Na Copa de 1938, na França, a seleção brasileira chegou entre as quatro melhores do torneio. As atenções estavam voltadas para o duelo de Marselha, no Estádio Velodrome. Brasil e Itália se enfrentaram no dia 16 de junho, mesma data de Hungria e Suécia, pelas semifinais. O grande desfalque foi Leônidas da Silva. Até hoje, a ausência dele é cercada de polêmica. Uma versão diz que o atleta estava machucado, pois tinha se sacrificado no jogo anterior, contra a Tchecoslováquia. Mas o jornalista Orlando Duarte, autor de “Todas as Copas do Mundo”, afirma que o técnico Ademar Pimenta não escalou o melhor atleta nacional por um “orgulho tolo”. O treinador estaria poupando o “Diamante Negro” para uma eventual finalíssima. Mas o time precisava passar primeiro pela Itália.As principais cidades brasileiras viviam a expectativa para o duelo contra os italianos, depois da classificação contra a Tchecoslováquia: “Alegria popular em São Paulo. Em certos pontos do Rio, o tráfego ficou parado. Em Belo Horizonte, o ponto foi considerado facultativo nas repartições estaduais. Em Curitiba, o comércio fechou. As manifestações em Recife: ‘Nunca fui preso de tanta emoção, diz o general Christovam Barcellos’”, relatava a imprensa. A Itália era treinada por Vittorio Pozzo, técnico campeão do mundo em 1934. O palco do duelo contra os italianos foi o Vélodrome, em Marselha. O árbitro Wüthrich, da Suíça, teve um papel decisivo na partida. O primeiro tempo terminou empatado por 0 a 0. Na etapa final, Colaussi marcou aos 6 minutos. O lance mais controverso da Copa ocorreu aos 15 minutos. Domingos da Guia deu um pontapé em Piola dentro da área brasileira. A bola estava fora de jogo, mas o árbitro marcou pênalti. O grande zagueiro brasileiro sempre disse que o mais justo seria a expulsão dele e não a marcação do pênalti. Meazza converteu e fez 2 a 0. Romeu diminuiu para a seleção aos 42 minutos. A Itália estava novamente na decisão e iria tentar o bicampeonato. Ao Brasil, restou o consolo de disputar o terceiro lugar contra a Suécia: vitória nacional por 4 a 2. BRASIL 1 × 2 ITÁLIA – Marselha – 16.06.38Brasil: Walter, Domingos da Guia e Machado, Zezé Procópio,Martim e Affonsinho; Lopes, Luizinho, Romeu, Perácio e PateskoItália: Olivieri, Andreolo, Biavati, Gino Colaussi, Ferrari, Locatelli, Meazza, Foni, Silvio Piola, Rava e SerantoniÁrbitro: Hans Wüthrich (Suíça).Gols no segundo tempo: Colaussi (6), Meazza (15) e Romeu (42).Os dias seguintes foram marcados por protestos da imprensa contra a marcação do pênalti. O Globo dizia: “Façam justiça ao Brasil. O mais absurdo pênalti da história do futebol não pode nos eliminar da Taça do Mundo”. A delegação brasileira chegou a ameaçar deixar a França sem disputar o terceiro lugar.O locutor de rádio Gagliano Neto, testemunha ocular da partida, relatava: “Piola era muito esperto, caiu no chão fazendo um escândalo danado. O juiz marcou pênalti. Uma coisa incrível: a bola estava fora de campo e o jogo estava paralisado”. Surgiu na imprensa a informação de que a Fifa poderia rever o resultado do jogo. Mas, obviamente, a partida não foi anulada. “Porque a entidade máxima do futebol não levou em consideração a queixa do Brasil. Não tendo sido possível encontrar o representante da Fifa, foi entregue ao delegado da mesma, sr. Maurel, uma cópia do documento. O relatório do prélio”, relatou a Folha da Manhã. As imagens do jogo entre Brasil e Itália poderiam ajudar a tirar a dúvida sobre o pênalti: “O filme da partida foi posto à disposição da Fifa pelo sr. Generoso Ponce”. Siga o canal da Jovem Pan Esportes e receba as principais notícias no seu WhatsApp! WhatsApp A imprensa também lamentou a ausência de Leônidas da Silva, que voltaria a campo para o duelo contra a Suécia: “Com Leônidas tudo teria sido diferente.” Uma outra nota dizia que uma jovem de 23 anos, Maria de Lourdes, moradora de Fortaleza e torcedora apaixonada, ingeriu veneno depois da derrota da seleção brasileira. A reportagem diz apenas que ela se encontrava em estado grave em um hospital. Já no Rio de Janeiro, uma detenta de 18 anos teve um acesso de loucura com o resultado do jogo e precisou receber atendimento médico. A Copa do Mundo já mexia com os nervos dos torcedores. O craque Leônidas da Silva foi o artilheiro da competição com sete gols. Leia também A Copa de 50 foi disputada na 'era do rádio', e as imagens do Mundial são precárias Livro que retrata a Copa de 1950 é um dos melhores relatos sobre o Mundial