Sem surpresas, BC dos EUA não cede a Trump e mantém juros inalterados

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Na quinta reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) do Federal Reserve (Fed, o Banco Central norte-americano) desde a posse do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, as expectativas do mercado foram confirmadas e a taxa básica de juros se manteve mais uma vez inalterada.EntendaNesta quarta-feira (30/7), o colegiado anunciou a manutenção dos juros básicos no intervalo de 4,25% a 4,5% ao ano.Trata-se da quinta reunião consecutiva na qual a autoridade monetária norte-americana mantém inalterada a taxa de juros.Antes das cinco últimas reuniões, o Fed tinha levado a cabo um ciclo de três quedas consecutivas dos juros nos EUA, que começou em setembro do ano passado – o primeiro corte em cinco anos.Desde então, o BC norte-americano sempre deixou claro que era necessário manter a cautela e analisar cuidadosamente os indicadores econômicos para tomar suas decisões de política monetária.Na última reunião do ano passado, o BC dos EUA decidiu cortar os juros em 0,25 ponto percentual. Com isso, os juros fecharam 2024 em um intervalo entre 4,25% e 4,5% ao ano (antes era de 4,5% a 4,75% ao ano).Inflação nos EUAA taxa básica de juros é o principal instrumento dos bancos centrais para controlar a inflação. Quando a autoridade monetária mantém os juros elevados, o objetivo é conter a demanda aquecida, o que se reflete nos preços, porque os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança. Assim, taxas mais altas também podem conter a atividade econômica.Segundo dados do Departamento do Trabalho, a inflação nos EUA ficou em 2,7% em junho, na base anual, ante 2,4% registrados em maio. Na comparação mensal, o índice foi de 0,3%, ante 0,1% em maio.A meta de inflação nos EUA é de 2% ao ano. Embora não esteja nesse patamar, o índice vem se mantendo abaixo de 3% desde julho de 2024. Leia também Negócios Trump volta a atacar Powell e pede corte de juros: “Sujeito teimoso” Negócios Powell pede “liberdade” para bancos competirem e não fala sobre juros Negócios Secretário do Tesouro é “opção” para suceder Powell no Fed, diz Trump Negócios Horas antes de decisão do Fed, Trump volta a cobrar queda dos juros Juros ainda não caíram sob TrumpAntes mesmo de tomar posse para seu segundo mandato na Casa Branca, Donald Trump já fazia críticas às decisões do Fed sobre a taxa de juros e defendia que os cortes fossem intensificados – o que ainda não ocorreu em seu atual mandato.Já empossado presidente, em discurso durante o Fórum Econômico Mundial de Davos (Suíça), Trump disse que trabalharia para que os juros nos EUA caíssem “imediatamente”.Em novembro, após a confirmação da vitória de Trump sobre Joe Biden nas eleições, o Fed justificou a diminuição no ritmo de corte de juros afirmando que “as perspectivas econômicas são incertas e o comitê está atento aos riscos”. Na ocasião, o nome de Trump não foi mencionado.Trump declara guerra a PowellEm meados de abril, Donald Trump voltou a subir o tom contra o chefe da autoridade monetária e cobrou a redução da taxa de juros no país.“Os preços do petróleo caíram, os alimentos estão mais baratos e os EUA estão enriquecendo com as tarifas. O ‘atrasado’ já deveria ter reduzido as taxas de juros, como o BCE [Banco Central Europeu] fez há tempos, mas com certeza deveria reduzi-las agora. A demissão de Powell não pode vir rápido o suficiente”, afirmou Trump.Mais tarde, após receber a primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, para um almoço, Trump reafirmou as críticas a Powell e indicou o desejo de afastá-lo do cargo: “Se eu pedir, ele vai embora”, afirmou.Poucos dias depois, diante do mal-estar no mercado e da queda das bolsas nos EUA e na Europa, Trump recuou, amenizou o tom e praticamente afastou a hipótese de demitir Powell. “Nunca tive essa intenção. A imprensa exagera as coisas”, disse a repórteres.“Não, não tenho intenção de demiti-lo. Gostaria de vê-lo ser um pouco mais ativo em relação à sua ideia de reduzir as taxas de juros”, prosseguiu o presidente dos EUA. “Acreditamos que este é o momento perfeito para reduzir a taxa, e gostaríamos de ver nosso presidente [do Fed] agir com antecedência ou pontualmente, em vez de com atraso.”No início de junho, Trump voltou a cobrar a queda dos juros e criticou Powell. Em declarações dadas durante um evento na Casa Branca, Trump negou que tivesse a intenção de demitir o presidente do Fed, mas criticou novamente o chefe da autoridade monetária e insinuou que pressionaria pelo corte dos juros.Na semana anterior, o presidente dos EUA havia recebido o chefe do Fed para uma reunião na Casa Branca, em uma iniciativa interpretada como uma tentativa de pacificar a relação entre os dois.Na semana passada, Trump voltou a criticar Powell. “As famílias estão sendo prejudicadas porque as taxas de juros estão muito altas e até mesmo o nosso país está tendo de pagar um juro mais elevado do que deveria por causa do ‘atrasado’”, escreveu Trump em sua rede social, a Truth Social.Na mensagem, o presidente dos EUA afirmou ainda que os juros da economia norte-americana deveriam “estar três pontos abaixo do nível atual”. “[Isso] Nos faria economizar US$ 1 trilhão por ano. Esse sujeito teimoso no Fed simplesmente não entende, nunca entendeu e nunca vai entender. O comitê deveria agir, mas não tem coragem para isso”, criticou Trump.Nesta quarta-feira, horas antes do anúncio do Fed, Trump também pediu o corte dos juros.Mandato de Powell termina em maio de 2026A diretoria do Federal Reserve é composta por sete integrantes que cumprem mandatos de 4 a 14 anos – todos são indicados pela Presidência dos EUA. A indicação para o cargo de presidente do Fed é definida pela Casa Branca e confirmada por uma votação no Senado norte-americano a cada 4 anos.Em 2022, Jerome Powell foi indicado pelo então presidente dos EUA, Joe Biden, para um segundo mandato à frente do Fed – que termina em maio de 2026. O entendimento majoritário nos EUA é o de que o presidente do Fed não pode ser removido do cargo sem que haja uma “justa causa”. Há, no entanto, um caso pendente de decisão pela Suprema Corte do país que remete a um precedente estabelecido há 90 anos, em 1935.