É normal na indústria de jogos que certos gêneros, após se difundirem e fazerem muito sucesso, comecem a ser incessantemente replicados por diferentes títulos. Se alguns anos atrás tivemos casos assim com hero shooters, devido a Overwatch, ou battle royales, devido a jogos como Fortnite e PUBG, cada vez mais parece que a bola da vez são os souls likes, impulsionados pelo grandioso sucesso dos títulos da From Software.Muitas vezes esses “clones” acabam virando excelentes jogos por si só, como é o caso do recente Lies of P, mas normalmente o que temos é uma experiência que fica muita aquém da oferecida pelo original, como foi o caso de Lords of the Fallen em seu lançamento original. Wuchang: Fallen Feathers é uma tentativa da indústria chinesa, que alcançou renome com excelentes jogos recentes como Black Myth: Wukong, de lançar um produto a altura do gênero souls-like. Será que ele consegue? Ou acaba se tornando apenas mais um em uma vastidão de tentativas? Você descobre mais, na nossa análise a seguir!Buscando um ar próprioLogo de cara Wuchang não disfarça nem por um segundo que se trata de um souls-like puro. Tudo que você esperaria de um jogo do gênero se faz presente logo nos primeiros minutos: bonfires (representadas por santuários) que reiniciam seus itens e a vida dos inimigos, gameplay baseada em dodges e parry além, é claro, da famosa dificuldade elevada tanto nos inimigos quanto, especialmente, nos chefes.Mas é claro que o pessoal da Leenzee Games não podia deixar de dar o seu toque único no gênero, e isso é feito por alguns sistemas. Primeiramente temos a loucura, uma condição que é adquirida a cada vez que você morre no jogo, enchendo uma pequena barra que influencia o quanto você perde de mercúrio (o recurso principal do jogo) a cada uma de suas derrotas. Quando essa barra é completamente preenchida, uma versão demoníaca sua pode aparecer próximo de onde você esteve antes de morrer e cabe a você derrotá-la, e recuperar seu mercúrio, ou perecer novamente e perder tudo. Embora o sistema seja apresentado como uma grande inovação, pois teoricamente esse demônio é agressivo com todos, até com inimigos, no geral raramente temos situações onde isso pode ser usado na prática, e em pouco tempo o sistema acaba ficando sem graça.Outro ponto que tenta dar uma identidade própria a Wuchang: Fallen Feathers são os seus sistemas de progressão e customização, que realmente fazem um excelente trabalho em diferenciar o título de outros jogos do gênero. Aqui temos uma única árvore de habilidades que compartilha diferentes caminhos baseado nas diferentes armas do jogo. O diferente aqui, entretanto, é que além das tradicionais habilidades que esse tipo de árvore costuma apresentar, é por meio dela que nós também melhoramos nossos atributos básicos, como força e vida, e aumentamos nossos recursos, como uso de magia e de poções. Isso torna toda a experiência de progressão muito mais pensada e menos automática, algo que só é reforçado com as infinitas e gratuitas respec que o jogo oferece.Não tenha pena dos seus inimigosEmbora o gênero souls-like possa ser definido por todas as características que citei talvez a mais relevante seja sua peculiar e única gameplay, logo é natural que essa seja uma das coisas mais importantes a se pesar quando se analisa um souls. Infelizmente, aqui, Wuchang: Fallen Feathers peca em alguns aspectos. Embora a variedade de formas de jogar e builds possíveis seja enorme devido as diferentes armas, que podemos carregar 2 e alternar entre elas rapidamente, e magias, que podem ser até 4 de uma vez, a jogabilidade não é tão precisa e fechada quando comparada com outros grandes títulos do gênero.Uma das coisas que eu mais valorizo em todos os souls que zerei na minha vida é a sensação que tenho quando morro. Explico: um bom souls é aquele que para todas as suas mortes você pensa “eu errei aqui” ou “aprendi isso agora”, trazendo um ar de justiça e que cada morte ou representa um erro seu, ou representa um aprendizado que vai ser levado para a próxima tentativa. Wuchang, em vários momentos, me fez pensar que uma morte foi “injusta” ou sem sentido, ora pela exacerbada velocidade e pequena janela de alguns chefes, ora por decisões de design que fazem pouco sentido para mim. Um exemplo é o fato que você não é invencível nem quando está deitado, nem quando está fazendo a animação para se levantar. Isso faz com que alguns golpes de chefes ou inimigos variados seja praticamente um hit kill, já que você ficará preso em uma string de ataques até sua morte.Confira também: Black Myth Wukong entrega uma experiência digna da expectativa que criou - ReviewNas asas da imaginaçãoDeixando a jogabilidade e mecânicas de lado, Wuchang se destaca, e escorrega, em alguns outros pontos. O primeiro é seu visual, que apesar de contar com uma excelente direção de arte, tanto para os cenários quanto para seus inimigos, acaba pecando em seu desempenho. Originalmente eu estava jogando em minha RTX 3070 e meu Ryzen 5700X3D, um setup já datado, mas que foi capaz de rodar jogos mais pesados graficamente como o próprio Black Myth: Wukong. Nas definições automáticas providas pelo jogo eu sofria constantemente com drops de frames enormes e até alguns crashes. Isso me fez então baixar os gráficos para uma configuração menor, o que ajudou, mas não resolveu o problema. No fim da minha análise eu senti que isso estava um pouco melhor, então talvez a Leenzee Games já tenha uma solução na manga para o patch de primeiro dia, mas é bom ficar atento se você não tiver uma máquina atualizada.A dublagem do jogo, que está um pouco aquém de títulos maiores mas entrega no geral um resultado satisfatório, está disponível em inglês e chinês, mas o game conta com legendas em diversos idiomas, incluindo o nosso querido português brasileiro.A história, assim como em Dark Souls, é contada de forma extremamente fragmentada por meio tanto de itens e objetos no cenário como pelas quests que você pode fazer para os diferentes NPCs presentes no reino de Shu. Você controlará Wuchang, uma guerreira que sofre de amnésia após uma batalha e está infectada com a plumagem, uma doença que transforma os humanos em feras incontroláveis, e que começou a se espalhar após a invasão de um terrível demônio. Para saber mais do porque nós termos um controle melhor de seus efeitos, ou a origem da maldição, será necessário prestar bastante atenção nos diálogos e explorar bastante os cenários, que são muitas vezes bem conectados e contam com atalhos bem pensados. Porém, em outras vezes os ambientes parecem confusos e labirínticos demais, apresentando atalhos que parecem não fazer sentido ou levar para locais não muito úteis.Vale a pena?Wuchang: Fallen Feathers tem qualidades que agradam e são bem implementadas. Com uma boa direção de arte e um excelente sistema de progressão e customização tanto de sua protagonista quanto dos equipamentos que ela usa, houve claramente uma atenção aos detalhes e cuidado da Leenzee Games em aspectos que circundam a gameplay. No entanto, é justamente essa jogabilidade que acaba deixando o jogo um pouco para trás quando comparado com concorrentes recentes, como Lies of P ou The First Berserker: Khazan. No geral, Wuchang é uma boa recomendação apenas para aqueles que, assim como eu, são aficionados pelo gênero souls-like e estão dispostos a relevar algumas frustrações em relação a seu combate e chefes, ou então para aqueles dispostos a testá-lo no Game Pass.Nota do Voxel: 75Pontos positivos (prós):Sistema de progressãoDireção de artePontos negativos (contras):Gameplay frustrante em algunms momentosProgressão de dificuldade altamente não linearWuchang: Fallen Feathers foi testado no PC, com uma chave cedida pela desenvolvedora. O game também chega ao PS5 e Xbox Series S e X, com estreia no Game Pass.