O governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou nesta quarta-feira (23) um pacote com iniciativas e recomendações políticas focadas em inteligência artificial (IA). A intenção é consolidar a posição americana como líder global nessa tecnologia.O plano se apoia em três frentes principais: impulsionar a inovação, expandir a infraestrutura de IA nos Estados Unidos e consolidar o hardware e o software desenvolvidos no país como referência global para novas aplicações em IA.Além disso, o pacote propõe flexibilizar a regulamentação do setor, alinhando-se às demandas das empresas do Vale do Silício. Em um documento de 28 páginas divulgado pela Casa Branca, o governo afirma que pretende “remover a burocracia excessiva” que envolve a tecnologia.Leia mais: Nova função do ChatGPT agora pode ‘pensar e agir’ pelo usuárioO plano do governo federal também demonstra a intenção de adquirir Modelos de Linguagem de Grande Escala (LLMs, na sigla em inglês) que sejam “livres de viés ideológico”, o que implica que companhias que não desenvolvam produtos de IA com “verdade objetiva” não poderão fazer negócios com o governo, excluindo aquelas que não garantam esse aspecto em seus modelos, segundo reportagem do Financial Times.Um alto funcionário do governo disse ao jornal britânico que a Administração de Serviços Gerais (GSA, na sigla em inglês), responsável pelas compras públicas nos Estados Unidos, ficará encarregada de definir as novas regras e avaliar se os modelos de IA estão em conformidade com elas. A agência também revisará as diretrizes atuais sobre o desenvolvimento da tecnologia, retirando referências à diversidade, equidade e inclusão; mudanças climáticas; e desinformação.O relatório destaca ainda que os Estados Unidos devem focar na promoção internacional das ferramentas de IA desenvolvidas no país. A recomendação é que agências federais colaborem com o setor privado para facilitar a venda de pacotes tecnológicos no exterior e atuem para reduzir a influência da China no mercado global de IA.ViésEm janeiro deste ano, Trump assinou uma ordem executiva destacando que os modelos deveriam ser feitos sem “viés ideológico” ou “agendas sociais artificiais”. Conforme a reportagem do jornal britânico, o vice-presidente JD Vance também manifestou preocupação com “censura autoritária” em respostas de IA.Aliados políticos de Trump afirmam que o ChatGPT, da OpenAI, e o Gemini, do Google, são parciais e considerados “liberais”. Eles alegam que essas companhias estariam treinando propositalmente seus modelos de IA para serem críticos em relação à direita americana.O jornal também informa que o plano exigiria uma revisão das investigações da Comissão Federal de Comércio feitas durante o governo Biden. Naquele período, o governo federal americano investigou empresas como Microsoft, OpenAI, Amazon e Anthropic.Leia mais: O plano bilionário da China para se tornar uma superpotência em IAUma reportagem do The New York Times destaca que as mudanças planejadas no pacote de Trump beneficiariam as gigantes da tecnologia, que já estão na corrida para liderar os produtos de IA generativa, tentando convencer consumidores de que tais ferramentas são fundamentais para a rotina.No início do mês, Donald Trump anunciou investimentos que somam US$ 92 bilhões (cerca de R$ 511 bilhões) para impulsionar projetos de infraestrutura e geração de energia, com foco em atender à crescente demanda provocada pelo avanço da IA.Desde o lançamento público do ChatGPT pela OpenAI no fim de 2022, gigantes da tecnologia vêm travando uma corrida para desenvolver ferramentas semelhantes, capazes de escrever, criar imagens e gerar vídeos realistas. Google, Microsoft, Meta e a própria OpenAI buscam mais espaço no acesso a recursos de computação de alta performance, concentrados em grandes centros de dados que exigem enormes quantidades de energia e infraestrutura. Em muitos casos, essa demanda por recursos e a instalação de data centers sobrecarregam cidades próximas.Além da competição entre os nomes já consolidados, o setor tem visto o surgimento de novos concorrentes. Um exemplo recente é a chinesa DeepSeek, uma startup que ganhou notoriedade internacional ao lançar um modelo de IA de alto desempenho, desenvolvido com orçamento bem inferior ao que se imaginava necessário.Preocupações em WashingtonEnquanto as gigantes de tecnologia disputam recursos no Vale do Silício, um debate igualmente acalorado ocorre em Washington sobre os impactos sociais provocados pela IA. Há preocupação de que, sem regulamentação adequada, essa tecnologia possa ser usada por grupos extremistas ou golpistas, além de causar danos significativos ao mercado de trabalho com a substituição de empregos por automação.Empresas de mídia e representantes do setor artístico já entraram na Justiça contra desenvolvedores de IA, alegando uso indevido de obras protegidas por direitos autorais no treinamento dos sistemas.O plano do governo americano também prevê a reindustrialização do setor de semicondutores, com foco na produção doméstica de chips. Esse esforço está sob responsabilidade do Escritório do Programa de Chips, vinculado ao Departamento de Comércio, que passou por mudanças estruturais em março sob comando de Michael Grimes, próximo de Elon Musk, segundo o Financial Times.Jensen Huang, CEO da Nvidia, principal fabricante global de chips voltados à IA, tem reforçado o discurso em defesa da produção nacional. Embora tenha criticado o controle de exportações imposto pelos EUA, ele vem se aproximando de Trump e defende a redução da dependência externa no setor de tecnologia.Na semana passada, Huang comemorou uma sinalização do governo americano autorizando a retomada das vendas de um chip de IA específico para o mercado chinês, após um bloqueio de exportação que vigorava desde abril.The post Trump anuncia pacote de IA com foco em liderança global e redução de regulações appeared first on InfoMoney.