O bloqueio do uso de satélites e o “desligamento” do GPS estariam entre as novas sanções que podem ser aplicadas ao Brasil pelos Estados Unidos, depois da revogação do visto de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). A informação foi divulgada por aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro à Folha de S.Paulo, na última semana.A possibilidade de ficar sem utilizar o popular sistema de navegação, acionado para auxiliar em diversas tarefas no dia a dia, gerou grandes debates no X (antigo Twitter) durante o final de semana. Mas será que é mesmo possível desligar o GPS no Brasil?Leia também: STF proíbe Bolsonaro de acessar redes e obriga uso de tornozeleira eletrônica; veja como ela funcionaSe os EUA desligarem o GPS no Brasil, não mudará quase nadaA maioria dos celulares usa GLONASS (Rússia), Galileo (UE) e BeiDou (o melhor de todos, da China)BeiDou (China)46 satélites em operação, com a melhor cobertura global pic.twitter.com/VyOZKNK1an— Geopoliticabrass (@Geopoliticabra2) July 19, 2025 Como funciona o GPS?Desenvolvido pelo Departamento de Defesa dos EUA, o Global Positioning System (GPS) surgiu com fins militares, por causa da corrida espacial com a então União Soviética. Mas no final da década de 1990, a tecnologia começou a ser difundida no meio civil, principalmente na aviação, chegando depois a diversos outros setores.No momento, o sistema possui um total de 31 satélites, distribuídos por seis planos orbitais cobrindo todo o planeta, fazendo com que pelo menos quatro deles estejam sempre visíveis ao receptor;Um sinal de rádio com a localização e o horário exato, com base em um relógio atômico, é transmitido por esses satélites;Quando capta essa transmissão o receptor compara o horário da chegada com o momento da emissão da mensagem, e é por meio dessa diferença de tempo que se calcula a distância entre ele e o satélite;A partir das informações disponibilizadas por quatro satélites distintos, o receptor triangula a sua posição com alta precisão.Caso os sinais sejam captados por apenas um ou dois satélites, a estimativa de localização fica prejudicada. Outro detalhe importante é que a onda de rádio se desloca à velocidade da luz, com variações de frações de segundo podendo representar milhares de quilômetros de diferença.Saiba mais: Veja opções de GPS portátil indicados para trilhas ao ar livreVale destacar que a versão do GPS utilizada pelo público em todo o mundo é a Standard Positioning Service (SPS). Já as forças militares americanas e de países aliados contam com uma versão diferenciada do sistema, denominada Precise Positioning Service (PPS).O sistema GPS é formado por 31 satélites, atualmente. (Imagem: Getty Images)O GPS pode ser desligado no Brasil?De acordo com especialistas ouvidos pela BBC, até existe a possibilidade de restringir o sinal do GPS em um determinado país, como o Brasil. Porém, isso afetaria várias outras nações nas proximidades, podendo ter impactos, inclusive, nos EUA.“É como a TV aberta, eu poderia bloquear o acesso a ela numa casa se ela fosse projetada para ter um código, como a TV por assinatura tem para receber. Se os EUA resolvessem fazer isso, eles teriam que mexer, primeiro, na forma como é transmitido esse sinal. Em termos práticos, seria praticamente inviável fazer isso, ainda mais no curto prazo”, explicou o presidente da Teleco, Eduardo Tude.Por outro lado, é possível causar interferências no funcionamento do GPS localmente, como já aconteceu em áreas de conflito ou de interesse estratégico. O bloqueio de sinal com dispositivos que emitem ondas de rádio para neutralizar o sinal original (jamming) é um dos métodos.Confira: Quais são os diferentes tipos de satélites artificiais que existem?A Rússia já usou isso na guerra contra a Ucrânia para se defender durante ataques com drones e mísseis guiados, além de supostamente ter causado interrupções em sistemas de navegação impactando milhares de voos civis no ano passado. Para Tude, o uso do jamming pelos EUA no Brasil poderia ser considerado uma “sabotagem”.Também há o método do spoofing, que confunde o receptor ao emitir sinais falsos, levando a erros na localização, prejudicando a utilização do sistema de navegação.Os celulares são compatíveis com outros sistemas de geolocalização, além do GPS. (Imagem: Getty Images)E se por acaso acontecer?Caso os EUA decidam restringir o sinal do GPS no Brasil, setores como aviação, navegação marítima, telecomunicações, transporte, logística e até o financeiro poderiam ser afetados. Mas o país não ficaria totalmente no escuro.“Há outros sistemas disponíveis, e a maioria dos celulares, aviões, navios e equipamentos modernos já são compatíveis com múltiplas constelações de satélites. Ou seja, o GPS não é mais o único sistema disponível”, lembrou a divulgadora Ana Apleiade, à reportagem.Descubra: Mito ou verdade: o GPS do seu celular usa satélites militares?Ela se refere aos sistemas GLONASS da Rússia, Galileu da União Europeia, Beidou da China, NavIC da Índia e QZSS do Japão. Todos eles contam com grandes quantidades de satélites, diminuindo a dependência do sistema americano.Curtiu o conteúdo? Continue no TecMundo e compartilhe as notícias com os amigos nas redes sociais.