O presidente Donald Trump voltou a defender uma política comercial mais dura, propondo tarifas mais altas sob o argumento de “reciprocidade”. Entre as ideias, está uma taxa de 50% sobre o cobre e a elevação da tarifa básica sobre países parceiros para algo entre 15% e 20%.Embora nem todas essas medidas devam sair do papel, o Goldman Sachs avalia que os riscos estão direcionados para um cenário mais protecionista — o que pode afetar tanto o crescimento quanto a inflação nos Estados Unidos.No cenário principal do banco, a tarifa efetiva dos EUA (ETR, na sigla em inglês) deve subir 14 pontos percentuais até o fim de 2025 — com a tarifa universal subindo para 15% já a partir de 1º de agosto — e atingir um aumento acumulado de 17 pontos até 2027.SAIBA MAIS: Guia gratuito do BTG sobre a temporada de balanços – saiba os destaques das maiores empresas da bolsa no 2º tri de 2025“Esperamos que a ETR continue subindo nos próximos anos, com novas tarifas sobre caminhões pesados e aviões a partir de 2026, e tarifas sobre medicamentos no começo de 2027”, diz o relatório.A estimativa é que essas tarifas adicionem cerca de 1,7 ponto percentual ao núcleo do índice de preços PCE nos próximos dois a três anos. Com isso, a inflação deve chegar a 3,3% em 2025, 2,7% em 2026 e 2,4% em 2027.Mesmo assim, o Goldman Sachs destaca que ainda é cedo para medir com precisão o impacto das tarifas na inflação. Três fatores explicam essa incerteza:Estoque antecipado: Muitas empresas aumentaram suas importações antes das tarifas entrarem em vigor em 2025, o que atrasou os repasses de preços;Incerteza: A instabilidade e as mudanças frequentes nas tarifas em 2024 podem ter adiado a reação das empresas;Sinais iniciais: O índice de inflação (CPI) de junho já mostra aumento de preços em setores mais expostos, como móveis e produtos de lazer, com tendência de mais alta nos próximos meses.Segundo o banco, o impacto total dos preços mais altos deve levar cerca de 8 meses para aparecer nos bens de consumo, e 15 meses nos bens intermediários e de capital.O estudo também ajusta a estimativa de repasse dos custos de importação para os consumidores americanos: agora, espera-se que 65% dos custos sejam repassados — antes, essa taxa era de 70%. Além disso, a substituição de fornecedores da China por países com tarifas mais baixas, mas custos maiores, deve perder força após o novo acordo entre EUA e China, limitando os efeitos indiretos da inflação.Outro ponto importante: os preços mais altos devem reduzir o consumo das famílias e os investimentos das empresas. O custo maior dos bens de capital, por exemplo, deve subir 6,5% no período, afetando a formação de capital produtivo e o crescimento econômico de longo prazo. Com isso, o PIB dos EUA pode cair 1 ponto percentual em 2025, 0,4 ponto em 2026 e 0,3 ponto em 2027.Por outro lado, o Goldman Sachs prevê que um dólar mais fraco e a reação moderada de outros países podem ajudar as exportações, compensando parcialmente a queda no consumo e no investimento.“Esse efeito deve levar mais tempo para aparecer, já que a maioria das importações dos EUA é feita em dólares. Isso significa que os preços demoram mais para reagir às mudanças no câmbio”, explica o banco.Nesse cenário, o saldo comercial pode contribuir positivamente com 0,5 ponto percentual no crescimento em 2025 e 0,2 ponto entre 2026 e 2027.Cenários alternativos e risco para o FedDiante da incerteza sobre como essas tarifas serão implementadas, o Goldman Sachs traçou quatro cenários alternativos ao seu principal:Cenário negativo (25% de chance): as tarifas “recíprocas” são barradas na Justiça e mantidas em 10%, com redução de 2,5 pontos percentuais na tarifa efetiva (ETR) em relação ao cenário principal.Cenário positivo 1 (15%): as tarifas sobre medicamentos entram em vigor antes do previsto, em setembro de 2025, elevando a ETR em 2 pontos.Cenário positivo 2 (15%): além da antecipação dos medicamentos, o governo adota outras tarifas citadas por Trump recentemente, o que aumenta a ETR em 3 pontos.Cenário positivo 3 (15%): todas as tarifas mencionadas são implementadas, com a tarifa universal subindo para 20% e as setoriais para 50%, o que eleva a ETR em 11 pontos.Nesse último cenário, mais extremo, o núcleo da inflação (PCE) pode subir até 3% até 2027, o PIB pode cair 3,3% e a taxa de desemprego subir até 1,7 ponto percentual — mais do que o dobro do impacto no cenário base.Já o impacto médio ponderado entre todos os cenários aponta para uma inflação adicional de 1,9% e uma queda de 2% no PIB em três anos.Por fim, o Goldman Sachs afirma que, mesmo com essa incerteza, o Federal Reserve pode adotar uma postura mais cautelosa. No entanto, se os efeitos recessivos forem mais fortes do que o previsto, o banco central pode ser levado a cortar os juros de forma mais agressiva do que o mercado espera atualmente.Bolsas americanas batem recordes, e investidores aguardam os balanços de Google e Tesla; confira o que esperar no Giro do Mercado de hoje: