As relações comerciais entre Brasil e Estados Unidos enfrentam um momento crítico com o anúncio de novas tarifas sobre produtos brasileiros, que devem entrar em vigor a partir de 1º de agosto, aponta o coordenador do grupo de Análise de Estratégia Internacional da USP, Alberto Pfeifer. A medida se soma a tensões políticas envolvendo críticas de Donald Trump ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no Brasil.Trump associou as tarifas comerciais a questões de soberania nacional, criticando decisões do sistema judiciário brasileiro. Segundo Pfeifer, a estratégia americana vai além de questões puramente comerciais, mostrando-se uma ferramenta de pressão política mais ampla.Impacto das TarifasO Brasil enfrentará as maiores tarifas entre todos os países afetados pelas medidas americanas até o momento. Além disso, será submetido a uma investigação sob a legislação 301 do representante comercial dos Estados Unidos, processo que pode se estender por meses e abrangerá aspectos como redes sociais e meios de pagamento. Leia Mais Trump anuncia acordo comercial com Japão e baixa tarifa a 15% Governo e empresários se unem contra tarifaço Canadá diz que usará todo tempo disponível para buscar acordo com EUA Como resposta, o Brasil “pode tentar uma negociação micro, setor por setor, especialmente aqueles em que a comércios com empresas americanas que funcionam em território brasileiro”, diz o analista. Mas, de maneira geral, o ideal é “esperar o impacto dessas tarifas”.Sobre os possíveis prejuízos do tarifaço, Pfeifer avalia que alguns setores sofrerão baques mais duros – mas, a economia nacional “como um todo” não será afetada de forma tão “relevante”. Ele aponta para um possível cenário de desinflação no Brasil em determinados produtos, como a carne bovina.“Aquela carne que era mandada para os EUA, com a taxa, não será mais competitiva e ela vai precisar ser consumida em outro lugar.”, afirma o especialista.Cenário GeopolíticoDe acordo com Pfeifer, as tarifas se inserem em um contexto mais amplo de disputa pela hegemonia global entre Estados Unidos e China, onde o Brasil ocupa posição estratégica – seja pelo tamanho territorial ou pela economia.O especialista avalia que Trump não deseja negociar, porque “o assunto dele é a hegemonia no mundo.” Pfeifer descreve o método do americano como “ele anuncia uma medida e espera a reação do outro lado. Se o outro lado reagir como ele quer, Trump recua e a vida segue”, diz.