Uma questão que permanece em aberto há milênios, atravessando culturas e épocas, é o sentido da vida — uma construção psicológica que criamos por meio de nossa percepção e reflexão. Para alguns especialistas, esse conceito abrange três experiências: propósito, coerência e significância existencial.Em um estudo recente, publicado na revista Emotion, uma equipe internacional de psicólogos, liderada por pesquisadores da Universidade do Missouri (Mizzou), nos EUA, defende que “sentimentos positivos contribuem para uma vida significativa”. Leia mais Comparar dois dedos pode revelar tendências sexuais do parceiro, diz estudo Quer evitar a perda muscular? Veja alimentação chave para evitar sarcopenia Constelação familiar realmente funciona? Entenda seus riscos Liderados por Megan Edwards e Laura King, do Departamento de Ciências Psicológicas da Mizzou, os autores realizaram seis estudos, com mais de 2,3 mil participantes, para testar o que definiram como “uma das emoções positivas mais fortes que promove diretamente um senso de significado”: a esperança.Segundo Edwards, “nossa pesquisa muda a perspectiva da esperança de um mero processo cognitivo relacionado à conquista de objetivos para o reconhecimento dela como uma experiência emocional vital que enriquece o significado da vida”, afirmou em um comunicado a doutoranda.Em todos os estudos realizados, dizem os autores, nenhuma outra emoção positiva teve tanto poder para explicar por que as pessoas sentem que a vida delas tem sentido, como a esperança, enquanto emoção sentida (afeto esperançoso).Por que a esperança dá significado à vida?Espinosa via a esperança como uma paixão (afeto) ligada à incerteza • Leonk/Wikimedia CommonsNos seis estudos realizados no Departamento de Ciências Psicológicas da Mizzou, os pesquisadores aplicaram questionários, escalas psicológicas e experimentos para medir como diferentes emoções estavam associadas à sensação de que a vida tem significado.Entre diversas emoções positivas apresentadas — e até induzidas —, como alegria, excitação e felicidade, os autores descobriram que somente a esperança se destacou repetidamente, em todos os cenários, como fonte poderosa de significado para a vida.Diferentemente da visão do filósofo Baruch de Espinosa, que via a esperança como uma paixão passiva, os autores do estudo atual tratam a emoção como algo positivo, essencial e saudável. “Essa percepção abre novos caminhos para o aprimoramento do bem-estar psicológico”, afirma Edwards.Ou seja, ter a vida percebida como significativa gera impactos concretos. Isso se baseia em estudos populacionais, segundo os quais as pessoas que relatam perceber maior sentido na vida costumam também apresentar benefícios como relações mais fortes, saúde física superior, maiores níveis de renda e bem-estar emocional.Mas essa associação estatística não significa que só “acreditar” garanta benefícios. Outros fatores influenciam, como personalidade, ambiente ou contexto social. Ainda assim, a esperança se destaca por alimentar a expectativa de que o amanhã pode ser melhor, impulsionando atitudes positivas.É possível “operacionalizar” a esperança?Cuidar de outra pessoa reforça a ideia de que o futuro pode ser importante • FreepikA boa notícia, afirma King, é que “essa pedra angular do funcionamento psicológico não é uma experiência rara — está disponível para as pessoas em suas vidas cotidianas, e a esperança é uma das coisas que tornam a vida significativa”. Ela não demanda grandes transformações para ser cultivada e conservada.A “operacionalização” da esperança, sugerem os autores, começa com a observação de pequenos acontecimentos bons: uma manhã tranquila, um sorriso recebido, um gesto generoso. Tais instantes nos lembram que, apesar dos problemas, as coisas podem melhorar e o amanhã pode trazer novas possibilidades.Quando surgem turbulências, que parecem não acabar nunca, pequenas ações, por menores que sejam, aumentam a sensação de controle. Por isso, reconhecer conquistas diárias, como aprender algo novo ou apenas seguir em frente, ajuda a manter acesa a chama da esperança.Para reforçar a ideia de que o futuro pode ser importante, os autores sugerem cuidar de algo — uma planta, um pet ou outra pessoa. Se tudo é impermanente, então mudanças podem ser para melhor, e esta crença é a base para a esperança.Diferente do discurso típico da autoajuda, o estudo científico de Edwards e seus colegas se baseia em dados empíricos e análise estatística. Evita prescrições simplistas: ao reconhecer a esperança como emoção, sugere hábitos para cultivá-la, mas não promete que isso garantirá saúde, dinheiro ou felicidade.Humanos ainda não entendem emoções de seus cachorros, mostra estudo