A nova política mercantilista de Donald Trump não tem poupado ninguém. Sejam antigos desafetos políticos, adversários estratégicos ou aliados históricos, quase todos os países do mundo tiveram algum tipo de taxação extra revelada pelo protecionismo do republicano. A União Europeia, com seus 27 países membros, tem sido alvo constante do desprezo e duras palavras do presidente norte-americano. Ao revelar as novas tarifas para um conjunto de países, incluindo o Brasil, Donald Trump também anunciou 30% de taxas sobre os produtos da União Europeia adentrando os Estados Unidos da América.Essa postura de crescente protecionismo proposta por Trump é uma contradição histórica à postura norte-americana há décadas, principalmente desde o também republicano Ronald Reagan, defensor do liberalismo econômico como uma forma de enriquecimento mútuo das nações. Do outro lado do Atlântico, o presidente Reagan contava com o apoio irrestrito da conservadora Margaret Thatcher na promoção de menores tarifas como forma de incentivar o comércio transatlântico, o que naquele momento, beneficiou as nações europeias e ampliou na casa de dezenas de bilhões de dólares as vendas e compras entre os países ocidentais.Donald Trump teve um primeiro mandato marcado pela quebra de muitos protocolos e, agora, em seu segundo mandato, propõe a completa ruptura de paradigmas históricos que moldaram o mundo desde 1945. A relação fraterna entre norte-americanos e europeus no campo político e econômico enriqueceu os dois lados e construiu confiança. Hoje as pequenas fissuras de divergências recentes vão se tornando maiores e com o risco de fragmentação, sobretudo pelas incertezas econômicas. Os 30% anunciados por Washington DC deixaram Bruxelas em polvorosa por algumas semanas. Entre os crescentes gastos militares, os caros preços de energia e a insatisfação constante com as políticas migratórias, perder competitividade no maior mercado consumidor do mundo seria a garantia de mais um ciclo econômico desastroso para muitos europeus. Neste contexto de poucas opções que trouxessem a certeza de uma estrondosa vitória ao curto prazo, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, preferiu apostar em modestos ganhos para o longo prazo. Após encontro na Escócia, a alíquota europeia foi reduzida pela metade e os mercados europeus puderam reabrir de forma mais aliviada nesta segunda-feira. Os setores farmacêuticos, automotivos entre outros ramos da indústria química e mecânica podem agora trabalhar com um desafio mais maleável de se contornar ao invés de um cenário de enorme estagnação. Apesar dos sorrisos pela metade nos assentos do parlamento europeu, diversas lideranças dos países membros, de Paris a Budapeste, não pouparam críticas ao acordo. O primeiro-ministro francês, François Bayrou designou o acordo como parte de um “dia sombrio”, deixando de maneira explícita o seu descontentamento com a suposta submissão mostrada por Von der Leyen aos Estados Unidos. Na Hungria, o primeiro-ministro Viktor Orban foi ainda mais enfático ao dizer que “o presidente dos Estados Unidos é um peso pesado quando se trata de negociações, enquanto a presidente (da Comissão Europeia) é um peso-pena”. De fato, a insatisfação está presente em diferentes capitais e nas falas de políticos de todos os espectros. Todos gostariam de poder continuar a viver em um mundo onde os dois lados do Atlântico, ao falar a mesma língua de livre mercado e liberalismo econômico, pudessem continuar a prosperar da mesma forma como fizeram nos últimos 80 anos. Feliz ou infelizmente, essa realidade é apenas um devaneio na nova visão de mundo trazida por Donald Trump, e com isso, o pragmatismo de uma negociação morna, mas positiva, pode ser melhor que a espontaneidade de uma manobra brusca de alto risco. Por enquanto, a União Europeia busca não apenas compreender a nova concepção de mundo apresentada por Donald Trump, mas também sobreviver a ela. Leia também França reconhecerá o Estado Palestino