibido na União Europeia, na China, no Reino Unido e em vários outros países.“Do ponto de vista da saúde humana, essa substância é muito mais nociva que o glifosato, então estamos vendo uma substituição lamentável, e a estrutura regulatória ineficaz está permitindo isso”, afirmou Nathan Donley, diretor científico do Centro para Diversidade Biológica, conforme relatado pelo The Guardian.Uma análise dos dados da EPA, feita pela organização Friends of the Earth em outubro, apontou que o diquat apresenta cerca de 200 vezes mais toxicidade que o glifosato em casos de exposição crônica. Acredita-se que esse produto químico seja uma neurotoxina cancerígena, possivelmente associada ao desenvolvimento da doença de Parkinson. Leia também: 1.Cientistas descobrem herbicida natural que pode substituir glifosato 2.Cabras são mais eficientes do que herbicidas no controle de pragas A Bayer, responsável pela fabricação do Roundup, já enfrentou quase 170.000 processos judiciais movidos por usuários do produto, que alegam ter sofrido danos à saúde. A empresa reformulou o Roundup após o glifosato ter sido classificado como possível carcinógeno pela Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer.A nova revisão científica foca em como o diquat prejudica bactérias e órgãos intestinais. “O mecanismo central de sua toxicidade envolve o estresse oxidativo induzido por espécies reativas de oxigênio (ERO), que não apenas danifica diretamente a função da barreira intestinal, mas também agrava a inflamação e a toxicidade sistêmica ao interromper o equilíbrio da microbiota intestinal e a produção normal de produtos metabólicos”, escreveram os autores no estudo.O diquat reduz os níveis de proteína intestinal, permitindo que toxinas e patógenos entrem na corrente sanguínea através do estômago, o que desencadeia inflamações tanto no intestino quanto em outras partes do corpo. Os danos ao revestimento intestinal comprometem a absorção de nutrientes e o metabolismo energético, segundo os pesquisadores.Foto: Vitor Dutra Kaosnoff | PixabayAlém disso, o diquat prejudica os pulmões e o fígado, e “causa danos estruturais e funcionais irreversíveis aos rins” ao destruir membranas e interferir nos sinais celulares. A inflamação provocada pelo diquat também parece atingir os pulmões, podendo resultar na síndrome de disfunção de múltiplos órgãos. Os autores do estudo destacaram a necessidade de mais pesquisas sobre os efeitos da exposição prolongada a pequenas quantidades de diquat. A EPA não está conduzindo uma revisão sobre esse produto químico, que vem sendo amplamente ignorado por organizações sem fins lucrativos que pressionam por regulamentações mais rigorosas de pesticidas.Segundo Donley, essa negligência se deve, em parte, à fragilidade das regulamentações de pesticidas nos Estados Unidos, onde o diquat é “ofuscado” por substâncias como o paraquat, o glifosato e o clorpirifós — ingredientes já banidos em outras regiões e atualmente envolvidos em disputas judiciais.“Outros países proibiram o diquat, mas nos EUA ainda estamos travando as lutas que a Europa venceu há 20 anos”, disse Donley, conforme reportado pelo The Guardian. “Isso ainda não chegou ao radar da maioria dos grupos, e isso realmente diz muito sobre o triste e lamentável estado dos pesticidas nos EUA.”The post Ingrediente de herbicidas afeta órgãos e intestino, indica estudo appeared first on CicloVivo.