Empresas recuam nas celebrações do Mês do Orgulho: será esta a nova tendência?

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O mês do orgulho LGBTQ+ já terminou e este ano foram muitas as organizações a mostrarem-se mais discretas na celebração desta comunidade. Nos últimos anos, o início de junho era marcado por empresas de consumo que adotavam logótipos com as cores do arco-íris ou patrocinavam paradas e eventos em cidades ao redor do mundo.Muitas empresas já reduziram o seu envolvimento com a comunidade LGBTQ+ desde o início do ano, num contexto de retração global com políticas de diversidade, equidade e inclusão (DEI), que foi impulsionada pela Administração Trump e adotada por muitas nações.Um estudo de abril da Forbes foi a crónica de uma morte anunciada: revelou que cerca de 40% das empresas planeavam reduzir o seu envolvimento com o Mês do Orgulho este ano. A ausência de notificações do Mês do Orgulho no Google Calendar, notada globalmente no início de 2025 é um grande exemplo destas alterações.Para que direção estão a ir as empresas?Mais informações da Forbes revelam que, das 39% das empresas que planearam reduzir o envolvimento com o Mês do Orgulho em 2025, 43% focaram-se na diminuição de mostras externas de apoio, como a presença visual ou patrocínios financeiros em marchas do Orgulho, linhas de merchandising temático, atualização de marcas nas redes sociais e parcerias com influencers para conteúdos relacionados.Porém, a diminuição do apoio ao Mês do Orgulho não se limita a gestos simbólicos, como a mudança de logótipos. Dados da Gravity Research mostram que as referências a DEI em empresas do Fortune 100 caíram 72% entre 2024 e 2025. Esta redução tem consequências bastante diretas, tais como impactar diretamente os colaboradores.Apenas 19% das empresas indicaram que a redução seria em iniciativas internas, como comunicações sobre compromissos com a igualdade ou apoio a grupos de recursos de colaboradores. Cerca de 41% das empresas inquiridas afirmaram que o seu apoio ao Mês do Orgulho permanecerá inalterado, enquanto as restantes responderam «não sabem» ou «ainda não decidiram». Em contraste, em 2024, apenas 9% das empresas indicaram à Gravity Research planos para alterar o seu envolvimento com o Mês do Orgulho. O impacto nas organizações tem sido realNo panorama internacional, muitas empresas têm enfrentado duras críticas de ativistas conservadores nos últimos anos pelo seu apoio ao Mês do Orgulho. Nos Estados Unidos, a Bud Light perdeu o lugar de cerveja mais vendida após um boicote de consumidores em 2023, desencadeado por uma parceria com a influenciadora trans Dylan Mulvaney.Cerca de um mês após o início do boicote, em abril de 2023, as vendas da Bud Light caíram 26% face ao ano anterior. Outras empresas, como a Nike, que também colaborou com Mulvaney em 2023, e a Target, que gerou polémica por vender um fato de banho para mulheres trans, enfrentaram ataques online e boicotes. Em resposta, a Target removeu alguns dos seus produtos do Mês do Orgulho das lojas.Recentemente, a marca de retalho americana enfrentou novos boicotes após reduzir os seus padrões de diversidade, equidade e inclusão, partindo da comunidade que via a marca como uma aliada de longa data da comunidade LGBTQ+. O tráfego nas lojas da Target caiu durante 11 semanas consecutivas desde que abandonou compromissos de DEI em janeiro de 2025, segundo a Retail Brew. Que impacto pode trazer esta mudança dos ventos?A retração nas políticas de DEI afeta o ambiente de trabalho, especialmente para grupos sub-representados. Em Portugal, onde a igualdade no local de trabalho tem sido uma prioridade, a falta de iniciativas visíveis pode diminuir a confiança dos colaboradores LGBTQ+.Em Portugal, o Mês do Orgulho tem crescido em visibilidade, com eventos como a Marcha do Orgulho de Lisboa e iniciativas da ILGA Portugal a promoverem a inclusão. No entanto, a redução do envolvimento corporativo pode limitar o impacto destas celebrações. Segundo a ILGA Portugal, a falta de apoio financeiro de grandes empresas força os organizadores a depender de doações individuais, o que pode comprometer a escala dos eventos.Por outro lado, algumas empresas portuguesas, como a Sonae e a Galp, continuam a promover iniciativas de inclusão, ainda que de forma mais contida. Estas organizações mantêm programas internos de DEI, mas evitam gestos públicos vistosos, possivelmente para evitar críticas de performatividade. Esta abordagem reflete um equilíbrio entre compromisso com a inclusão e adaptação às pressões externas.O desafio que surge para as empresas é encontrar um novo equilíbrio entre autenticidade e impacto, num contexto onde a inclusão deve ir além dos logótipos e pressões políticas: deve ser o pilar de qualquer negócio.O conteúdo Empresas recuam nas celebrações do Mês do Orgulho: será esta a nova tendência? aparece primeiro em Revista Líder.