A nove dias da entrada em vigor da tarifa de 50% anunciada pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros, integrantes do governo Lula e representantes do setor privado passaram a tratar como cada vez mais remota a possibilidade de suspensão da medida.O temor é de que o tarifaço imposto por Donald Trump, seja efetivamente implementado a partir de 1º de agosto, sem espaço para um acordo prévio.Segundo informações publicadas pelo O Globo, confirmadas por fontes próximas às negociações, o envio de uma missão oficial do Executivo a Washington ainda está em avaliação, mas sem decisão tomada. Entre os obstáculos, estão o tratamento reservado dado ao Brasil pela gestão Trump e a atuação paralela da missão parlamentar brasileira, que viajará aos EUA entre os dias 29 e 31 de julho.Leia tambémQuais são os próximos passos após defesa de Bolsonaro dar esclarecimentos a Moraes?Moraes decidirá se Bolsonaro descumpriu as medidas cautelares a que está submetido desde sexta-feira passadaCongresso ainda vota algo em 2025? Embate com Lula deve dar tom do segundo semestreParlamentares têm em pauta quando voltarem do recesso, em agosto, matérias de interesse do governo, como isenção de IR e tarifa social da energia elétricaDesde maio, o governo brasileiro aguarda resposta a uma carta enviada aos Estados Unidos propondo uma negociação baseada em listas de produtos de interesse bilateral. A proposta envolvia a identificação, por parte dos americanos, de bens que gostariam de exportar ao Brasil, e a indicação, por parte do Brasil, de mercadorias que os EUA poderiam importar sem sobretaxa.Apesar de contatos informais entre diplomatas dos dois países, o governo americano ainda não respondeu oficialmente. Na semana passada, o Itamaraty reiterou o pedido. Fontes diplomáticas apontam que, enquanto não houver resposta, o Brasil seguirá insistindo em um canal institucional para evitar a entrada em vigor da tarifa.Nesta quarta-feira (23), o Brasil condenou na Organização Mundial do Comércio (OMC) o uso crescente de tarifas como ferramenta de coerção política e alertou para os riscos à estabilidade econômica global. Embora sem mencionar diretamente os Estados Unidos ou o presidente Donald Trump, o embaixador Philip Gough afirmou que “as negociações baseadas em jogos de poder são um atalho perigoso para a instabilidade e a guerra”.Pressão do setor privadoDiante do impasse, a estratégia passa a depender de dois eixos: intensificar os esforços diplomáticos e mobilizar empresas americanas que operam no Brasil ou que dependem de insumos brasileiros. A expectativa é de que esse grupo pressione Washington, repetindo a fórmula usada com sucesso por países como União Europeia, Canadá e México durante episódios semelhantes sob a gestão Trump.A retaliação direta com elevação de tarifas sobre produtos americanos, por ora, está praticamente descartada. Empresários brasileiros avaliam que a medida teria impacto inflacionário interno, elevando custos de produção. Como alternativa, o governo considera ações em áreas sensíveis, como propriedade intelectual, com possibilidade de endurecimento em patentes farmacêuticas ou na tributação de produtos culturais como filmes e livros.Com US$ 40 bilhões exportados para os EUA em 2024, o Brasil representa apenas 1,2% das importações totais americanas (US$ 3,3 trilhões), o que reduz seu peso estratégico em comparação com outros parceiros. Nesse contexto, diplomatas defendem que o envio de integrantes do Executivo, mesmo sem garantias de resultado, seria a única forma de destravar o diálogo. Foi o que outros países afetados pelo protecionismo americano fizeram, buscando diretamente o USTR — escritório do governo responsável por negociações comerciais.Sanções contra MoraesO ambiente institucional também é marcado por atrito político. O presidente Lula tem feito críticas públicas ao protecionismo de Trump e à tentativa de ingerência dos EUA no Judiciário brasileiro. A gestão americana, por sua vez, alega que Bolsonaro é alvo de perseguição judicial e tem adotado medidas nesse sentido.Na última sexta-feira (18), o Departamento de Estado suspendeu os vistos do ministro Alexandre de Moraes, de outros seis magistrados do STF e do procurador-geral da República, Paulo Gonet. A medida acirrou a tensão entre os dois países e reduziu ainda mais a margem para um desfecho negociado no curto prazo.The post Governo vê margem pequena para adiamento de tarifa de 50% dos EUA, diz jornal appeared first on InfoMoney.