Hibristofilia: a paixão de algumas pessoas por criminosos violentos

Wait 5 sec.

A divulgação do caso do ex-jogador de basquete Igor Eduardo Pereira Cabral, que deu mais de 60 socos na namorada, e a revelação das imagens brutais do crime, que aconteceu dentro de um elevador, gerou uma reação inquietante nas redes sociais.Após o caso vir à tona e o ex-atleta ser preso, várias pessoas, em especial mulheres, passaram a declarar amor, interesse afetivo e até desejo de “ajudar” o agressor. O comportamento tem nome: hibristofilia, a atração por criminosos violentos. Leia também Na Mira Saiba quem é homem que espancou ex-namorada com mais de 60 socos Na Mira Vídeo: veja momento da prisão de homem que espancou ex com 60 socos Na Mira Mulher espancada por ex-jogador de basquete teve rosto desfigurado Na Mira Desfigurada, vítima espancada por ex só conseguiu depor por escrito Não é novidadeA situação alarmante levantou um alerta entre especialistas em sexualidade e cultura. Para Heitor Werneck, fetichista, produtor cultural da Parada LGBTQIAP+ de São Paulo e criador do Projeto Luxúria, uma das maiores festas BDSM da América Latina, esse fenômeno está longe de ser novo.“O fetiche em criminosos violentos começa no cinema. Você vê desde filmes de mafiosos, de gangues e até de super-heróis, como os vilões do Batman. Todas as mulheres e companheiras dos marginais são extremamente bonitas, bem cuidadas, com unhas, roupas, joias, cabelo, com segurança. Isso faz a mulher ser mais feminina e ser protegida por um super-homem, mesmo ele sendo criminoso”, afirmou.6 imagensFechar modal.1 de 6Reprodução2 de 6Igor em foto nas redes sociaisReprodução3 de 6Reprodução4 de 6Reprodução5 de 6Reprodução6 de 6Igor Cabral espancou ex-namorada dentro de elevadorRedes Sociais/ReproduçãoO que é hibristofilia?O especialista conversou com a coluna e contou que hibristofilia é um tipo de parafilia que se manifesta no desejo sexual ou emocional por pessoas que cometeram crimes, especialmente os mais violentos. Casos de criminosos famosos que receberam cartas de amor, pedidos de casamento e visitas íntimas são comuns em diferentes países. No Brasil, segundo Werneck, a figura do marginal é erotizada de uma forma particular.“Aqui, que a gente não tem acesso a grandes marginais de Hollywood, só a marginais que estão em cadeias, a gente vê isso como homens rudes, bruscos, fazendo coisas com mulheres e incentivando um pensamento completamente de ser dominada ou de dominar um homem rude”, analisou ele.O fetiche, explicou Heitor, está ligado a uma ideia de transgressão e fantasia de poder: “Qualquer fetiche é normal, desde que feito com consensualidade. A maioria dessas mulheres que se dispõem a ser mulheres de marginais sabe o risco que corre, porque está participando de uma vida violenta e contra as regras. Isso mexe no imaginário dela. Ou dele… do menino… ou da travesti… ou da mulher que se envolve com esse tipo de pessoa”, disse.Sensação de proteçãoAinda de acordo com o fetichista, há uma construção simbólica de que o marginal oferece não só perigo, mas também proteção: “Sai do padrão convencional. Se tornar uma mulher, ou homem, ou uma travesti mais protegida, viver à beira da sociedade, à beira de padrões de moralidade. Ali, ela consegue se libertar no imaginário, no sexual, de ter um homem rude, primitivo, que pode ser violento, pode ser carinhoso com ela, um dono de vidas. E tem várias pessoas que têm fetiche por arma, pelo perigo. Isso sintetiza totalmente essa lógica”, opinou.E a televisão e o cinema reforçam essa fantasia: “As companheiras de marginais são retratadas vivendo uma vida requintada. Mesmo que morem na favela, estão no melhor lugar, com melhores roupas, melhores posturas. É um sonho de princesa, quase”, avaliou.Fantasia com o perigoNo universo das práticas fetichistas, Heitor Werneck revelou também que a fantasia com o perigo é mais comum do que se imagina: “Uma casa de fetiche normalmente tem uma jaula, ou simula sequestro. Isso também acontece bastante. Pessoas combinam com o dominador de estar na rua e ser sequestrado, amarrado, fazer sexo vendado no meio do mato ou de uma casa”, revelou.E continuou: “Isso acontece no Projeto Luxúria. O dominador avisa, a segurança sabe e a pessoa chega toda amordaçada. Vai direto para dentro da jaula e transa em público. É liberada ali. Acontece pelo menos duas, três vezes por ano. São fetiches mais caros, porque precisam ser planejados, com carro, dominador, produção”, detalhou.Para o especialista, o que diferencia fantasia e realidade é o consentimento: “No fetiche, tudo é acordado. No crime, não. Por isso é preocupante quando o imaginário se mistura com a realidade sem filtros. Não é amor, é fantasia disfarçada de salvação”, encerrou.