Ficar horas no celular já virou parte da rotina da maioria das pessoas. Entre responder mensagens no WhatsApp, participar de reuniões online, rolar o feed do Instagram, assistir a vídeos no TikTok ou pedir comida por aplicativo, o tempo simplesmente desaparece. No Brasil, isso é ainda mais intenso do que parece: segundo levantamento da plataforma Electronics Hub, com base no relatório Digital 2023 da DataReportal, os brasileiros passam, em média, nove horas por dia em frente às telas – o que representa 56,6% do tempo em que estão acordados. É o segundo maior índice do mundo, atrás apenas da África do Sul. O mais preocupante é que, mesmo com tanta exposição, muita gente ainda não enxerga esse hábito como um exagero.O celular se tornou tão presente na rotina que, muitas vezes, já não dá para separar o que é trabalho, lazer ou estudo quando se está com o aparelho em mãos. Mas passar oito horas ou mais por dia diante da telinha pode trazer consequências reais para o corpo e a mente. Cansaço visual, ansiedade, ombros tensionados e até insônia são alguns dos efeitos que esse hábito pode desencadear – e eles vão muito além do que se imagina. A seguir, entenda o que acontece com o organismo quando o uso do smartphone se prolonga além da conta e descubra como pequenas mudanças de comportamento podem fazer a diferença.🔎 Usa celular no vaso? Isso pode ser mais perigoso do que parece; entenda➡️ Canal do TechTudo no WhatsApp: acompanhe as principais notícias, tutoriais e reviewsEvite usar o celular enquanto comeReprodução/Freepik📝 Como favoritar um local no Google Maps? Confira no Fórum do TechTudoFicar 8h no celular pode causar problemas reais no corpo; entendaO TechTudo reuniu uma série de informações que você precisa saber sobre o uso prolongado do celular. Passar mais de oito horas na frente das telas pode ser nocivo para os olhos, mente, além de estimular o sedentarismo. A seguir, confira os tópicos que serão abordados neste guia.A cena é comum: você passa o dia todo no celular – e nem percebeO que acontece com o corpo durante esse período prolongado de uso?O uso é contínuo ou intermitente? Isso faz diferença?Especialistas comentam os riscos do uso prolongado do celularHá formas de reduzir os impactos sem abandonar o celular?Imagem ilustrativa de uma criança usando o celular para jogarTima Miroshnichenko1. A cena é comum: você passa o dia todo no celular – e nem percebeO número de horas pode até parecer exagerado à primeira vista, mas basta somar o tempo que cada usuário passa checando mensagens, vendo vídeos curtos, usando o celular para trabalhar ou estudar por meio de aplicativos, e logo, as oito horas se acumulam. Para muitas pessoas, esse uso é fragmentado ao longo do dia, o que dá a falsa sensação de que “não foi tanto assim”. Contudo, o corpo sente cada minuto, principalmente quando não há pausas ou variação de tarefas, como explica Dra. Karina Stryjer.O celular pode de fato causar uma sobrecarga sensorial e estafa mental gerando consequências, tais como dispersão continua do foco e atenção, sensação de agitação constante por conta do consumo inadequado de conteúdos, muitas vezes, violentos e depreciativos”, explica.Segundo a pesquisa TIC Domicílios 2022, 92 milhões de brasileiros acessam a Internet apenas pelo celular. Além disso, mais da metade dos entrevistados relatam uso diário da rede – o que, combinado com o dado da DataReportal sobre o tempo médio de tela, mostra que esse comportamento é estrutural, e não pontual. Ou seja, ficar oito horas no celular já é a rotina real de milhões de pessoas, não um exagero hipotético.2. O que acontece com o corpo durante esse período prolongado de uso?Crianças usando celular na sala de aulaRDNE Stock project/PexelsOs olhos estão entre os órgãos mais afetados: o uso contínuo da tela pode causar ressecamento ocular, vermelhidão, vista embaçada e fadiga ocular digital – um conjunto de sintomas que inclui dor nos olhos, lacrimejamento e dificuldade de focar. Para o Dra. Lucas Ortolan, especialista em cirurgia refrativa e doutor em oftalmologia pela USP, o uso do celular por longas horas pode gerar problemas sérios, especialmente em crianças e adolescentes:O uso prolongado de dispositivos digitais, como celulares e tablets, especialmente na infância, pode causar danos permanentes à visão. Crianças e adolescentes que passam muito tempo em frente às telas e realizam atividades de perto excessivas têm um risco maior de desenvolver miopia e alta miopia, que é a dificuldade para enxergar de longe, ou de ter seu grau aumentado”Um estudo com estudantes universitários na Arábia Saudita apontou que 66% apresentaram sintomas oculares após uso prolongado do smartphone, especialmente dor e sensação de secura. A luz azul emitida pelas telas ainda pode inibir a produção de melatonina, prejudicando o sono e o descanso noturno. A luz azul emitida pelos celulares (e outras telas digitais) pode atrapalhar o seu sono. Isso acontece porque ela interfere no ritmo circadiano do nosso organismo, que é o relógio biológico que regula a produção dos hormônios do dia e da noite, como a melatonina”, complementa Ortolan. Já do pescoço para baixo, a lista de impactos físicos cresce. Ficar muito tempo com a cabeça inclinada para olhar o celular sobrecarrega a coluna cervical, podendo causar o chamado text neck, além de dores nos ombros e nos punhos. "A postura que comumente adotamos ao ficar no celular gera uma sobrecarga nos músculos da região do pescoço e coluna (cervical e torácica), a musculatura fica tensionada por sustentar a cabeça inclinada por muito tempo”, detalha a fisioterapeuta Dra. Débora Botte.A repetição constante de toques e deslizes na tela também pode levar a condições como tenossinovite, conhecida como “dedo de celular”. “Há risco de tendinites no polegar e punho, em alguns caso no antebraço também. No polegar ocorre devido movimentos repetitivos de digitação, deslizar e de segurar o aparelho”, detalha a especialista.Nos braços e antebraços, a tensão acumulada gera rigidez muscular e sensação de formigamento. Além disso, o sedentarismo associado ao uso contínuo do celular pode comprometer a circulação, provocando inchaço nas pernas e risco de problemas vasculares. Para o educador físico, Erik Rodrigues Botte, sintomas como: “Má postura; fadiga em poucos movimentos; dores nas articulações; perda de força e também possíveis sinais de depressão e desenvolvimento de algumas patologias, que podem se tornar casos crônicos”, são sinais de alerta. 3. O uso é contínuo ou intermitente? Isso faz diferença?Imagem ilustrativa de um rapaz que começa a dar indícios de estafa mental após o uso prolongado de celularReprodução/pikisuperstar/FreeP!kMuita gente acredita que usar o celular aos poucos, em pequenos blocos ao longo do dia, ameniza os efeitos nocivos. De fato, intercalar o uso com pausas e mudanças de postura pode reduzir a sobrecarga física. Alternar a posição do corpo, levantar-se para andar, ou simplesmente olhar para o horizonte ajudam a descansar olhos e músculos. Estratégias como a regra 20-20-20 — olhar para algo a 6 metros de distância por 20 segundos a cada 20 minutos — são indicadas para preservar a visão.Por outro lado, mesmo o uso fragmentado pode afetar negativamente o cérebro e a saúde mental. Isso porque o excesso de estímulos curtos e constantes, exige que o cérebro troque de foco o tempo inteiro, o que eleva os níveis de estresse e gera cansaço mental, como enfatiza Dra. Karina Stryjer.O excesso de estímulo digital não só deteriora a qualidade do foco e atenção, como também muda a qualidade do sono e nao permite o repouso e revitalização completa do organismo, gerando irritabilidade e mudanças bruscas de humor”.O padrão de consumo intermitente ainda favorece a perda de atenção sustentada, prejudicando o rendimento em tarefas complexas e gerando sensação de frustração por não conseguir manter o foco por longos períodos.4. Especialistas comentam os riscos do uso prolongado do celularImagem ilustrativa de um médico testando a visão do pacienteReprodução/FreeP!kSegundo o Dr. Lucas Ortolan, o uso demasiado de dispositivos móveis pode desencadear problemas sérios a longo prazo: “Sabemos que a miopia está em aumento global por conta dessa exposição. Estudos na área, como o de Brien Holden e colaboradores, indicam que, se essa tendência continuar, aproximadamente 49,8% da população mundial será míope até 2050.”A fadiga ocular digital é outro grande ponto de atenção, segundo o especialista: “Ela pode se manifestar de várias formas, como olho seco, sensibilidade à luz (fotossensibilidade), desconforto ou aversão à tela, olhos vermelhos, dor de cabeça, embaçamento da visão no final da tarde e coceira nos olhos”. Essa sensação de desconforto, faz com que os pacientes esfreguem os olhos com frequência e isso pode desencadear: “sintomas alérgicos, machucar a superfície do olho, conhecida como córnea, e aumentar o risco de desenvolver ceratocone”. A fisioterapeuta Dra. Debora Botte, por sua vez, alerta a respeito dos riscos em se manter na mesma posição por longas horas, já que esse comportamento, pode gerar a compressão dos discos intervertebrais, gerando lesões como a hérnia de disco. No campo da saúde mental, a Dra. Karina Stryjer alerta que o uso constante do celular pode levar à sobrecarga sensorial e até à estafa mental, já que muitas pessoas se sentem pressionadas a responder a todos os estímulos o tempo todo. A dificuldade de se desconectar – mesmo fora do expediente – prejudica o descanso e compromete a qualidade do sono.Já do ponto de vista físico, o educador Erik Rodrigues Botte explica que passar longos períodos parado pode causar impactos graduais. A redução da mobilidade favorece o sedentarismo e afeta a circulação sanguínea, provocando dores nas pernas, sensação de peso, formigamento e, em casos mais graves, aumentando o risco de trombose – especialmente em pessoas com histórico familiar. 5. Há formas de reduzir os impactos sem abandonar o celular?Apple pode investir em ferramentas voltadas para a saúde e atividade físicaReprodução/Flickr / Ed Yourdon / CC BY-SA 2.0A resposta curta é: sim, o celular pode fazer parte da rotina sem causar grandes prejuízos – desde que usado com consciência. Apesar dos riscos do uso excessivo, o aparelho também traz benefícios importantes, como facilitar o trabalho, oferecer lazer e ampliar o acesso ao conhecimento. Para evitar os efeitos negativos do uso excessivo, vale adotar pequenas atitudes no dia a dia:Fazer pausas regulares ao longo do uso;Aplicar a técnica Pomodoro: 25 minutos de foco seguidos por 5 minutos de descanso;Seguir a regra 20-20-20 para os olhos: a cada 20 minutos, olhar para algo a 6 metros (20 pés) de distância por 20 segundos;Ajustar o brilho da tela para evitar fadiga ocular;Ativar o modo noturno em ambientes escuros;Limitar notificações para reduzir distrações;Apoiar o celular em suportes, evitando forçar o pescoço;Alternar entre posições ao longo do dia para manter o corpo em movimento;Fazer alongamentos rápidos para aliviar tensões;Usar recursos de áudio, como leitura em voz alta e podcasts, para descansar os olhos.A tecnologia pode (e deve) ser uma aliada – o segredo está em usá-la com consciência, cuidado com o corpo e atenção à saúde mental.Com informações de cetic.br, Datareportal, National Library of Medicine (1 e 2), Stanford e USPLeia tambémVeja também: 3 coisas que SUMIRAM no iPhone — e você sente falta!3 coisas que SUMIRAM no iPhone — e você sente falta!