A deputada federal licenciada Carla Zambelli (PL-SP), condenada a 10 anos de prisão pelo Supremo Tribunal Federal (STF), foi presa nesta terça-feira (29) em Roma, na Itália, após ser localizada pela polícia local. Foragida desde maio, Zambelli teve seu paradeiro revelado pelo deputado italiano Angelo Bonelli, que forneceu às autoridades o endereço onde ela estaria hospedada.Com cidadania italiana, a parlamentar tentava evitar o cumprimento da sentença com base em possíveis obstáculos legais à sua extradição. A Justiça italiana, agora, deverá decidir se autoriza ou não a repatriação da deputada ao Brasil — o que pode envolver um impasse diplomático com desdobramentos internacionais.Leia tambémCassação, bloqueio salarial e mais: os pedidos contra Eduardo Bolsonaro na CâmaraAs ações são fundamentadas em acusações de atentado à soberania nacional, com base na atuação do parlamentar junto a autoridades norte-americanasPoliciamento na Praça dos Três Poderes é reforçado para motociata com BolsonaroAs equipes de segurança pretendem adotar uma “abordagem equilibrada” para que o evento ocorra sem representar riscos ao STFPrisão preventiva e inclusão na InterpolZambelli teve a prisão preventiva decretada no início de junho pelo ministro Alexandre de Moraes, relator do caso no STF. A Corte também determinou o bloqueio de seus bens, a apreensão dos passaportes — inclusive o diplomático — e sua inclusão na lista vermelha da Interpol.A parlamentar deixou o Brasil logo após a condenação, alegando que realizaria um tratamento médico na Europa. Desde então, circulava entre os Estados Unidos e a Itália. Com a prisão, a etapa seguinte será o julgamento do pedido de extradição, já protocolado pelo Ministério da Justiça brasileiro.Condenação definitiva no caso hackerA pena de 10 anos de reclusão foi imposta de forma unânime pela Primeira Turma do STF, que também determinou a perda do mandato parlamentar. A cassação ainda será analisada pela Câmara dos Deputados, mas não há mais possibilidade de recursos à condenação.Zambelli foi considerada culpada por contratar o hacker Walter Delgatti Neto para invadir o sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e inserir documentos forjados, entre eles um falso mandado de prisão contra o próprio ministro Alexandre de Moraes. O objetivo, segundo o STF, era tumultuar o processo eleitoral de 2022.Impasses jurídicos na extradiçãoApesar do tratado de extradição entre Brasil e Itália, a Constituição italiana proíbe, em regra, a extradição de seus próprios cidadãos. Zambelli tenta se amparar nesse dispositivo. No entanto, há precedentes: em 2015, o ex-diretor do Banco do Brasil Henrique Pizzolato — também cidadão italiano — foi extraditado após decisão do Conselho de Estado da Itália, que impôs garantias sobre as condições de cumprimento da pena no Brasil.O tratado bilateral prevê cláusulas impeditivas, como prescrição do crime, risco de perseguição política ou religiosa, julgamento por tribunal de exceção e tipificação como crime político. Caberá à Justiça italiana avaliar se algum desses critérios se aplica ao caso de Zambelli.Cenário político e diplomáticoO caso ganhou repercussão no Parlamento italiano. Angelo Bonelli, deputado da coalizão Aliança Verdes e Esquerda, foi o responsável por alertar a polícia sobre o paradeiro da deputada brasileira. Em comunicado, afirmou que a Itália “não pode se tornar um refúgio para golpistas” e cobrou do governo uma resposta sobre a cooperação com o Brasil e a Interpol.“Zambelli é expoente do bolsonarismo e foi condenada por unanimidade pelo STF”, escreveu Bonelli, destacando o risco diplomático envolvido.Embora o governo italiano ainda não tenha se manifestado oficialmente, a politização do caso pode transformar o processo de extradição em uma disputa entre interesses jurídicos, políticos e diplomáticos.Teste à diplomacia brasileiraO desfecho do caso Zambelli poderá criar um precedente internacional relevante: trata-se de uma parlamentar em exercício, com dupla nacionalidade, condenada por crimes digitais e tentativa de fraude institucional.Se a Itália decidir negar a extradição, a permanência de Zambelli no país poderá acirrar tensões com o governo brasileiro e enfraquecer o alcance internacional de decisões do STF. Por outro lado, se for autorizada a extradição, o caso poderá consolidar um entendimento jurídico mais amplo sobre a colaboração internacional no combate a crimes digitais e ataques às instituições democráticas.The post Agora presa, Carla Zambeli será deportada mesmo com passaporte italiano? Entenda appeared first on InfoMoney.