Tecnologias como robôs e inteligência artificial já fazem parte da medicina moderna. Estas e outras ferramentas são utilizadas para aprimorar diagnósticos e indicar melhores tratamentos, aumentando as chances de cura de doenças e a qualidade de vida dos pacientes.O próximo passo, no entanto, será ainda mais disruptivo. O avanço que promete mudar de forma radical a medicina é a nova tecnologia quântica 2.0. Sua base é a mecânica quântica, uma teoria formulada há mais de cem anos para descrever o comportamento das partículas em escalas microscópicas. A base desta tecnologia é estudar o comportamento das partículas em escalas microscópicas (Imagem: Gorodenkoff/Shutterstock)O que é saúde quântica?No decorrer do século XX, essa teoria deu origem ao que chamamos de tecnologias quânticas 1.0. Elas moldaram o mundo moderno com o surgimento dos lasers, ressonância magnética, semicondutores e, claro, de computadores.A era das tecnologias quânticas 2.0 explora propriedades ainda mais sutis da mecânica quântica, como a superposição e o emaranhamento. São esses princípios que revolucionarão a maneira como a física contemporânea poderá simular, prever e solucionar os desafios mais complexos da atualidade na saúde e em outras áreas do conhecimento.As tecnologias quânticas de segunda geração se dividem em três grandes áreas. A primeira é a computação, campo em que busca resolver problemas de maneiras fundamentalmente novas. A segunda é a comunicação, focada em garantir trocas de informação ultra seguras e, por fim, os sensores, um setor que promete medições com uma precisão sem precedentes. O potencial de aplicação de cada uma dessas frentes na saúde é enorme e pode reconfigurar desde a forma como diagnosticamos doenças até o desenvolvimento de novos tratamentos.Leia maisHospital brasileiro aposta na computação quântica para criar novos remédiosRegulamentar a IA na saúde é urgente e o Brasil já começou escrever esse capítulo5 doenças que a inteligência artificial já auxilia no diagnósticoBrasil também está participando desta revoluçãoEm artigo publicado no portal The Conversation, Felipe Fanchini, professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp), explica que a computação quântica, com sua capacidade única de processar sistemas complexos, promete um impacto profundo na saúde. Seu potencial se manifesta desde a aceleração no desenvolvimento de fármacos, ao simular moléculas que se tornarão novos medicamentos com precisão atômica, até a análise profunda da genômica para desvendar as raízes de doenças complexas.No campo clínico, essa mesma capacidade pode viabilizar, por exemplo, a geração de dados sintéticos realistas, um recurso fundamental para o avanço seguro da inteligência artificial na medicina. Pode também aprimorar muito os diagnósticos por viabilizar a detecção de padrões delicados em exames. Na análise de sinais biomédicos, como em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI), essas capacidades podem ser vitais. Nesse ambiente, a computação quântica pode oferecer não apenas a precisão para identificar um sinal de deterioração até então imperceptível em meio ao ruído de um Ecocardiograma (ECG), mas também conferir a agilidade necessária para alertar a equipe médica em tempo real.Felipe Fanchini, professor da UnespDesenvolvimento da nova tecnologia pode permitir a criação de tratamentos mais eficazes (Imagem: khunkornStudio/Shutterstock)O professor lembra que a computação quântica ainda está em fase inicial de desenvolvimento, e por isso ainda não está em uso na medicina ou em outras áreas, mas outras tecnologias quânticas já demonstram maturidade e aplicações mais imediatas. A comunicação quântica, por exemplo, pode oferecer canais para a troca de dados sensíveis entre hospitais e laboratórios, protegendo informações médicas contra ataques cibernéticos.Entre as inovações mais promissoras na saúde estão os sensores quânticos. São compostos por entes quânticos extremamente sensíveis, o que pode viabilizar desde exames de imagem com maior resolução e menor dose de radiação até a detecção precoce de doenças neurodegenerativas por meio da identificação de variações sutis em campos magnéticos cerebrais. Em ambientes clínicos, esses sensores também podem monitorar sinais vitais com precisão sem precedentes, abrindo caminho para diagnósticos mais rápidos, menos invasivos e mais eficazes.Felipe Fanchini, professor da UnespUm dos principais desafios é garantir que toda a população tenha acesso aos benefícios gerados pela nova tecnologia (Imagem: bixstock/Shutterstock)Fanchini observa que a transformação tecnológica já mobiliza bilhões de dólares em investimentos públicos e privados ao redor do mundo. Estima-se que o financiamento global em tecnologias quânticas tenha ultrapassado US$ 55 bilhões em 2025, com projeções que apontam para US$ 106 bilhões até 2040. O Brasil, após décadas de investimento modesto, começa enfim a sinalizar uma mudança de postura. Um dos principais focos tem sido a formação de recursos humanos, sobretudo nas universidades, onde grupos de excelência em física e ótica quântica vêm se consolidando ao longo das últimas três décadas.Iniciativas como o Instituto do Milênio, os Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia de Informação Quântica (INCT-IQ) e, mais recentemente, o Instituto Nacional de Computação Quântica Aplicada (INCT-CQA) têm desempenhado papel central na capacitação de um corpo técnico altamente qualificado. No entanto, a ausência de perspectivas fora (e mesmo dentro) do ambiente acadêmico tem levado muitos desses cérebros a buscar oportunidade no exterior. Quando falamos em infraestrutura, a situação é ainda mais crítica. Devido à uma escassez histórica de recursos financeiros, mesmo dentro das universidades, pesquisadores dedicados ao desenvolvimento de hardware quântico enfrentam enormes dificuldades.Felipe Fanchini, professor da UnespPara o especialista, no entanto, a interligação entre ciência, tecnologia e medicina também traz alguns desafios. Os principais envolvem questões éticas e sociais profundas, como a proteção de dados sensíveis e o acesso igualitário da população aos avanços na área.O post Saúde quântica 2.0: conheça o conceito que pode revolucionar a medicina apareceu primeiro em Olhar Digital.