Garimpar produtos usados costuma oferecer boas oportunidades de economizar, seja nas feiras ou nos mercados digitais – mas essas negociações podem se tornar mais arriscadas. Ao menos é o que aponta um novo relatório da Zenox, empresa especializada na área de inteligência de dados e cibersegurança. O texto, publicado neste mês de julho, alerta para um novo tipo de golpe que envolve recibos falsos com fidelidade alta aos originais.Golpe da 'taxa do Pix' usa notícia falsa para cobrar imposto que não existeEsses recibos forjados são usados para enganar compradores em sites de revenda, marketplaces e redes sociais. Completo e representando uma réplica fiel ao emitido pelas marcas oficiais, o documento simula uma compra real, com valores, datas, marcas e até emails falsos. Com isso, o estelionatário consegue aplicar o golpe com mais credibilidade, garantindo legitimidade a produtos falsos. Em muitos casos, o consumidor só percebe a fraude após tentar suporte com a marca.TikTok de divulgação dos serviços de criação de recibos falsos. Fonte: Zenox/Reprodução.Para piorar o caso, os recibos fraudados ainda podem ser obtidos sem dificuldades na internet. Conforme detalham os dados da Zenox, há serviços automatizados para criação das réplicas, com direito a um extenso catálogo de marcas. Não é necessário um conhecimento técnico apurado em softwares ou programação: para realizar os recibos falsos, basta o criminoso pagar uma taxa e acessar uma ferramenta intuitiva.Como funciona o ‘Golpe do Recibo’?Para começar, o esquema convida possíveis interessados com sites desenvolvidos em estética profissional para funcionar como uma vitrine. Adiante, o usuário deve efetuar um pagamento avulso ou mensal, que permite acesso a servidores dedicados em comunidades fechadas, como o Telegram ou o Discord. Lá, há uma infraestrutura para descomplicar o crime, com direito à suporte aos clientes e ferramentas automatizadas para a fraudação de documentos.Para utilizá-las, basta preencher um formulário simples com nome, valor da compra, data e marca. Em segundos, o serviço gera uma imagem, PDF ou até e-mail com aparência quase idêntica aos recibos reais. Em muitos casos, os golpistas escolhem marcas populares ou de luxo para dar mais “peso” ao golpe.Fonte: Zenox/Reprodução.Adiante, os recibos falsos são usados para facilitar a revenda de produtos piratas ou de origem criminosa, como furto ou roubo, como se fossem legítimos. Leiga, a vítima pode entender o documento como uma garantia de procedência, minimizando as suspeitas iniciais.Consumidor final e mercado de usados são os principais alvosNa prática, as principais vítimas são os consumidores finais, já que o golpe não é eficaz contra sistemas de lojas ou pequenos varejos. Os consumidores que serão lesados, a princípio, acreditam que estão fazendo um bom negócio, amparado pelo recibo falso. Frequentemente, o crime só é percebido quando há alguma desconfiança posterior sobre o produto, que tende a levar aos canais de atendimento oficial da marca. Lá, o cliente verifica que nunca houve uma compra legítima.'Professor do golpe' é preso em operação contra site que ensina cibercrimesConforme esperado, a incidência desses golpes tende a ser muito maior na internet, por meio de marketplaces digitais. Além dos próprios clientes, essas plataformas de facilitação de vendas também são afetadas, já que precisam lidar com denúncias, reembolsos e perda de confiança dos usuários. No longo prazo, ocorrências como essa poderiam se acumular, onerando custos de operação e manchando a reputação dos serviços.Exemplo de nota falsa, produzida pelos serviços. Fonte: Zenox/Reprodução.Por fim, ainda que em menor escala, as marcas afetadas enfrentam outros dois problemas. Elas têm sua imagem atrelada a produtos de baixa qualidade, quando o crime não é descoberto, e ainda precisam lidar com reclamações de consumidores enganados. Embora pareça uma realidade distante, ao considerar a dimensão das empresas, vale que a pirataria gerou um prejuízo de R$ 471 bilhões apenas em 2024, segundo a Associação Brasileira de Combate à Falsificação (ABCF).Golpe já mira nas marcas brasileirasSegundo o relatório da Zenox, o golpe começou a ser observado com maior frequência na Europa, mas já possui tendência de crescimento no Brasil. O principal indicador é a presença de várias marcas brasileiras nos ‘catálogos’ dos serviços, incluindo os setores de moda, beleza, tecnologia e eletrodomésticos. Fiéis, os recibos falsos são gerados com preços em real e dados de empresas locais.Catálogo de marcas, em um dos sites dos golpistas. Fonte: Zenox/Reprodução.Nesse contexto, destaca-se que a inclusão de uma marca em um gerador de recibos falsos depende apenas de demanda entre os próprios criminosos. Como tudo é automatizado, basta que alguém peça a adição de uma nova loja para que ela entre no sistema. Isso mostra como o golpe é adaptável e pode crescer rapidamente.Como evitar o Golpe do Recibo Falso?Para o consumidor final, a maior recomendação para evitar o Golpe do Recibo Falso é apostar em múltiplos fatores de segurança. Ao receber um documento de compra, peça também QR Codes ou códigos de registro dos produtos, que possam ser utilizados como um segundo fator de legitimidade.Para uma segunda frente de defesa, ao utilizar plataformas de vendas como a OLX ou Mercado Livre, centralize toda a comunicação pelos chats oficiais e evite usar números ou e-mails fornecidos. Prefira os sistemas de pagamento do próprio serviço, já que fornecem mais mecanismos de segurança. Apenas com esses passos, as transações se tornam mais seguras e fáceis para contornar problemas em potencial.Por fim, desconfie sempre de preços baixos, ainda que o produto possua um recibo de compra — verifique o histórico do vendedor, sua reputação e veja as avaliações de clientes antigos.E aí, o que achou do Golpe do Recibo Falso? Acha que pode se tornar uma ameaça maior no Brasil? Acesse o caderno de Segurança do TecMundo para mais dicas!