Por Folha de São Paulo 02/08/2025 19h30 — emArte e CulturaPARATY, RJ (FOLHAPRESS) - Um dos melhores debates desta Flip reuniu duas amigas latinas que moram há quase 40 anos nos Estados Unidos. A mexicana Cristina Rivera Garza e a argentina María Negroni contaram como foram os processos ricos e turbulentos de descoberta da linguagem para escrever seus livros celebrados.Rivera Garza venceu o Pulitzer no ano passado por "O Invencível Verão de Liliana", que narra o feminicídio de sua irmã em 1990 e foi publicado pela Autêntica, com tradução de Silvia Massimini Felix. Levou 30 anos para escrever, disse ela, porque precisou se armar de um vocabulário que antes não existia --o criado pelas lutas feministas."Foram elas que produziram a linguagem que pude usar para entender e dizer 'foi isso que aconteceu'. Antes falávamos 'romance no trabalho' para o que hoje entendemos como assédio sexual. Posso agora dizer que Liliana não tomou uma má decisão, que não foi culpada pelo que houve com ela. E me permiti ver a série de pequenas violências cotidianas que se vão acumulando e alcançam sua forma mais letal, o feminicídio."Sem linguagem, ela não podia ver isso, e esta "veio das ruas", segundo ela. "Essa narrativa que se aproxima das mulheres sem culpá-las pela violência que sofrem produziu, além de linguagem, uma audiência e escuta. Pude encontrar nos ouvidos dos outros esse abraço a uma história que tinha aqui dentro e para a qual não encontrava palavras."Negroni trouxe um viés bem distinto ao narrar como surgiu seu "O Coração do Dano", traduzido por Paloma Vidal para a WMF Martins Fontes. É uma história turbulenta, dúbia, quase contraditória, sobre a influência de sua mãe morta sobre ela.Escrever um livro, afirmou, é sempre um mistério. "Não há uma relação direta entre o que quero contar e o que eu conto. Conto o que eu posso." Este foi se escrevendo a partir das raízes da perda materna, mas sem ser uma obra sobre o luto --Negroni queria articular de alguma forma algo que sempre esteve dentro dela."Essa figura materna de alguma maneira me constitui. Digo que minha mãe sempre foi 'a dona da linguagem'. Para todo escritor, há duas linguagens: a materna, que ouvimos desde que somos embriões, e a da biblioteca. Ela vem tanto dos livros que já foram escritos quanto da música pessoal que nos forma, a linguagem da mãe."A literatura, segundo Rivera Garza, é antes de tudo um gesto de subversão da língua. Livros como este sobre sua irmã e "Autobiografia do Algodão", que aborda as origens de seus avós na fronteira do México com os Estados Unidos, são ainda para ela um trabalho de cuidado."É uma pesquisa amorosa na qual tive que passar muitos anos. O livro de Liliana não é sobre ela, sinto que foi escrito com ela. É um trabalho de sororidade. A literatura é poderosa assim, a ponto de nos unir e fazer entender que somos parte de uma história maior."A mexicana enxerga toda literatura como um ato informado por relações sociais, culturais e afetivas, rejeitando a ideia de individualidade como uma visão produzida pelo neoliberalismo. Sua amiga argentina discordou e defendeu a singularidade de cada um. "Em cada pessoa há um mundo inteiro, intraduzível aos outros."Rivera Garza exibiu uma verve política mais aflorada, em especial quando o mediador, o jornalista Guilherme Freitas, perguntou sobre a situação no Texas, onde ela vive e leciona numa especialização em escrita criativa totalmente em espanhol, diante das recentes medidas contra imigrantes e universidades pelo governo Donald Trump.Não poupou palavras duras ao presidente e disse que o ambiente acadêmico se tornou tenso e alvo de achaques "como em todos os Estados Unidos". No fim da fala, brincou. "Se vocês estiverem gravando isso, talvez eles não vão me deixar entrar de volta. Aí vou ter que continuar vivendo aqui, perto do Rio, e comendo bem."Bastidores da PolíticaLegitimidade de Alexandre de Moraes fraturada"; // imagens[1] = // ""; // imagens[4] = // ' source src = "/sites/all/themes/v5/banners/videos/vt-garcia-07-2023.mp4" type = "video/mp4" >'; // imagens[2] = // ""; // imagens[4] = // ""; // imagens[3] = // ""; // imagens[4] = // ""; index = Math.floor(Math.random() * imagens.length); document.write(imagens[index]);//]]>O Portal do Holanda foi fundado em 14 de novembro de 2005. Primeiramente com uma coluna, que levou o nome de seu fundador, o jornalista Raimundo de Holanda. Depois passou para Blog do Holanda e por último Portal do Holanda. Foi um dos primeiros sítios de internet no Estado do Amazonas. É auditado pelo IVC e ComScore.