Minério nas máximas em cinco meses, acima de US$ 100, e ação registrando ganhos de mais de 6% em julho, enquanto o Ibovespa tem baixa de 3% no mesmo período. As ações da Vale (VALE3) têm um início de segundo semestre positivo após uma primeira metade do ano apagada, com os ativos encerrando o período próximos à estabilidade. Mas dá para se animar com as ações da companhia?De acordo com compilação da Reuters com analistas, o mercado está bem dividido: 8 possuem recomendação de compra e 9 têm recomendação neutra ou equivalente, ainda que tenha um preço-alvo de R$ 75,40, ou potencial de alta de 34,5% em relação ao fechamento de segunda-feira (21). Contudo, o mercado tem olhado com mais atenção para os ativos da companhia, tanto pelos movimentos de curto prazo do minério quanto por possíveis mudanças mais estruturais do setor. Em relatório temático, que pergunta quais são os próximos passos para a Vale, o Itaú BBA reiterou recomendação outperform (desempenho acima da média, equivalente à compra), com preço-alvo de R$ 74 (potencial de alta, ou upside, de 32% frente o fechamento de segunda) para VALE3 e de US$ 13 para o ADR (recibo de ações negociado na Bolsa de Nova York), ou potencial de alta de 28%. Segundo os analistas Daniel Sasson e equipe, que assinam o relatório do BBA, a Vale enfrentou desafios significativos nos últimos 18 meses, mas observam um aumento no interesse dos investidores na empresa. “Embora reconheçamos que o ambiente macroeconômico seja desafiador para as commodities em geral, devido às incertezas da escalada da guerra comercial, a Vale parece estar em uma posição operacional e estratégica diferente em comparação com seus pares australianos no setor de minério de ferro”, apontam os analistas do BBA, que comparam métricas e impulsionadores de crescimento para entender a dinâmica competitiva atual na indústria de minério de ferro e como ela evoluiu ao longo dos anos.Leia mais:CEO da Vale: “É difícil imaginar que valor das ações reflita a empresa hoje”Vale: China seguirá como maior cliente da mineradora? Como o CEO vê o mercado“Olhando para o futuro, acreditamos que a Vale está bem posicionada para melhorias operacionais, incluindo crescimento de volume e custos mais baixos, o que pode impulsionar a geração de fluxo de caixa livre e reduzir a diferença de avaliação em relação aos seus pares”, apontam os analistas do BBA.A transição energética, a descarbonização e o esgotamento devem impulsionar investimentos de capital significativos, ainda que os australianos devam implementar investimentos de capital por tonelada mais altos em comparação com a Vale. “Após uma década desafiadora, acreditamos que a Vale está agora em posição de capitalizar melhores tendências operacionais, expansão de volume e melhor percepção de mercado.Nos últimos cinco anos, certas características do setor permaneceram consistentes, aponta o BBA. A Vale e a FMG (Fortescue Metals Group) continuam a ter uma participação proporcionalmente maior de minério de ferro em seu mix de vendas (90-100%) em comparação com a Rio Tinto e a BHP (60-70%). De 2020 a 2025, os preços mais altos do minério de ferro (média acima de US$ 120/tonelada) ajudaram todas as empresas a gerar mais caixa e pagar dividendos mais altos, mas a volatilidade dos resultados também é maior para a Vale e a FMG e justifica múltiplos de negociação mais baixos, enquanto outras mudaram estruturalmente. No início da década, prêmios de qualidade mais altos favoreceram a realização de preços da Vale. No entanto, os prêmios se estreitaram nos últimos anos e, juntamente com a piora do mix de produtos, impactaram a lucratividade. Em termos de custos, as pressões inflacionárias empurraram estruturalmente a curva de custos do setor para cima. Como referência, a BHP, a mineradora mais eficiente, viu seu custo total de caixa aumentar em US$ 8/tonelada de 2020 a 2024, enquanto outras grandes mineradoras sofreram impactos ainda maiores. Para os analistas, um novo ciclo de investimentos começou, mas desta vez é diferente. “As grandes mineradoras estão aumentando os investimentos novamente, mas desta vez com foco na transição energética e na descarbonização, particularmente em projetos de cobre e minério de ferro de alto teor. Notavelmente, a BHP e a Rio Tinto estão fazendo investimentos maciços em grandes projetos para esses metais”, ressaltam. Leia tambémIbovespa Ao Vivo: Confira o que movimenta Bolsa, Dólar e Juros nesta terçaÍndices futuros dos EUA operam sem forçaNo entanto, o desenvolvimento em larga escala está sempre sujeito a riscos de execução e estouros de investimento. “Entre os principais players, a Vale parece estar em uma posição vantajosa, com expansões de médio porte exigindo menor intensidade de capital, levando a métricas de investimento por tonelada mais favoráveis em comparação com os projetos maiores e mais caros realizados por seus pares. Após anos desafiadores, a Vale finalmente está em uma posição competitiva melhor. Embora reconheçamos que a Rio Tinto e a BHP mereçam múltiplos maiores devido ao seu mix de metais mais diversificado, acreditamos que há espaço para a Vale se recuperar”, apontam Sasson e equipe.Olhando para o futuro, o BBA prevê diversas tendências positivas para a empresa: i) aumento de volumes e maior flexibilidade nos teores de minério de ferro, o que, juntamente com a melhoria dos custos, pode aumentar a lucratividade; ii) expansões moderadas que ajudarão a Vale a aumentar a capacidade com investimentos controlados, sem comprometer a geração de FCF (fluxo de caixa livre); iii) taxas de esgotamento mais baixas em comparação com seus pares australianos, também auxiliando a Vale na economia de investimentos; e iv) um potencial aumento na entrada de ações devido ao retorno gradual dos investidores após a resolução do acordo de Mariana.E o curto prazo? Minério em alta ajuda açõesO Bradesco BBI também é uma das casas que possui recomendação equivalente à compra para os ativos e ressaltou também a recente alta do minério, que atingiu nesta semana as máximas em cinco meses. Os preços do minério de ferro (IO) continuaram sua tendência de alta, subindo mais US$ 4/t (tonelada) no período na segunda e ultrapassando a marca de US$ 100/t pela primeira vez em dois meses. “O momento positivo reflete o sentimento mais forte do mercado, apoiado por dados mais robustos de minério/aço — incluindo uma recuperação nas taxas de utilização do minério de ferro e um retorno às margens positivas para as siderúrgicas chinesas”, apontam, ressaltando que isso segue o compromisso renovado das autoridades chinesas de eliminar gradualmente a capacidade industrial obsoleta, juntamente com o anúncio de um projeto hidrelétrico no Tibete (composto por cinco barragens em cascata), que deverá impulsionar a demanda por materiais de construção e sendo a maior usina hidrelétrica do mundo.No Brasil, embora os preços do aço acabado tenham permanecido estáveis no último trimestre, o BBI continua vendo tendências mistas para o futuro — enquanto a pressão de baixa provavelmente persistirá no aço plano, os preços do aço longo parecem ter atingido o fundo do poço, com potenciais aumentos de um dígito médio possivelmente sendo implementados em julho. No geral, o BBI mantém sua preferência pela Vale, em vez da Gerdau (GGBR4), Usiminas (USIM5) e CSN (CSNA3), essas três últimas com recomendação neutra.Leonardo Araújo, especialista em Investimentos e sócio da GT Capital, ressalta que a VALE3 é muito influenciada pelo movimento do preço do minério de ferro, sendo o principal catalisador por trás da recente valorização das ações da companhia.Enquanto isso, o analista observa alguns múltiplos interessantes para o ativo: o P/L (preço sobre lucro) em torno de 7,96 vezes, o P/VP (preço sobre o valor patrimonial) em 1,24 vez, e um dividend yield (dividendo sobre o preço da ação) nos últimos 12 meses na casa dos 8,62%. “Esses números sugerem que o ativo pode estar ficando ‘muito barato’ para quem pensa em uma alocação de médio a longo prazo. É como se o preço de VALE3 não estivesse mais ‘aguentando o desaforo’ de permanecer pressionado”, avalia. Leia tambémTotvs (TOTS3) adquire empresa de software Linx, da Stone, por R$ 3 bilhõesOperação envolve parte do negócio de software da Linx e será financiada com recursos próprios e dívida a ser contratadaAções do Fleury saltam 15% com notícia de compra por Rede D’Or: o que mudaria?Ambas companhias informaram que não chegaram a nenhum acordo para unificar seus negóciosEle aponta que a alta recente está diretamente ligada à valorização do minério, que por sua vez é fortemente influenciada pela China, mas ainda havia questionamentos sobre se este movimento tem mais um caráter especulativo do que estrutural. Contudo, o anúncio da construção do projeto hidrelétrico de US$ 170 bilhões para impulsionar o crescimento econômico chinês levou a um maior otimismo com a commodity. A medida também gerou otimismo de que o governo chinês pode se voltar às estratégias tradicionais de estímulo fiscal para impulsionar o crescimento econômico, disse o ANZ, com o sentimento positivo também apoiado pelos esforços contínuos para reduzir a concorrência excessiva e o excesso de capacidade na indústria siderúrgica.De olho na prévia operacionalOlhando mais para o curtíssimo prazo, o mercado fica de olho na prévia operacional da Vale, a ser divulgada nesta terça (22) após o fechamento das negociações em Bolsa. O Bradesco BBI estima que a produção de minério de ferro deva atingir 82 milhões de toneladas, 2% maior em relação ao ano anterior (e 22% em relação ao trimestre anterior), refletindo os volumes incrementais de Capanema e Vargem Grande. No entanto, prevê que as vendas de minério de ferro e pelotas devam cair 3% em relação ao ano anterior (embora 17% maiores em relação ao trimestre anterior), para 77 milhões de toneladas, impactadas pela estratégia da Vale de concentrar mais volumes na China. Ao mesmo tempo, espera que os preços realizados do minério de ferro caiam 14% em relação ao ano anterior (ou 6% em relação ao trimestre anterior), para US$ 85/tonelada, refletindo índices de referência mais baixos, enquanto os preços das pelotas também devam cair em meio à queda contínua dos prêmios. A projeção também é de que o desempenho dos custos permaneça forte, com o C1 (excluindo compras de terceiros) em queda de mais 9% em relação ao ano anterior (mas 8% maior em relação ao trimestre anterior), para US$ 22,6/tonelada. No lado dos Metais Básicos, a projeção é de que o Ebitda chegue a US$ 515 milhões (contra US$ 554 milhões no 1T25), com o declínio sequencial explicado principalmente por um aumento nos custos, parcialmente compensado pela maior produção e preços realizados. A Vale deve publicar seus resultados no próximo dia 31 de julho, o próximo grande evento da companhia que será observado de perto pelo mercado. (com informações da Reuters)The post VALE3: minério acima de US$ 100 e ações em alta; dias bons para a Vale vão continuar? appeared first on InfoMoney.