Sabesp (SBSP3): oásis ou miragem na Bolsa? Como o JPMorgan enxerga as ações

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O segmento de água e esgoto — regulado em nível estadual, ao contrário do setor elétrico, que opera sob uma regulação federal consolidada há mais de duas décadas — oferece menor visibilidade regulatória, o que pode colocar em xeque até empresas negociadas a múltiplos atraentes.A Sabesp (SBSP3), por exemplo, projeta um crescimento anual composto (CAGR) de lucro por ação (EPS) acima de 20% em três anos e negocia a cerca de 10 vezes preço/lucro (P/L) — números que podem parecer bons demais. Esse risco de “miragem”, porém, pode ser atenuado pelo processo de revisão tarifária previsto para o segundo semestre de 2025.Leia tambémQuais os possíveis efeitos para a Motiva sobre negociações entre Bradesco e Mover?Negociação envolve participação de 14,9% na MotivaVibra (VBBR3): faz sentido comprar a Moove da Cosan? Veja a opinião de analistasVibra iniciou discussões com a Cosan sobre uma potencial aquisição da MooveO JPMorgan lembra que, nos últimos dez anos, os processos de revisão tarifária têm sido os principais catalisadores das ações do setor de saneamento. Nesse contexto, o banco vê como positivo o novo marco regulatório, considerado mais previsível para os próximos 35 anos. Segundo o JPMorgan, há poucas variáveis sujeitas a mudanças nesse horizonte, como a alocação de custos operacionais (opex) e o WACC após 2030.Ainda assim, os analistas ressaltam que uma boa divulgação dos documentos regulatórios e a percepção de que a base de ativos regulatórios (RAB) será avaliada com critérios técnicos são fatores cruciais para sustentar a tese de investimento. Com isso, o banco manteve recomendação de compra e preço-alvo de R$ 140.Riscos regulatóriosO JPMorgan avalia que três fatores regulatórios representam os principais riscos para a tese de investimento na Sabesp: a visibilidade limitada na conversão de capex em RAB (base de ativos regulatória), a possibilidade de lacuna entre receita regulada e realizada, e a fricção política diante de aumentos tarifários.Risco nº 1De acordo com os analistas, o novo marco regulatório da Sabesp apresenta dois diferenciais importantes em comparação com outras utilities:Reconhecimento anual dos investimentos na RAB pelos próximos dez anos (versus revisões tarifárias a cada cinco anos entre os pares);Compensação financeira, ajustada pelo WACC (custo médio ponderado de capital), entre o desembolso do capex e seu reconhecimento na RAB.Embora essas diferenças de timing possam impactar o lucro no curto prazo (P&L), o JPMorgan destaca que o efeito sobre o valor presente líquido (NPV) é neutro, uma vez que os valores serão compensados futuramente.Entre as principais incertezas na conversão do capex em RAB, o banco aponta:O tempo de implementação: os ativos só entram na RAB quando estiverem totalmente operacionais;A metodologia de compensação: os investimentos passam a gerar retorno regulado e depreciação desde o desembolso, conforme já comunicado pelos reguladores.Contabilmente, a Sabesp classifica obras em andamento como ativos contratuais e projetos operacionais como ativos intangíveis. No cenário-base do JPMorgan, é assumida uma conversão mais lenta do capex para a RAB, o que posterga parte do crescimento do EBITDA, mas não altera o NPV, devido à compensação via WACC. O modelo considera uma defasagem média de 1,5 ano para metade dos investimentos, de acordo com a metodologia de “RAB médio”.Risco nº 2Segundo o JPMorgan, uma das principais limitações à rentabilidade da Sabesp ao longo do tempo foi a diferença entre a receita requerida pelo regulador e a receita efetivamente realizada — lacuna que, em alguns anos, teria variado entre R$ 1 bilhão e R$ 1,5 bilhão. Isso se deve a:Volumes superestimados pela agência reguladora;Descontos concedidos a grandes consumidores como forma de retenção.Desde a privatização, a empresa passou a enfrentar esses desafios por meio de:Negociações com o regulador para incluir os descontos na base tarifária;Melhorias no processo de faturamento, com o objetivo de reduzir os desvios de volume.No cenário-base do banco, a lacuna de receita deve diminuir para R$ 1 bilhão em 2025, cair para R$ 500 milhões em 2026 e ser eliminada a partir de 2027. Cada 1% de lacuna representa uma redução estimada de 2% no NPV.Risco nº 3O JPMorgan estima que as tarifas da Sabesp devem crescer cerca de 22 pontos percentuais acima da inflação nos próximos cinco anos, refletindo o aumento da RAB. Contudo, reconhece que, como em toda empresa regulada, há risco de resistência política a reajustes tarifários reais.Para mitigar esse risco, o governo do Estado de São Paulo se comprometeu a utilizar os recursos da privatização (mais de R$ 7 bilhões) para subsidiar os aumentos e garantir, para o consumidor final, reajustes alinhados à inflação passada.Ainda assim, os analistas consideram a fricção política para aumentos tarifários como uma fonte relevante de percepção de risco regulatório elevado, especialmente se houver pouca transparência nas estimativas do regulador. O relatório inclui análises de sensibilidade para os três fatores de risco descritos.The post Sabesp (SBSP3): oásis ou miragem na Bolsa? Como o JPMorgan enxerga as ações appeared first on InfoMoney.