O apetite humano é regulado por uma complexa interação entre fatores hormonais, emocionais e neurológicos. Quando sentimentos como estresse e tristeza entram em cena, essa engrenagem pode se desestabilizar, provocando alterações alimentares significativas. Mas por que essas variações acontecem? Descubra agora.O impacto do estresse no apetiteO estresse é uma reação natural do organismo diante de situações desafiadoras. Em momentos assim, o corpo ativa o chamado mecanismo de luta ou fuga, liberando hormônios como CRH (hormônio liberador de corticotrofina) e cortisol, ambos com impactos diretos sobre o apetite. Mulher estressada e cansada comendo pizza à noite. / Crédito: Nicoleta Ionescu (Shutterstock/reprodução)De forma geral, o estresse agudo, que surge de forma súbita e intensa, tende a reduzir o apetite. Isso ocorre porque o CRH interfere no sistema digestivo, suprimindo o desejo de comer. Crédito: Tatyana Dzemileva (Shutterstock/reprodução)Além disso, o aumento do suco gástrico promovido pelo cortisol pode causar sintomas como náuseas, indigestão e diarreia, tornando a alimentação menos atraente.Por outro lado, em situações de estresse crônico, a resposta é inversa: os níveis prolongadamente elevados de cortisol estimulam o consumo de alimentos calóricos, principalmente ricos em gordura e açúcar. Isso ocorre porque o hormônio aumenta os níveis de grelina (conhecido como “hormônio da fome”) e reduz os de leptina (o “hormônio da saciedade”), incentivando a ingestão excessiva de alimentos. A repetição desse padrão pode levar ao chamado comportamento de comer emocionalmente, marcado por episódios de compulsão alimentar.A tristeza como fator inibidor ou estimulador do apetiteAssim como o estresse, a tristeza também afeta o apetite, mas de maneira um pouco diferente. Ilustração médica 3D do hipotálamo, responsável por divesas funções no cérebro, inclusive no controle do apetite e da sede. / Crédito: 3dMediSphere (Shutterstock/reprodução)Emoções como melancolia, desânimo e luto geralmente levam à inibição do apetite. A explicação está nas regiões cerebrais envolvidas no processamento emocional, como o hipotálamo e a amígdala cerebral, que também atuam no controle da fome. Quando dominadas por sentimentos negativos, essas áreas podem reduzir o estímulo à alimentação.No entanto, nem todas as pessoas reagem da mesma forma. Para alguns, a comida funciona como um refúgio emocional diante da dor ou da perda. Nesse caso, ocorre o fenômeno da fome emocional, caracterizado pela busca por alimentos para aliviar emoções desconfortáveis, que geralmente são de baixa qualidade nutricional, como doces e ultraprocessados. Segundo especialistas, essa prática ativa o sistema de recompensa cerebral, promovendo uma liberação de dopamina e serotonina, neurotransmissores associados ao prazer e ao bem-estar, criando um alívio momentâneo, mas com possíveis consequências negativas a longo prazo, como ganho de peso, culpa e problemas de saúde.Fome emocional e saúde mentalA fome emocional é um dos principais indicadores de que há um desequilíbrio na forma como uma pessoa lida com suas emoções. Comer emocional: mulher sozinha come doces assistindo TV durante a noite. / Crédito: Flotsam (Shutterstock/reprodução)Diferente da fome física, que se instala gradualmente, a fome emocional surge de forma repentina, não é saciada facilmente e, muitas vezes, vem acompanhada de sentimentos de culpa após a ingestão. Ela está comumente associada a transtornos como ansiedade, depressão, burnout e transtorno bipolar.Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) indicam que o Brasil é o país mais ansioso do mundo, com mais de 18 milhões de pessoas afetadas. Esse cenário torna ainda mais relevante o reconhecimento e o tratamento desses comportamentos, uma vez que podem evoluir para distúrbios alimentares mais graves.Diferenças individuais e fatores de riscoA maneira como o estresse e a tristeza afetam o apetite varia de pessoa para pessoa. Fatores genéticos, hormonais e comportamentais influenciam fortemente essa resposta. Mulher cruza garfo e faca com a boca selada por fita, simbolizando restrição alimentar. / Crédito: Motortion Films (Shutterstock/reprodução)Pesquisas apontam que mulheres, por exemplo, têm maior tendência a aumentar o consumo alimentar em situações de estresse, o que pode estar relacionado a questões hormonais e padrões socioculturais.Pessoas com histórico de restrição alimentar também são mais vulneráveis a episódios de compulsão sob estresse. Um estudo da George Mason University mostrou que essas pessoas tendem a romper o autocontrole quando estão emocionalmente abaladas, recorrendo a alimentos como forma de consolo.Leia mais:Semaglutida: como funciona a “caneta contra a obesidade”Obesidade está diminuindo o tamanho do cérebro dos humanosInstagram e TikTok pioraram transtornos alimentares durante a pandemiaEstratégias para lidar com as alterações no apetiteFelizmente, existem formas saudáveis de lidar com o estresse e a tristeza sem recorrer à alimentação como válvula de escape. Mulher comendo (Imagem: Prostock-studio/Shutterstock)A prática regular de exercícios físicos estimula a produção de endorfina, hormônio que gera sensação de prazer e bem-estar. Atividades como yoga, meditação, caminhadas e escrita terapêutica também são recomendadas para aliviar a carga emocional.Além disso, é importante identificar os gatilhos emocionais que levam à mudança no apetite. Reconhecer padrões e procurar ajuda psicológica ou psiquiátrica quando necessário pode ser fundamental. Pequenas ações, como manter alimentos saudáveis em casa e evitar o consumo impulsivo, também ajudam na construção de uma relação mais equilibrada com a comida.O post Por que estresse e tristeza podem alterar o apetite? apareceu primeiro em Olhar Digital.