Há momentos em que a evolução tecnológica deixa de ser uma escolha estratégica e passa a ser uma questão de sobrevivência económica. A integração da inteligência artificial nos fluxos de trabalho representa um desses momentos. Enquanto a Europa ainda debate princípios, riscos e regulamentações, economias com menos estrutura e mais urgência, a IA já foi absorvida como infraestrutura operacional. El Salvador, por exemplo, oferece um campo de observação particularmente útil. Aqui, não se discute se a IA é benéfica. Aplica-se, porque o tempo não permite hesitação. E os resultados mostram o que acontece quando o pragmatismo substitui o receio.O impacto mais evidente da IA nos ambientes de trabalho não é a substituição de pessoas, mas a multiplicação do seu output. Um analista que trabalha com ferramentas de previsão automática consegue avaliar cenários e tomar decisões com uma velocidade que excede em muito a capacidade humana. Um gestor operacional que integra assistentes inteligentes nos seus sistemas de reporting passa a ter acesso a dados organizados, analisados e priorizados em tempo real. Uma equipa que recorre a modelos generativos para automatizar documentação técnica reduz em dias o tempo necessário para entregar valor. O ganho é quantitativo, mas também qualitativo. A atenção humana é libertada para a resolução de problemas concretos, enquanto a máquina cuida do ruído.Mais do que sandboxes teóricas de produtividade, esta mudança está a acontecer em ecossistemas como o salvadorenho, onde startups operam com equipas reduzidas, recursos escassos e prazos agressivos. A IA surge como forma de expandir a capacidade dessas equipas sem aumentar o headcount. A escalabilidade deixa de ser uma função do número de contratações e passa a ser uma função da integração tecnológica. Este modelo oferece um caminho claro para economias que querem competir sem depender de massa crítica populacional ou de infraestruturas tradicionais. A produtividade começa a depender do grau de adoção de sistemas inteligentes, e não do tamanho da força de trabalho.A Europa, com toda a sua capacidade institucional, capital humano e base científica, está em posição de liderança técnica. Mas essa liderança não se traduz automaticamente em produtividade económica. A hesitação política, a fragmentação regulatória e a resistência cultural à reconfiguração do trabalho criam fricção interna. Enquanto se debate a governança da IA, outras geografias estão a convertê-la em crescimento tangível. E a consequência, para lá de tecnológica, é fiscal, industrial e geopolítica. As economias que produzem mais com menos, ganham poder. As economias que mantêm estruturas ineficientes em nome da estabilidade, perdem tração.Nem tudo é produtividade, mas a produtividade não é um indicador neutro. É talvez o maior indicador de crescimento, e países que conseguem aumentar a sua produtividade agregada, especialmente em sectores não transacionáveis, criam excedentes reais, atraem investimento externo e libertam margem para políticas públicas e sociais com mais impacto. A IA, ao redistribuir a capacidade cognitiva das equipas e reduzir o custo da complexidade, oferece precisamente esta oportunidade. Recusá-la ou adiá-la equivale a aceitar um ciclo prolongado de estagnação, mascarada por indicadores artificiais. Que já agora, sem reflexo na qualidade de vida das populações, as deixam vulneráveis à predação populista que vemos assolar a Europa.El Salvador não é um modelo absoluto, mas é um espelho de possibilidades. Ao observar equipas que usam IA para expandir operações com uma agilidade que seria impensável numa estrutura europeia convencional, percebe-se que o debate não está no risco de perder empregos, mas no risco de perder relevância. A próxima década não será definida pela tecnologia em si, mas pela coragem com que os países a integram nos seus modelos produtivos. A Europa tem tudo, menos tempo. E o tempo, neste jogo, é convertido diretamente em crescimento económico por quem se atreve a aplicá-lo com inteligência, de qualquer natureza.O conteúdo IA: Que mercados aceleram enquanto a Europa debate? aparece primeiro em Revista Líder.