A situação alarmante de desnutrição na Faixa de Gaza continua a deixar o mundo sem palavras. A chegada de ajuda humanitária ainda em níveis muito abaixo do necessário para alimentar mais de 2 milhões de pessoas famintas, começa a ceifar vidas de todas as idades. O que deveria ser pressão militar e diplomática para enfraquecer o grupo terrorista Hamas, se transformou em um cerco aos civis. A postura israelense pouco mudou com os pedidos de agências humanitárias e dos principais aliados para uma maior abertura das fronteiras. As palavras ditas, escritas ou publicadas têm pouco ou nenhum efeito prático para aliviar o sofrimento dos palestinos ou os familiares dos reféns israelenses.Na visão de muitos países, a única forma de se alcançar uma paz justa e duradoura é através da solução de dois estados, dando ferramentas suficientes para que duas nações, uma israelense e uma palestina, possam coexistir lado a lado. Não foram poucas as tentativas de concretizar esse plano desde 1948, mas por não concessões israelenses em alguns casos, ou pela recusa e divisões políticas dos palestinos, jamais conseguiu se tonar viável. Após o atentado terrorista do Hamas em outubro de 2023 e a guerra total na Faixa de Gaza, muitos analistas referendaram a morte da solução de dois estados através de mais um conflito sangrento sem precedentes. Siga o canal da Jovem Pan News e receba as principais notícias no seu WhatsApp! WhatsApp A guerra é travada nos bairros da cidade de Gaza, Khan Yunis e Rafah, mas também nas ruas de Nova York, Londres e nas redes sociais de todo o mundo. Se Israel tem a vitória quase total na guerra de infantaria e no controle territorial, o Hamas tem vencido a guerra midiática travada nas redes e na opinião pública em todo mundo. As imagens dilacerantes de crianças esqueléticas e cidades inteiras sem um único edifício em pé, comovem pessoas de todas as religiões, culturas e países. Essa guerra midiática, aos poucos tem tomado corpo de um conflito diplomático entre os aliados de Israel, não atingindo o país diretamente, mas atuando de forma concreta contra os interesses de Telavive.Na última semana, a França declarou que reconhecerá oficialmente a Palestina como um membro pleno das Nações Unidas, e hoje, o primeiro-ministro britânico, prometeu fazer o mesmo caso condições fundamentais não sejam respeitadas por Israel. Keir Starmer anunciou que o Reino Unido reconhecerá plenamente a Palestina na próxima Assembleia Geral da ONU em setembro, a não ser que mudanças substantivas sejam feitas em Gaza para garantir o acesso dos palestinos à ajuda humanitária e um cessar-fogo seja assinado, visando não apenas uma paz duradoura, mas reavivar o diálogo sincero pela solução de dois estados.Tal anúncio vem novamente carregado de significativa simbologia. O Império Britânico nos espólios da Primeira Guerra Mundial e na dissolução do finado Império Turco Otomano, ficou como responsável pelo mandato da Palestina, território que décadas mais tarde se tornaria o Reino da Jordânia, o Estado de Israel e o Estado da Palestina. Muitos historiadores argumentam que essa breve administração britânica da região foi crucial para o desenvolvimento do problema étnico, religioso e territorial até hoje. Outra razão que torna o discurso do PM Starmer ainda mais relevante, é o fato do Reino Unido ser uma das cinco nações do Conselho de Segurança com assento permanente e que tem poder de veto para impedir uma candidatura plena dos palestinos dentro da ONU. Caso o reconhecimento seja confirmado em setembro, pela primeira vez quatro dos cinco países permanentes do Conselho de Segurança estarão oficialmente favoráveis aos dois estados, isolando os Estados Unidos na execução de um veto. De fato, enquanto Donald Trump e seu grupo político governarem os Estados Unidos da América, o direito ao veto será utilizado, sobretudo durante continuação da guerra em Gaza. Contudo, com o apoio de 80% das nações que poder impedir a ascensão da Palestina à principal agremiação diplomática do mundo, a causa dos palestinos ganha bastante força.É difícil prever se o ultimato britânico aos israelenses mudará a postura de Benjamin Netanyahu, mas a história recente nos mostra que são poucas as declarações ou acontecimentos que alterem a conduta israelense em Gaza. Seja qual for o cenário, o despertar de discussões sérias e que possam garantir no futuro a dignidade ao povo palestino é uma demonstração importante de resiliência do jogo diplomático em meio a dias cinzentos e estômagos vazios. Leia também França reconhecerá o Estado Palestino