Rastreamento do câncer: proteção real ou excesso de exames?

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Nem toda doença pode ou deve ser rastreada. No caso do câncer, o rastreamento é uma estratégia eficaz apenas quando existem evidências sólidas de que detectar precocemente a doença ou suas lesões precursoras reduz a mortalidade e melhora a qualidade de vida. Assim, não se trata de “exames preventivos” genéricos, mas de ações específicas voltadas a grupos definidos de risco, com base em idade, sexo e histórico clínico.O que é rastreamento e como ele se aplica ao câncer?Rastreamento é a realização sistemática de exames em pessoas assintomáticas, com o objetivo de identificar lesões pré-malignas ou tumores em estágios iniciais, em doenças onde isso impacta diretamente a sobrevida. Essa abordagem só é válida quando: A doença tem um período assintomático em que pode ser detectada; Existem exames com boa sensibilidade e especificidade; A detecção precoce traz benefício comprovado em termos de mortalidade; As intervenções após o diagnóstico precoce são eficazes e acessíveis.Por isso, nem todo câncer é rastreável, e os programas populacionais se restringem a tipos específicos em que essas condições são atendidas.Cânceres com rastreamento por imagem validadoEntre os tumores em que o rastreamento com exames de imagem é recomendado em contextos clínicos ou populacionais, destacam-se: Câncer de mama: a mamografia, a partir dos 40 ou 50 anos (dependendo da diretriz), é indicada para mulheres com risco médio, com impacto comprovado na redução da mortalidade. Câncer de pulmão: a tomografia de tórax de baixa dose é indicada para tabagistas ou ex-tabagistas pesados, entre 50 e 80 anos, com histórico de exposição significativa (30 maços-ano). Câncer de colo do útero: embora a imagem não seja o método primário, o rastreamento com citologia e, mais recentemente, testes de HPV, permite identificar lesões precursoras antes da malignização. Câncer de cólon e reto: a colonoscopia é o método padrão, mas a colonografia por tomografia (colonoscopia virtual) pode ser uma alternativa em populações específicas. Câncer de próstata: a imagem entra como complemento em casos selecionados. O rastreamento envolve PSA e toque retal, com uso crescente de ressonância multiparamétrica em decisões clínicas. Melanoma: embora o rastreamento por imagem não seja aplicado rotineiramente, o exame físico da pele e dermatoscopia fazem parte das estratégias de detecção precoce em populações de risco elevado.O risco dos exames fora de contextoÉ comum que pacientes busquem exames de imagem como forma de “check-up”, mas isso pode trazer mais riscos do que benefícios. Quando um exame é realizado fora das diretrizes: Aumenta-se a chance de achados incidentais, que geram ansiedade e levam a biópsias ou procedimentos desnecessários; Pode ocorrer o sobrediagnóstico, ou seja, detecção de tumores que não trariam prejuízo à saúde; Há exposição à radiação em exames como tomografias, o que, em excesso, pode ser prejudicial; O sistema de saúde ou o paciente arca com custos elevados sem real benefício clínico.Protocolos baseados em evidências: quando rastrear vale a penaA medicina atual baseia-se em diretrizes bem estabelecidas, elaboradas a partir de estudos populacionais de longo prazo. Elas definem quem deve fazer o rastreamento, com qual frequência e com qual exame. São construídas para maximizar os benefícios e minimizar os riscos, respeitando critérios de custo-efetividade, impacto clínico e segurança do paciente.Por isso, o rastreamento deve ser sempre individualizado e orientado por profissionais de saúde, especialmente em casos com histórico familiar ou fatores de risco adicionais.Felipe Roth Vargas (CRM 155352 SP | RQE 94668)Radiologista e membro da Brazil Health Leia também Veja como as fibras ajudam na prevenção do câncer colorretal Velório de Preta Gil será no Theatro Municipal do Rio em 25 de julho