Apesar dos impressionantes avanços da inteligência artificial, a tecnologia ainda não é capaz de promover o raciocínio lógico, compreender conceitos ou mesmo ter consciência. Na verdade, eles são sistemas que “apenas” reconhecem padrões em nossa linguagem.Em outras palavras, a IA não consegue pensar. Mas, afinal de contas, o que isso significa? Para entendermos essa capacidade talvez seja melhor voltarmos ao passado, mais especificamente aos filósofos gregos.Platão nos ajuda a entender o que é “pensar” (Imagem: vangelis aragiannis/Shutterstock)Platão e as formas de compreensãoEm artigo publicado no portal The Conversation, Ryan Leack, professor da USC Dornsife, nos Estados Unidos, explica que Platão usa a analogia de uma “linha divisória” que separa as formas superiores e inferiores de compreensão.O filósofo, que lecionou no século IV a.C., argumentou que cada pessoa tem uma capacidade intuitiva de reconhecer a verdade. Ele chamou isso de a forma mais elevada de compreensão: “noesis”. Ela permite a apreensão além da razão, da crença ou da percepção sensorial. Abaixo, mas ainda acima de sua “linha divisória”, está a “dianoia”, ou razão, que se baseia na argumentação. Abaixo da linha, suas formas inferiores de compreensão são a “pistis”, ou crença, e a “eikasia”, imaginação.Leia maisA IA te responde… e a automação resolve!Adolescentes preferem IA para conselhos e desabafos, diz pesquisaIA vai definir arbitragem em jogos de futebol na EspanhaInteligência artificial ainda não é capaz de pensar (Imagem: Yuichiro Chino/Shutterstock)Como a IA se insere neste contexto?Embora Platão não diferencie “inteligência” e “pensamento”, suas distinções podem nos ajudar a pensar sobre a IA. Sem estar incorporada, a IA pode não “pensar” ou “compreender” da mesma forma que os humanos. A Eikasia pode ser semelhante às frequentes “alucinações” da IA, quando ela inventa informações que parecem plausíveis, mas na verdade são imprecisas.Hoje, a IA assume muitas formas físicas, desde veículos autônomos e robôs humanoides a robôs para cuidados de saúde e drones. Se a inteligência requer algo corpóreo, como acreditava Platão, pode parecer que a IA está mais próxima do que nunca do pensamento humano.Ryan Leack, professor da USC DornsifeCapacidades da IA ainda estão muito distantes do cérebro humano (Imagem: Shutter2U/iStock)A inteligência artificial assume muitas formas, mas ainda não são corpos. Ela funciona com códigos, algoritmos e conjuntos de dados. A compreensão intuitiva, a emoção, a integridade e a sabedoria prática parecem exigir uma forma corpórea e perecível que é movida pela experiência.Talvez devêssemos perguntar à própria IA – e foi o que fiz. Quando fiz uma pergunta simples ao ChatGPT, “você consegue pensar?”, ele respondeu: “Eu consigo processar informações, analisar padrões e gerar respostas com base em dados. Então, de certa forma, pode ‘parecer’ que estou pensando. Mas não é o mesmo que pensar como um humano. Eu não tenho consciência, emoções, intenções ou percepção. Tudo o que ‘faço’ é baseado em padrões aprendidos a partir de enormes quantidades de texto e um conjunto de regras e probabilidades. Posso ‘simular’ certos aspectos do pensamento, mas não penso ou compreendo verdadeiramente no sentido humano”.Ryan Leack, professor da USC DornsifeO post A IA realmente será capaz de pensar um dia? apareceu primeiro em Olhar Digital.