Os olhos do mercado global estão voltados para a chamada “superquarta” nesta quarta-feira (31/7), dia em que o Federal Reserve (Fed), banco central dos Estados Unidos, e o Copom, no Brasil, anunciam suas decisões de política monetária. O impacto pode ser ainda mais significativo para o investidor brasileiro, especialmente diante da iminência do tarifaço de 50% anunciado por Donald Trump contra produtos brasileiros.Para o Brasil, o mercado financeiro aposta que o Copom encerrará o ciclo de alta e deixará a Selic no mesmo patamar, em 15% ao ano. Nos EUA, economistas também apostam que a taxa será mantida entre 4,25% e 4,50% ao ano.Há expectativa sobre como os comitês monetários vão interpretar os efeitos de políticas comerciais mais agressivas sobre a inflação. O presidente norte-americano vem sendo pressionado por empresários a reduzir as tarifas, especialmente em relação ao Brasil, alvo da alíquota mais alta, de 50%. Eles argumentam que as medidas elevam os custos e podem pressionar os preços — sobretudo em um cenário de juros altos. Leia também Brasil Brasil acima de tudo, mas primeiro nos EUA, diz Lula sobre Bolsonaro Brasil Terras raras: Lula critica interesse dos EUA e diz estudar exploração Brasil Governo Lula garante que diálogo com EUA não tem viés ideológico São Paulo Lula diz que Alckmin liga para EUA, mas ninguém quer conversar com ele Para o professor de economia internacional da Hayek Global College, Maurício F. Bento, a tensão em torno das decisões monetárias vai além da política econômica:“Diante da superquarta, o embate entre presidentes e bancos centrais se torna mais que uma disputa pontual — revela uma tensão estrutural entre os ciclos eleitorais e as diretrizes da política monetária”, avalia.Fed X Banco CentralNo Brasil, Lula tem intensificado suas críticas à taxa Selic, atualmente em 15% ao ano, alegando que os juros estão sufocando o crédito, os investimentos e o crescimento. Segundo o professor, cada ponto percentual adicional na Selic representa um impacto de quase R$ 50 bilhões no déficit e, consequentemente, na dívida pública.“O Banco Central, por sua vez, mantém o foco na meta de inflação de 3%, com intervalo de tolerância de 2% para cima ou para baixo. Apesar das críticas, o governo evita alterar essa meta — uma mudança que exigiria aprovação do Conselho Monetário Nacional e que poderia trazer um custo político elevado, tornando o governo alvo de críticas com uma possível leniência com a inflação”, explica o economista.O professor aponta que, diferentemente do Fed, o BC tem como prioridade a estabilidade de preços, “dando menos peso a outros indicadores relacionados à atividade econômica, mesmo que isso implique em desaceleração e restrição ao crédito”.7 imagensFechar modal.1 de 7Presidente LulaPresidência da República2 de 7Bolsonaro e Trump Chris Kleponis-Pool/Getty Images3 de 7Ursula von der Leyen e Donald TrumpAndrew Harnik/Getty Images4 de 7O presidente Lula, o vice Geraldo Alckmin, ministros e deputados da base exibem a bandeira do Brasil em OsascoReprodução/ Redes Sociais5 de 7Tarifaço: Trump anuncia acordo comercial com a Filipinas Chip Somodevilla / Getty Images6 de 7Proposta é focada em micro empreendedoresAlex Ibañez/Governo do Chile7 de 7Divulgação/Ricardo Stuckert/PRJá nos Estados Unidos, Trump tem adotado uma postura ainda mais agressiva. Chamou o presidente do Fed, Jerome Powell, de “idiota” e “perdedor”, e chegou a cogitar sua demissão — uma medida sem precedentes e juridicamente controversa.“Embora tenha recuado publicamente, dizendo que a demissão é ‘altamente improváve’”, a ameaça permanece no ar e já provocou reações negativas em Wall Street. Trump argumenta que os juros deveriam estar em torno de 1%, bem abaixo da faixa atual de 4,25% a 4,50%, e afirma que essa redução poderia gerar uma economia de US$ 800 bilhões por ano ao governo americano”, diz o especialista.Bento aponta que o Fed, no entanto, resiste à pressão, alegando que a inflação — atualmente em 2,7% ao ano — ainda não está suficientemente controlada, e que o mercado de trabalho segue aquecido. Ao contrário do BC, o banco central americano busca equilibrar a redução de preços com o estímulo à atividade econômica, adotando uma abordagem dual mais tolerante com variações na taxa de juros.Negociações Brasil e EUATrump, quando impôs a tarifa de 50% ao Brasil, o fez baseado em dois argumentos: a suposta balança comercial injusta entre os EUA e o Brasil e o que ele chamou de perseguição do sistema judicial ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Diante disso, as negociações entre os dois países não indica avanços. A taxa de 50% sobre todas as importações brasileiras entra em vigor nesta sexta-feira, 1º de agosto.Nessa terça-feira (29/7), o ministro da Fazenda Fernando Haddad avaliou que ainda não está claro o que o governo americano está pedindo para negociar com o Brasil. De acordo com ele, só é possível sentar à mesa quando se entende o que os interlocutores estão pedindo.A ministra da Secretaria de Relações Institucionais (SRI), Gleisi Hoffman, reforçou, nessa terça, que a soberania nacional “não se negocia”, em meio às tratativas do presidente Lula para contornar o tarifaço que pode ser imposto ao Brasil por Donald Trump.Gleisi disse que o governo de Donald Trump “ameaça” o Brasil com tarifas “que não se justificam sob qualquer argumento objetivo” e que são “verdadeiras sanções com motivação política explícita e igualmente injustificável”.Enquanto isso, o presidente dos Estados Unidos afirmou que decidiu taxar o Brasil em 50%, a maior taxa dentre as anunciadas a 24 países, porque ele pode fazer isso e quer “dinheiro entrando” no país.“Estamos fazendo isso porque eu posso fazer. Ninguém mais seria capaz. Temos tarifas em vigor porque queremos tarifas e queremos o dinheiro entrando nos EUA”, disse Trump no gramado da Casa Branca, após ser questionado sobre o motivo da taxação diferenciada ao Brasil.