Na indústria da madeira, demissões e férias coletivas após tarifaço

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A indústria brasileira de madeira processada já vem se antecipando aos impactos do tarifaço comercial imposto pelo governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que deve entrar em vigor na próxima sexta-feira, dia 1º de agosto.Na semana passada, a Sudati anunciou a dispensa de 100 funcionários de suas fábricas nas cidades de Ventania e Telêmaco Borba, no estado do Paraná. O motivo alegado para as demissões é justamente a tarifa de 50% a ser cobrada de todos os produtos brasileiros exportados para os EUA.As duas unidades atingidas produzem compensados de madeira, painéis de camadas finas de lâminas de madeira sobrepostas. Os EUA são um dos principais mercados de atuação da companhia.De acordo com a Sudati, as demissões serão efetuadas gradualmente, ao longo dos próximos 60 dias.Além das unidades em Ventania e Telêmaco Borba, a Sudati produz compensados de madeira em Palmas (no sul do Paraná) e Ibaiti (na região norte do estado). A empresa conta ainda com uma fábrica de MDF em Otacílio Costa (Santa Catarina).“O atual cenário econômico tem exigido das indústrias maior eficiência e resiliência a uma demanda mais retraída até a definição de início de vigência ou negociação de tais tarifas. Após cuidadosa análise, a medida se mostrou necessária para garantir o equilíbrio financeiro e a sustentabilidade da operação, sem comprometer os compromissos com clientes, fornecedores e parceiros”, justificou a Sudati.A companhia produz anualmente cerca de 600 mil m³ de madeira e tem uma força de trabalho de 2,8 mil funcionários.Segundo a Sudati, trata-se de um “plano de adequação para enfrentamento às incertezas relacionadas à imposição de significativo aumento de tarifas pelos EUA, um dos principais mercados de atuação da empresa”. Leia também Negócios EUA: café, cacau e recursos naturais poderão ficar isentos do tarifaço Negócios “Tudo pronto até 6ª”, diz secretário do Comércio dos EUA sobre tarifas Negócios Tarifaço: setor de suco de laranja pode ter prejuízo de R$ 4,3 bilhões Paulo Cappelli Lula reunirá governadores para discutir tarifaço, diz Carlos Brandão Paralisação total em vários casos, alerta entidadeEm nota divulgada recentemente, a Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente (Abimci), que representa os setores de madeira processada e base florestal, afirmou que 90% da produção está concentrada nos três estados do Sul do Brasil (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul). Atualmente, o Brasil exporta cerca de 50% dos produtos para os EUA.“A maioria dos contratos estão sendo cancelados pelos importadores norte-americanos e muitos embarques foram suspensos. Para piorar a situação, atualmente, o setor possui, aproximadamente, 1.400 contêineres com produtos já embarcados e em trânsito marítimo para os Estados Unidos. Além disso, em torno de 1.100 contêineres estão posicionados em terminais portuários aguardando embarque”, diz a entidade.“A produção está sendo reduzida em praticamente todo o setor e, em vários casos, com paralisação total. Neste momento, nosso grande desafio é lutar pela manutenção dos empregos e continuidade das atividades industriais”, completa a Abimci.Ainda de acordo com dados da entidade, a indústria da madeira é responsável por cerca de 180 mil empregos diretos no Brasil.Outras empresasA BrasPine, que também atua no setor de madeira, anunciou férias coletivas para 1,5 mil de seus 2,5 mil funcionários nas fábricas de Telêmaco Borba e Jaguariaíva (também no Paraná).A empresa informou que a medida teve de ser tomada por causa da perda de competitividade diante de outros países exportadores que operam sob taxas menores.A Millpar é outra empresa que optou pelas férias coletivas para 720 funcionários (de um total de 1,1 mil) nas unidades de Guarapuava e Quedas do Iguaçu, no Paraná.Tarifaço contra o BrasilO Brasil é o país que foi alvo das maiores taxas. Donald Trump anunciou a aplicação de tarifas extras de 50% sobre todos os produtos exportados pelo Brasil aos norte-americanos. Até o momento, não houve avanço significativo nas negociações entre os governos brasileiro e dos EUA.Os EUA também instauraram investigação comercial, aberta pelo Escritório do Representante de Comércio dos EUA (USTR, na sigla em inglês), a pedido de Trump. O governo norte-americano afirma que a análise pretende investigar supostas práticas comerciais desleais do Brasil em relação aos EUA e cita como exemplo as recentes disputas judiciais envolvendo plataformas digitais.