Quando você pensa no som que os dinossauros faziam, o que vem à sua mente? Rugidos barulhentos, provavelmente. Temos que agradecer Steven Spielberg e a franquia Jurassic Park por isso. Mas pesquisas recentes mostram que essa ideia provavelmente está errada.A ciência tem poucas pistas sobre os sons que os dinossauros podem ter produzido enquanto dominavam a Terra, antes de serem extintos 66 milhões de anos atrás.Fósseis notáveis descobertos por paleontólogos dão uma ideia do porte físico dessas criaturas. Mas não revelam muito sobre como interagiam e se comunicavam.Mesmo assim, dá para supor que os rugidos de Jurassic Park eram exagerados, para dizer o mínimo, segundo reportagem da BBC.Dinossauros não eram silenciosos, mas provavelmente não rugiam igual vemos em Jurassic ParkSom não fossiliza, evidentemente. Mas é quase certo que os dinossauros não eram silenciosos.Com base no comportamento animal moderno e evidências descobertas recentemente, cientistas começam a entender como esses animais pré-históricos poderiam ter soado. Técnicas avançadas de análise e fósseis raros ajudam a reconstruir essas possibilidades sonoras.Cientistas começaram a entender como dinossauros poderiam ter soado (Imagem: chaiyapruek youprasert/Shutterstock)Durante os cerca de 179 milhões de anos em que habitaram o planeta, os dinossauros evoluíram numa ampla variedade de formas e tamanhos – desde os pequenos Albinykus, com menos de um quilo, até os gigantescos Patagotitan mayorum, com até 72 toneladas. Essa diversidade física sugere que os sons que produziam também eram variados.Características anatômicas específicas influenciavam os sons. Alguns tinham pescoços extremamente longos, o que provavelmente afetava a acústica. Outros possuíam estruturas cranianas que funcionavam como instrumentos de sopro, amplificando e modificando o som – é o caso de certos saurópodes e hadrossauros.O Parasaurolophus tubicen, por exemplo, tinha uma crista com tubos ocos que formavam uma câmara de ressonância de 2,9 metros. Em 1995, um crânio quase completo dessa espécie foi escaneado com tomografia computadorizada. Isso permitiu uma reconstrução digital da crista e simulações de como o som seria produzido ao se soprar ar por ela.O som resultante foi descrito como “de outro mundo” por Tom Williamson, um dos pesquisadores envolvidos, à BBC. Comparações foram feitas com os grunhidos graves do casuar-do-sul, uma ave australiana. Confira abaixo:Mesmo sem laringe, o P. tubicen poderia ter emitido sons com a crista. E outros hadrossauros com cristas menores provavelmente produziram sons de baixa frequência, combinando função vocal e exibição visual.‘Filmes do Jurassic Park erraram’Nem todos os dinossauros possuíam estruturas especializadas para vocalização, como cristas ressonantes. E até hoje há escassez de evidências fósseis de caixas vocais. Isso levou alguns pesquisadores a especularem que certos dinossauros poderiam ter sido mudos.No entanto, análises das vias aéreas preservadas em fósseis oferecem pistas valiosas sobre como o som poderia ter sido produzido, comparando-se suas formas com as das aves atuais.A paleontóloga Julia Clarke identificou uma pista decisiva ao estudar o fóssil de uma ave primitiva encontrado na Ilha Vega, próximo à Península Antártica. Com o uso de tomografia computadorizada, sua equipe reconstruiu digitalmente o fóssil. Entre fragmentos, encontraram anéis mineralizados de uma siringe – o órgão que permite a vocalização nas aves.Esse fóssil pertence à espécie Vegavis iaai, ave semelhante a um ganso que viveu entre 66 e 68 milhões de anos atrás, durante o final do Cretáceo. Ela coexistiu com dinossauros não-avianos numa Antártica coberta por florestas temperadas.E daí? Bem, a descoberta da siringe indica que esses órgãos podem fossilizar. Isso levanta a questão sobre sua ausência nos fósseis de dinossauros não-avianos como o Tyrannosaurus rex.Descoberta de siringe fossilizada levanta questão sobre sua ausência em fósseis de dinossauros como o Tyrannosaurus rex (Imagem: Orla/Shutterstock)Até o momento, apenas uma caixa vocal de dinossauro foi identificada, pertencente ao Pinacosaurus grangeri, dinossauro “blindado” que viveu há cerca de 80 milhões de anos.A laringe, encontrada na Mongólia, pode ter funcionado de maneira semelhante à siringe das aves. Estudos indicam que esse dinossauro poderia emitir sons explosivos e vocalizações complexas, semelhantes às de papagaios.Essas descobertas levaram Julia a aprofundar seu estudo sobre como as aves modernas produzem sons. Seus achados indicam que os dinossauros provavelmente não rugiam, como popularizado em filmes. Mas produziam sons mais sutis, como arrulhos.Mais especificamente, dinossauros podem ter vocalizado como rolas ou avestruzes, usando a técnica de vocalização de boca fechada, inflando a garganta para gerar som.Leia mais:Encontrado fóssil de dinossauro com garganta similar a das avesDe onde vem o petróleo? Spoiler: não é dos dinossaurosPor que as aves e crocodilos sobreviveram ao asteroide, mas não os dinossauros?As aves são dinossauros? Entenda a ancestralidade“Os filmes de Jurassic Park erraram”, disse a paleontóloga à BBC. “Muitas das primeiras reconstruções de dinossauros foram influenciadas por sons assustadores que associamos a grandes predadores mamíferos, como leões. Nos filmes, eles até usaram vocalizações de crocodilos para os grandes dinossauros, mas os mostram com a boca aberta, rugindo como leões.”“Eles não fariam isso, especialmente antes de atacar”, continua Julia. “Predadores não anunciam que estão prestes a caçar – isso alertaria as presas e os competidores.”O post Jurassic Park te enganou! O som que os dinossauros (provavelmente) faziam apareceu primeiro em Olhar Digital.