O Brasil está em uma situação de profundo despreparo diante da iminente chegada de tarifas norte-americanas, que impactarão significativamente suas exportações para os Estados Unidos, segundo avaliação do coordenador do grupo de Análise de Estratégia Internacional da USP (Universidade de São Paulo), Alberto Pfeifer. Segundo ele, embora alguns produtos perecíveis como carnes, sucos e peixes possam se tornar mais baratos no mercado doméstico no curtíssimo prazo, o impacto principal será sobre os produtos industrializados, como motores e peças automotivas ou de avião, que fazem parte de complexas cadeias produtivas e enfrentarão sobrepreços.“O ponto mais crítico da situação é o despreparo do Brasil, do setor privado e do setor governamental ante esse desafio. Após o anúncio inicial de 10% de tarifas em 2 de abril, o Brasil optou por uma posição discreta, tímida e de neutralidade, acreditando que não seria alvo. Parece que fomos pegos de surpresa, por engano”, avalia.Pfeifer destaca que a atenção dos Estados Unidos sobre o Brasil não se deve a questões internas, mas sim ao fato de o Brasil ter se tornado uma “peça fundamental no tabuleiro geopolítico internacional”. “O Brasil é um grande país em termos territoriais, de recursos naturais e em sua área de atuação no Atlântico Sul e América do Sul. A disputa entre China e Estados Unidos é um espelho disso. O problema é que o Brasil foi muito infeliz nas decisões que o colocaram no centro dessa disputa”, explica. Leia Mais Tarifa de 50% ameaça US$ 40 bi em exportações brasileiras, diz Marcos Jank Waack: Na doutrina Trump para América Latina, Brasil é o alvo Acordos fechados preveem cooperação de longo prazo com EUA, diz especialista Apesar do cenário desafiador, Pfeifer aponta que há chance de reversão e de um tratamento melhor por parte dos Estados Unidos.“Para isso, é crucial uma revisão da política externa brasileira, retomando a vinculação com o Ocidente, a economia de mercado e os processos produtivos com multinacionais, sem prejudicar a importante relação com a China, um grande mercado para exportações agrícolas e minérios brasileiros, e fornecedor de produtos industrializados competitivos para o consumidor nacional. Até agora, o que se viu foi a falta de uma política externa”, adverte.Ele conclui que este momento de tarifas americanas deve ser uma oportunidade para o Brasil repensar e ajustar sua inserção internacional. “Que seja esse o momento de revisar nossa política externa e ajustá-la para os novos tempos, que não são tempos de cooperação, não são tempos de amizades, são tempos de interesses nacionais, tempos de competição e tempo de cada um fazer valer o que tem para mostrar pro mundo. O Brasil possui um grande potencial, mas precisa aprender a mostrá-lo ao mundo”, finaliza.