O Governo de Luís Montenegro, anunciou recentemente a reforma da disciplina de Cidadania e Desenvolvimento. Entre as várias dimensões da discussão à volta do retrocesso ou não, pela retirada da educação sexual do currículo e das tomadas de posição políticas, ninguém foi capaz de abordar o tema da não inclusão da literacia digital. Esse sim, foi o tema tabu, que nenhum partido político ousou falar. E porquê? Porque não há coragem política para assumir que não estamos perante um problema curricular, mas perante uma falha sistémica. Talvez o motivo para esta ausência seja o mais óbvio: o próprio ecossistema educativo ainda não tem as competências digitais necessárias para ensinar o que nunca aprendeu. Mas se é aí que reside o bloqueio, é exatamente por aí que se deve começar.Em pleno 2025, não é aceitável que o sistema educativo continue a ignorar a realidade mais óbvia do nosso tempo. Vivemos, consumimos e trabalhamos num mundo digital. E, ainda assim, as competências digitais não são ensinadas de forma estruturada e obrigatória nas escolas portuguesas.Só no último ano, as reclamações por burlas digitais no Portal da Queixa cresceram 37%, com destaque para casos de phishing, esquemas com pagamentos e fraudes através de números de telefone falsos. Estes números não são apenas estatísticos. São vidas afetadas, perdas financeiras, danos psicológicos e quebra de confiança no uso da tecnologia e nas instituições.Além disso, é importante referir que as vítimas não são apenas os mais velhos ou os menos informados. Cada vez mais jovens estão a cair nestes esquemas, sem ferramentas críticas para avaliar riscos, identificar ameaças ou proteger os seus dados.Perante este cenário foi criado o movimento #NãoSejasPato, uma iniciativa de literacia digital preventiva, criada gratuitamente para os consumidores. Com o apoio da Inteligência Artificial Generativa e da equipa de desenvolvimento do Portal da Queixa, é disponibilizada uma ferramenta de pesquisa em tempo real, gratuita, acessível a qualquer cidadão, que permite verificar se um site, negócio ou empresa, está associado a queixas ou comportamentos suspeitos, em toda a internet, estando só ao disponível através de um modelo de IA pago.Só no primeiro mês em que esta ferramenta foi lançada, permitiu que mais de 100 mil pessoas usassem esta funcionalidade, para pesquisar antes de comprar. Tornou-se evidente que não é apenas um barómetro da confiança pública, mas também um canal de capacitação e proteção dos consumidores portugueses.Assim, reitero o meu alerta ao Governo e ao Ministério da Educação, de que não haverá verdadeira cidadania, sem cidadania digital. A literacia digital não é uma opção, é uma urgência.Pedimos uma ação concreta, não apenas com intenções no papel, mas com medidas estruturais: formação obrigatória de professores, integração curricular das competências digitais, e uma estratégia nacional de literacia digital coordenada com as comunidades escolares e a sociedade civil.O conteúdo O elefante da literacia digital na sala de aula de cidadania aparece primeiro em Revista Líder.