Poucos dispositivos se tornaram tão essenciais para a vida no século XXI como o GPS. Na verdade, o Global Positioning System, Sistema de Posicionamento Global, é a metonímia para o Sistema Global de Navegação por Satélite (GNSS), já que é apenas um dos sistemas do mundo que realiza essa função. No vernáculo mundial, mesmo o GPS sendo apenas o sistema norte-americano, se tornou sinônimo do conjunto de satélites em órbita de nosso pequeno planeta azul, que permite a posição geográfica precisa e imediata usando sinais de rádio. Apesar do pioneirismo e inovação dos Estados Unidos, tornando o GPS operacional desde 1995, há pelo menos outros cinco sistemas em ampla utilização no mundo.A Rússia possui o sistema Glonass desde a década de 1990, enquanto a União Europeia conseguiu tornar o Galileo funcional de forma plena em 2024. Além destes dois, temos o sistema BeiDou, da China, o IRNSS, da Índia, e o japonês QZSS, sendo os últimos dois operacionais em nível regional apenas na Ásia. Ter o seu próprio GNSS se tornou uma das prioridades de nações que buscavam projeção global e soberania tecnológica. Poder controlar seu próprio sistema não evita apenas manipulação de dados estratégicos por países hostis, mas garante autonomia militar, maior segurança nacional e vantagens econômicas. Infelizmente, o Brasil também não figura dentre as nações com esse tão delicado, mas fundamental atributo.O Brasil depende completamente de sistemas estrangeiros para possibilitar ao seu governo, forças armadas e cidadãos ter acesso a um GNSS. O GPS dos Estados Unidos tem um uso estimado na faixa de 65% dos aparelhos e dispositivos no Brasil, enquanto o russo Glonass, na segunda posição, está restrito apenas a 15%. A cooperação com os europeus para o uso do sistema Galileo tem crescido, mas ainda longe de representar qualquer concorrência à forte dependência de nossos civis e militares do sistema norte-americano. Um GNSS completo e operacional exige dezenas de satélites e centros de controle em solo, com custos totais na casa dos bilhões de dólares, inviabilizando economicamente o desenvolvimento de um sistema próprio. Sendo um país historicamente neutro em conflitos geopolíticos, a urgência estratégica da questão sempre foi negligenciada, enquanto os sistemas dos aliados sempre nos serviram bem.Em um mundo em constantes e crescentes crises geopolíticas e econômicas, até os mais inofensivos dos aliados ou os mais neutros das assembleias são afetados. A guerra tarifária iniciada por Donald Trump em 2025 também chegou ao Brasil e tomou características bem peculiares ao se misturar com questões de política interna. A proximidade da atual família presidencial dos Estados Unidos com a última família presidencial do Brasil mesclou em uma só cartada economia, geopolítica e ideologia. À medida que se espera a confirmação de 50% de tributos aos produtos brasileiros que chegarem aos Estados Unidos, muitos especialistas aventam a possibilidade de maiores retaliações dos norte-americanos, caso Donald Trump não alcance seus objetivos apenas através da pressão tarifária.Nesse contexto nebuloso, os 65% de dependência da economia brasileira e dos brasileiros ao GPS foi rapidamente relembrada. A. possibilidade de interrupção do uso do sistema ou degradações intencionais pelos norte-americanos poderia, de fato, deixar o Brasil em caos econômico e logístico durante a vigência da manobra. A agricultura de precisão que utiliza plantio automatizado, mapeamento dos solos e monitoramento da produtividade depende intrinsecamente do uso do GPS. Sendo o agronegócio responsável por mais de 25% do PIB nacional, qualquer interrupção do sistema poderia causar uma repentina queda na produtividade e aumento expressivo de custos, o que pressionaria a inflação, sobretudo de alimentos. Na área de logística e transporte, um país que basicamente depende das rodovias e dos caminhões para funcionar, estaria literalmente sem rumo. O rastreamento de rotas, a segurança de cargas e o controle de mercadorias deixariam de trabalhar da forma como trabalham hoje, acarretando grandes distúrbios de abastecimento de itens essenciais a itens de luxo, elevando mais uma vez os preços de maneira generalizada. A aviação nacional seria também grandemente impactada, ocasionando atrasos e cancelamentos em voos, maior risco de acidentes e atrasos nos transportes de cargas. Poderíamos ainda listar o caos nas telecomunicações, na engenharia civil de obras públicas e privadas, sem mencionar as áreas de defesa e de segurança pública. Siga o canal da Jovem Pan News e receba as principais notícias no seu WhatsApp! WhatsApp Resumidamente, o caos em setores logísticos e estratégicos seria medido em prejuízos de bilhões de reais por semana, inflação altíssima e possivelmente até em mortes de inocentes. Considerando os impactos diplomáticos e até mesmo econômicos para os próprios americanos, a tese que Donald Trump simplesmente “desligaria” completamente o GPS no Brasil, se mostra alarmista e equivocada. Todavia, formas parciais de bloqueio poderiam de fato ser utilizadas como uma ferramenta de coerção geopolítica. Degradar o sinal civil, cortar atualizações ou até mesmo bloquear o acesso regionalmente em pontos específicos, poderia não ter o resultado apocalíptico de uma interrupção total, mas alcançaria a preocupação desejada para pressionar uma mudança de rumo econômico ou político internamente no Brasil. As incertezas de um ano de manchetes que variam de enfadonhas para trágicas, alimentam o imaginário popular com a possibilidade de maiores problemas no horizonte. Infelizmente a diplomacia tem perdido espaço, enquanto conceitos de soberania são relativizados em todos os cantos do mundo. Leia também A violência sectária acomete a Síria mais uma vez