Agora é oficial: o Comitê de Política Monetária (Copom) encerrou o ciclo de altas da taxa Selic e manteve os juros estáveis em 15% ao ano.Trata-se da primeira manutenção após sete elevações consecutivas, com o Banco Central destacando que o cenário atual, marcado por elevada incerteza, exige cautela na condução da política monetária. Mais do que isso: os dirigentes indicaram que as próximas reuniões devem ser marcadas por estabilidade na Selic, mas sem descartar novas altas.A dúvida agora é: até quando a taxa básica de juros permanecerá no maior patamar em quase 20 anos?Tarifas de Trump pesam na decisão do CopomGustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, avalia que a manutenção da Selic deve ser o cenário mais provável para boa parte de 2025, com alguma chance de corte de 0,5 ponto percentual no fim do ano. Caso contrário, a expectativa se desloca para o início de 2026.Segundo Cruz, o Copom reconhece que o ambiente internacional segue adverso e incerto, principalmente em razão da política econômica dos Estados Unidos e dos impactos das ações fiscais e comerciais adotadas por lá. Vale lembrar que, mais cedo nesta quarta-feira (30), Donald Trump assinou uma ordem executiva impondo uma tarifa adicional de 40% sobre produtos do Brasil, elevando a taxação total para 50%.“O mercado interpreta esse fator como potencialmente deflacionário, mas o comunicado não aborda diretamente essa leitura. O que se afirma é que o cenário segue marcado por expectativas de inflação elevadas. Em outras palavras, o Copom acompanha a discussão, mas avalia que esse possível impacto ainda não se traduziu em uma revisão efetiva nas projeções de inflação”, afirma Cruz.SAIBA MAIS: Descubra o que os especialistas do BTG estão indicando agora: O Money Times reuniu os principais relatórios em uma curadoria gratuita para vocêPara Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, o comunicado do Banco Central veio duro — conforme o esperado — o que leva o mercado a interpretar a condução como neutra.“O BC também adotou uma assimetria altista na sinalização para os juros, indicando que não hesitará em elevá-los novamente, se necessário. Avaliamos que, com isso, a autoridade buscou afastar cenários em que se precificam cortes precoces da Selic, o que tornaria as condições financeiras incompatíveis com a restrição monetária desejada”, destaca Sanchez.A projeção da casa é de que a Selic só comece a ser reduzida a partir da metade de 2026.Selic: Incertezas fiscaisRaphael Vieira, co-head de Investimentos da Arton Advisors, ressalta que o comunicado voltou a destacar a preocupação com o cenário fiscal.No texto, o Banco Central afirma que segue atento à forma como os desdobramentos da política fiscal influenciam a política monetária e os ativos financeiros. O cenário doméstico, segundo o BC, permanece caracterizado por expectativas desancoradas, projeções de inflação elevadas, resiliência da atividade econômica e pressões no mercado de trabalho.“É um recado claro ao Ministério da Fazenda para que adote uma política fiscal crível”, afirma Vieira. Para ele, ainda é cedo para esperar qualquer movimento de corte, o que pode ser adiado até 2026.Já Rafaela Vitoria, economista-chefe do Inter, destaca que a condução da política fiscal será determinante para o início do ciclo de afrouxamento monetário.“Caso haja aumento de gastos e um orçamento mais expansionista em 2026, o Copom pode manter a Selic em patamar restritivo por mais tempo, postergando o corte até que haja uma queda mais significativa da inflação corrente. Uma política fiscal expansionista e sem regras confiáveis impõe um elevado custo à política monetária”, conclui.A expectativa do Inter é que a flexibilização comece em dezembro de 2025.