O governo federal analisa quais podem ser as “cartas” a serem usadas na mesa de negociação com os norte-americanos para reverter a tarifa dos EUA sobre os produtos brasileiros. As taxação de 50% entra em vigor em 1° de agosto. Uma das principais estratégias envolve os minerais críticos e estratégicos (MCEs), especialmente as chamadas “terras raras” – conjunto de 17 elementos essenciais para as indústrias automotiva e de energia.Na última quarta-feira (23/7), o governo dos EUA voltou a demonstrar interesse nos MECs do Brasil. O recado foi transmitido pelo encarregado de negócios da embaixada norte-americana em Brasília, Gabriel Escobar, durante reunião com representantes do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram). Leia também Brasil Terras raras: o que são e por que despertam o interesse dos EUA Ciência Por que elementos de terras raras são tão importantes Ponto de vista Terras Raras de MG: novos horizontes para a transição energética Mirelle Pinheiro Policiais são suspeitos de sequestro e tortura por carga de minério Dados do Ibram e Centrorochas mostram que o setor de rochas registrou US$ 711 milhões em exportações em 2024 aos Estados Unidos, um crescimento de 17% em relação ao ano anterior, o que representa 57% das exportações de rochas brasileiras. O Espírito Santo é o principal polo, que responde por mais de 94% desse volume.5 imagensFechar modal.1 de 5Presidente dos EUA, Donald TrumpKevin Dietsch/Getty Images2 de 5Veja a íntegra do que disse Trump sobre Lula e BolsonaroReprodução3 de 5Donald Trump, presidente dos Estados UnidosChip Somodevilla/Getty Images4 de 5Anna Moneymaker/Getty Images5 de 5Presidente dos Estados Unidos, Donald TrumpReproduçãoSegundo o Centrorochas, desde o anúncio da medida tarifária, em 9 de julho, estima-se que cerca de 60% dos embarques de rochas naturais brasileiras com destino ao mercado norte-americano tenham sido suspensos. A previsão é que, até o fim do mês, o setor deixe de embarcar cerca de 1.200 contêineres, o que pode representar uma redução de até US$ 40 milhões nas exportações brasileiras de julho.Importância das terras raras?As terras raras formam um grupo de 17 elementos químicos essenciais para diversos produtos modernos.O uso mais importante dessas substâncias está na fabricação de ímãs permanentes. Potentes e duráveis, esses ímãs mantêm suas propriedades magnéticas por décadas. Com eles, é possível produzir peças menores e mais leves, algo essencial por exemplo, para turbinas eólicas e veículos elétricos.Esses elementos também são fundamentais para a indústria de defesa. Estão presentes em aviões de caça, submarinos e equipamentos com telêmetro a laser.O quilo de neodímio e praseodímio custa cerca de 55 euros (R$ 353). Já o de térbio pode ultrapassar 850 euros (R$ 5.460). Para comparação, o minério de ferro custa cerca de R$ 0,60 o quilo.Praticamente todas as grandes inovações da atualidade dependem de minerais críticos. É justamente por isso que as maiores potências do mundo têm se movido para garantir acesso.Apesar do nome, as terras raras não são exatamente raras e estão espalhadas por todo o mundo. O desafio é encontrar depósitos onde a extração seja economicamente viável.Para o diretor de Geologia e Recursos Minerais do Serviço Geológico do Brasil, Valdir Silveira, o Brasil possui condições de usar a carta dos minérios críticos para negociar com os EUA diante do “tarifaço”. Ele destaca que o país é visto como um grande fornecedor de matérias-primas, como terras raras e nióbio, recursos essenciais para setores de alta tecnologia.“Como país soberano, o Brasil pode sim usar como moeda de troca e tirar proveito dessa situação atual”, afirmou Silveira.O diretor do Serviço Geológico do Brasil ressaltou ainda que o Brasil é um parceiro confiável e multilateral, qualificado para ocupar espaço no cenário geopolítico atual. Ele cita que o governo atual tem defendido a inserção do país em temas globais, como transição energética e segurança alimentar, onde os minerais brasileiros são indispensáveis. “Não haverá transição energética se nessa equação o Brasil não tiver inserido”, declarou,EUA e LulaEm fala sobre o tema nesta semana, o presidente Luiz Inácio Lula da SIlva (PT), afirmou que que os minerais estratégicos brasileiros, como o lítio e o nióbio, devem ser protegidos, pois são do povo brasileiro.“Temos todo o nosso petróleo para proteger. Temos todo o nosso ouro para proteger. Temos todos os minerais ricos que vocês querem para proteger. E aqui ninguém põe a mão. Este país é do povo brasileiro”, disse Lula.Victor Taranto, advogado especialista em direito minerário, destaca que os EUA estão em busca de alternativas para reduzir sua dependência de minerais estratégicos da China, o que coloca o Brasil em posição vantajosa. “A elevada dependência em relação à Pequim tem impulsionado Washington a buscar fontes mais seguras e politicamente alinhadas”, afirma. Ele ressalta que o país pode usar esse cenário como moeda de barganha.Sobre a postura do Brasil nas negociações, Taranto avalia que as tarifas impostas pelos EUA têm motivação política, não apenas econômica. “Ainda que o Brasil mantenha déficit comercial com os americanos, foi incluído nessas medidas, o que mostra que o critério não foi puramente comercial”, observa.O especialista aponta que, além dos minerais críticos, o país pode explorar outros ativos, como sua capacidade agroindustrial e parcerias em energia limpa, mas pondera, “Tais trunfos não garantem a reversão das tarifas, já que os interesses da política externa norte-americana são mais amplos”.