CEO da Vulcabras por 20 anos, Pedro Bartelle comenta motivos para os 19 bons trimestres consecutivos da empresa

Wait 5 sec.

Pedro Bartelle, CEO da Vulcabras, tem 20 anos de atuação na empresa que começou focada apenas nos calçados. Hoje, a companhia foca na inteligência do mercado, gestão de marca e relacionamento com o consumidor como novos pilares do negócio — que, segundo ele, ainda está em transformação.Bartelle atribui essa modernização à sua gestão, que priorizou a tomada de decisões baseada em informações e testes, em contraste com a antiga prática de lançar produtos sem pesquisa prévia.Apesar do sucesso recente, Bartelle revela que a empresa ainda enfrenta barreiras e preconceitos do mercado devido à sua origem familiar e a uma crise enfrentada em 2010. No entanto, a Vulcabras tem superado a desconfiança — com 19 trimestres consecutivos de crescimento, apresentando os melhores resultados do setor em termos de retorno sobre investimento e geração de caixa.Bartelle enfatiza seu compromisso com a perpetuidade da empresa acima de interesses pessoais, e acredita que o mercado ainda subvaloriza as ações da Vulcabras, apesar de seu sólido desempenho e do potencial de marcas como a Olympikus.Veja a entrevista a seguir:The Report – Você hoje é o CEO da empresa, mas está nela há mais de 20 anos. O que tem de diferente da empresa que você encontrou lá no início quando você começou sua carreira para empresa que existe hoje em 2025?Pedro Bartelle  – Eu nasci na indústria calçadista, cidade pequena do interior, acabei conhecendo muito a indústria de calçados. A indústria é importantíssima, um grande diferencial. Mas ela sozinha não consegue ter sucesso. Inteligência de mercado, gestão de marca, relacionamento com consumidor, tudo isso é fundamental para que você tenha sucesso hoje. Eu confesso que isso se acentuou muito – e eu não me faço auto elogio, não é do meu perfil – mas acho que vem muito da minha gestão, de trazer essa visão, modernizar a empresa através de inteligência de mercado, de não lançar produtos pra ver o que que vai acontecer sem testá-los, sem ter muita informação. Você falou sobre esse processo de profissionalização da Companhia. Você acha que existe e como lidou com alguma desconfiança do mercado com empresas que surgem de forma familiar, como a Vulcabras? Sentiu que tinha que se provar e provar que era uma empresa realmente sólida?Até hoje, acho que a gente ainda tem algumas barreiras e preconceitos para serem quebrados porque lá atrás existia uma desconfiança de uma empresa que não tinha essa visão. Aí ela entrou numa crise, mesmo sendo a maior empresa do setor em 2010, maior que Alpargatas, maior que a Grendene, em faturamento, ela entrou nessa crise. A crise nos prejudicou e [mesmo depois] diziam assim “tá bom, saíram, mas é por um ano, por dois? Qual foi o real motivo que vocês entraram em crise?” Demorou pra gente explicar isso e hoje tá bem explicado. Era uma outra empresa. Mas o mercado sempre foi um pouco desconfiado porque ele via esse histórico negativo. Só que agora já são 19 trimestres consecutivos de crescimento. Os resultados são os melhores do setor, melhor ROIC, melhor EBITDA.  Eu falo para todos os investidores: eu acho que eu estou fazendo diferença, é um negócio que eu gosto. Mas o dia que tiver uma pessoa melhor que eu, vou botar no meu lugar. Não estou aqui pra dizer que eu sou o CEO, eu quero a perpetuidade da empresa. Não é um negócio de ego, de cadeira. Você acha que ainda há uma subvalorização do mercado em relação às ações da Vulcabras?  Em 2011 as ações valiam ali em torno de R$6, hoje elas valem R$20. Tem espaço para crescer?A Vulcabras há alguns poucos anos, valia a metade do que valiam as empresas similares. Hoje ela vale o mesmo, mais ou menos. Durante esse ano, chegamos a ser a mais valiosa [do setor]. O que eu posso te dizer: Vulcabras é o melhor resultado do setor, a melhor empresa do setor, a melhor administração. A gente montou um time conhecedor do mercado. Dito isso,  eu não posso concordar com múltiplo de Vulcabras. Ela nunca teve um múltiplo parecido com os múltiplos que todas essas [concorrentes] já tiveram um dia. O nosso trabalho, nós estamos fazendo, mostrando e entregando.  Sempre quando eu falo com investidores, eu falo: presta atenção no valor que tem a Olympikus, principalmente por causa da linha do Corre, estamos criando um negócio novo. As duas grandes marcas internacionais continuam sendo as maiores, mas elas acabaram levando um pouco de calor de outras marcas que surgiram.A gente tem discutido muito o cenário macro tanto no Brasil quanto globalmente. De que maneira a Vulcabras está sendo impactada? O cenário brasileiro de incertezas é o pior que tem. O empresariado precisa fazer planejamentos de longo prazo. Quando não tem regras claras no jogo, isso fica muito complexo. A gente tem conseguido através de muita eficiência um pouco de crescimento e suprir as maldades que estão acontecendo, como a oneração da folha de pagamento. Nós somos um dos setores que agora está sofrendo a reoneração,  25% esse ano, um absurdo, num país que precisa empregar. Desonerar a folha é incentivar o emprego. Ainda mais no nosso setor que compete com os asiáticos, que têm custos muito inferiores.  O que preocupa é ver esses custos Brasil aumentando, porque aumenta para todo mundo, mas não para o asiático. Aí, a Abicalçados vem defendendo uma compensação desses custos para que a gente fique no mesmo patamar, uma tarifa, algum custo de importação para tentar trazer competitividade. Se o Brasil voltar a ter condições igualitárias de competição, nós não só seremos maiores e melhores, mas mais empregadores e voltaremos a ser um grande exportador. A entrevista completa está na edição deste mês de The Report, a revista digital do Market Makers. Se você ainda não tem acesso a esse conteúdo, basta clicar aqui.