Morte no lixão e lesões graves: DF tem 1 acidente de trabalho por hora

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O Dia Nacional de Prevenção de Acidentes de Trabalho, celebrado neste domingo (27/7), representa a luta histórica de uma classe de brasileiros que reivindicam melhores condições de saúde e segurança no ambiente laboral.A data tem como objetivo chamar a atenção para a necessidade de reduzir os índices de acidentes, doenças e fatalidades relacionadas ao trabalho, bem como para os custos decorrentes desses casos.Em 2024, segundo relatório do Centro de Referência em Saúde do Trabalhador do Distrito Federal (Cerest-DF), a capital do país teve 12.982 registros de doenças ou acidentes associados ao meio laboral.Todos os dias, no Distrito Federal, ao menos 36 trabalhadores sofrem algum acidente durante o serviço. Os números representam uma média de 1.082 casos por mês ou um a cada hora.Chefe na Diretoria de Saúde do Trabalhador (Disat), vinculada à Secretária de Saúde do Distrito Federal (SES-DF), Elaine Faria Morelo diz que a data, instituída em 1972, reforça o compromisso com a valorização da vida e com ambientes laborais mais seguros.“Quando falamos em um aumento de mais de 150% nos casos, na verdade, trata-se de um crescimento no número de registros. Ainda temos uma grande subnotificação ao contabilizar agravos e acidentes relacionados ao trabalho. Temos feito ações junto a empresas e hospitais para mostrar importância do tema”, ressalta Elaine.A diretora acrescenta que a notificação dos casos envolve uma obrigação legal e que os dados ajudam no planejamento de medidas de prevenção, bem como no direcionamento de políticas públicas e em intervenções.“A prevenção a acidentes de trabalho não é apenas uma responsabilidade legal, é uma causa de justiça social. O profissional tem o direito a um ambiente saudável e seguro para que possa desenvolver as atividades”, lembra. Leia também Distrito Federal Jovem de 21 anos morre em acidente de trabalho no lixão da Estrutural Distrito Federal Acidente de trabalho deixa dois feridos em Ceilândia Distrito Federal DF registrou 34 mortes e 8.946 acidentes no trabalho em apenas 1 ano Distrito Federal Técnico de som morre após sofrer descarga elétrica no Mané Garrincha PanoramaO cenário no restante do país também é crítico. No ano passado, o Brasil registrou 724.228 acidentes laborais, segundo dados do Anuário Estatístico do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).Desse total, 74,3% eram acidentes típicos; 24,6%, de trajeto; e 1% se referia a doenças ocupacionais, o que ainda revela uma grande dificuldade em reconhecê-las.As profissões mais afetadas pelas ocorrências desse tipo na capital federal são: pedreiros; técnicos de enfermagem; motociclistas de aplicativo; serventes de obras; empregados domésticos; e vendedores varejistas. Só no ano passado, 28 pessoas morreram no DF nesse contexto.Além disso, dados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) lançados em abril último estimam que uma notificação de morte no trabalho formal ocorre a cada três horas e meia no país.“Estatísticas como essas não podem ser tratadas simplesmente como um número. Acima de tudo, representam vidas e famílias impactadas. Mas também falamos de produtividade perdida e custos que poderiam ser evitados”, afirma Cristiene Travassos, especialista em segurança do trabalho e presidente da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (Cipa) de uma empresa do ramo de segurança privada e serviços terceirizados.Atualmente, o Brasil tem o maior número de normas regulamentadoras para saúde e segurança laboral. São quase 40. E, mesmo assim, o país está em quarto lugar no ranking mundial de mortalidade no trabalho, atrás apenas da China, Índia e Indonésia, respectivamente, segundo recente pesquisa da Organização Internacional do Trabalho (OIT).“Esse panorama traz à tona as barreiras e os inúmeros desafios enfrentados pelas organizações na adoção de uma cultura efetiva de saúde e segurança no trabalho. Capacitação contínua e diálogo aberto com os colaboradores são a base de qualquer programa de prevenção eficaz”, recomenda Cristiene Travassos.A especialista também observa: “É preciso que ocorram simulações realistas e que preparem o trabalhador para decisões rápidas em situações críticas. Além disso, empresas que enxergam EPIs [equipamentos de proteção individual] como gasto extra estão fadadas a pagar custos muito maiores com afastamentos e indenizações. Um colaborador bem treinado e equipado reduz riscos operacionais”.VítimasEm 19 de junho último, a morte de Ruan Victor da Costa Fernandes, 21 anos, enquanto trabalhava na Unidade de Recebimento de Entulhos (URE) – onde ficava o antigo Lixão da Estrutural (DF) – chamou a atenção para uma realidade cruel.O acidente aconteceu no início da tarde, justamente quando ele se preparava para sair no horário de almoço e ir para casa. Em meio ao movimento de máquinas pesadas da URE, um pneu estourou, e a parte metálica do aro atingiu a cabeça do jovem, que morreu antes da chegada do socorro.Veja imagens dele:3 imagensFechar modal.1 de 3Ruan Victor, 21 anos, trabalhava na Unidade de Recebimento de Entulhos (URE)Arquivo pessoal2 de 3Jovem morreu em 19 de julho de 2025, após ser atingido na cabeça por peça de pneu de trator, no antigo Lixão da EstruturalArquivo pessoal3 de 3Jovem era descrito pela família como alegre, tranquilo e sonhador. Ele queria conhecer o mundo e tirar fotos por onde passasseArquivo pessoalEm março, o técnico de som Renato Pena do Carmo, 32 anos, morreu após receber um choque elétrico. O acidente aconteceu durante a montagem de equipamentos para uma festa no Estádio Nacional Mané Garrincha.O que aconteceu na ocasiãoO acidente de trabalho aconteceu na tarde de 22 de março de 2025.Renato fazia a instalação de equipamentos sonoros para a Festa do Preto.Ele levou um choque elétrico e caiu inconsciente no local onde trabalhava.Acionado, o Corpo de Bombeiros Militar (CBMDF) prestou socorro à vítima, mas Renato não resistiu.Veja imagens do local:4 imagensFechar modal.1 de 4 VINÍCIUS SCHMIDT/METRÓPOLES @vinicius.foto2 de 4 VINÍCIUS SCHMIDT/METRÓPOLES @vinicius.foto3 de 4 VINÍCIUS SCHMIDT/METRÓPOLES @vinicius.foto4 de 4 VINÍCIUS SCHMIDT/METRÓPOLES @vinicius.fotoPor ironia do destino, a técnica de segurança no trabalho Marilene Alves Ferreira sofreu um acidente no trabalho, em dezembro de 2024. Ela teve o dedo indicador e o polegar direito lacerados, além de um nervo digital rompido, enquanto acompanhava as atividades de um funcionário que manuseava uma máquina de corte.O ocorrido deixou sequelas e uma porcentagem considerável do nervo comprometida. Ela ficou alguns dias afastada das atividades e, até hoje, recupera-se do trauma.“Faço recuperação com fisioterapia, mas sinto dormência e dificuldade para fechar a mão, além de insegurança em algumas atividades. Isso demonstra que todos correm risco de se ferir. Infelizmente, o corte nas mãos sempre foi uma das ocorrências mais comuns em um canteiro de obras”, afirma.O que fazerTrabalhadores vítimas de acidente de trabalho podem entrar com pedido de auxílio por incapacidade temporária, o auxílio-doença. O benefício é pago mensalmente a quem comprovar, por meio de perícia médica e por mais de 15 dias seguidos, estar temporariamente incapaz de exercer o trabalho ou outra atividade habitual.Na perícia médica, será avaliado o tipo de benefício necessário: temporário (auxílio-doença) ou permanente (aposentadoria por invalidez).Nesta segunda-feira (28/7), das 9h às 10h30, o MTE, por meio da Campanha Nacional de Prevenção de Acidentes do Trabalho (Canpat), promoverá uma live em alusão à data.Coordenada pela Secretaria de Inspeção do Trabalho (SIT), a Canpat 2025 tem como tema “Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (Cipa) e Serviço Especializados em Segurança e Medicina do Trabalho (Sesmt) – Protegendo vidas no trabalho”.As ações focam no fortalecimento desses dois instrumentos fundamentais para a prevenção de acidentes e doenças ocupacionais.