Apesar de cenário de aumento de gastos, crescimento e apetite estrangeiro dão ao Japão margem fiscal

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Uma eleição no fim de semana no Japão tornou real a perspectiva de aumento nos gastos públicos e déficits maiores no país mais endividado entre as nações desenvolvidas. No entanto, por ora, investidores estrangeiros e uma economia em crescimento podem ajudar a evitar uma disparada nos rendimentos dos títulos japoneses.A eleição para a câmara alta no domingo representou um duro golpe para a coalizão governista e para o primeiro-ministro Shigeru Ishiba, às vésperas de um possível confronto tarifário com os Estados Unidos.Os investidores estão se preparando para cenários que vão desde Ishiba continuar governando com minoria, fechar um acordo com um partido menor da oposição ou até mesmo sua substituição. Mas uma coisa é certa: o Japão caminha para cortes de impostos e um déficit fiscal mais amplo.SAIBA MAIS: Fique por dentro dos melhores conteúdos do Money Times sem pagar nada por isso; veja como Em condições normais, isso levaria à venda de títulos e à alta dos rendimentos, à medida que investidores exigem maior compensação pelo risco de emprestar a um país com uma dívida superior a US$ 8 trilhões, quase duas vezes e meia o tamanho da sua economia.Embora os rendimentos dos títulos de longo prazo japoneses estejam subindo, eles ainda estão longe de níveis que refletiriam uma política fiscal tão agressiva. Os títulos de 30 anos rendem apenas 3%.O iene fraco, o histórico de juros baixos, o retorno da inflação no Japão, as enormes poupanças domésticas e as políticas do Banco do Japão ajudaram a ancorar os rendimentos dos títulos públicos japoneses (JGBs). Analistas acreditam que parte desse suporte continuará.“Com algumas das propostas mais recentes e a mudança na dinâmica política, é possível que vejamos mais pressão por apoio fiscal, incluindo reduções no imposto sobre consumo”, disse Michael Wan, analista sênior de câmbio do MUFG.Wan e outros analistas apontam o crescimento econômico do Japão e sua saída da deflação nos últimos três anos como razões pelas quais a dívida é administrável e pode diminuir nos próximos anos.“A situação fiscal do Japão não é tão grave quanto muitos pensam”, afirmou Marcel Thieliant, chefe da Capital Economics para Ásia-Pacífico, em nota. Embora a dívida bruta em relação ao PIB do Japão seja a mais alta entre as grandes economias, a dívida líquida é bem menor, disse ele.“Comparado a outros países, o Japão é um credor líquido. Ou seja, em teoria, há muitos recursos ociosos, de instituições domésticas que investiram no exterior, o que pode limitar aumentos acentuados nos rendimentos no médio prazo”, completou Wan.Interesse estrangeiroO papel do Japão como um dos maiores credores do mundo o diferencia de outras nações do G7 com dívidas elevadas e rendimentos em alta, como Reino Unido e Estados Unidos. Junto com o fundo de pensão GPIF e seguradoras de vida, o país tem cerca de US$ 3,6 trilhões investidos no exterior, metade disso em ativos dos EUA.Embora o Japão possa recorrer à sua imensa poupança doméstica se necessário, no momento seus rendimentos baixos e a moeda fraca estão atraindo investidores estrangeiros, que podem trocar dólares ou euros por ienes e ganhar com o diferencial de câmbio.Trocar dólares por ienes para investir em títulos públicos japoneses de um ano, por exemplo, rende cerca de 30 pontos-base a mais do que os 3,9% dos Treasuries de um ano dos EUA.“Os gestores globais ou os caras dos índices veem os mercados desenvolvidos como uma aposta de valor relativo: quem render mais, leva. Faz mais sentido eu rotacionar meus ativos e fazer trocas cambiais para obter o melhor retorno ajustado ao swap”, disse Rong Ren Goh, gestor de portfólio da equipe de renda fixa da Eastspring Investments.A inclinação da curva dos títulos japoneses também tem atraído investidores. Estrangeiros já aplicaram mais de 15 trilhões de ienes (US$ 101,17 bilhões) em títulos japoneses apenas este ano.Os rendimentos dos títulos de 30 anos subiram 80 pontos-base, atingindo máximas históricas, e a curva de rendimento está no ponto mais inclinado em anos, com o diferencial entre os títulos de 10 e 30 anos acima de 150 pontos-base.Thieliant ainda prevê que o rendimento dos títulos de 10 anos subirá para 2% até o fim de 2026, contra os atuais 1,5%, mas ressalta que essa estimativa considera uma política monetária mais dura.Vendas aceleradas antes das eleiçõesHedge funds venderam ações japonesas no ritmo mais acelerado em quase dois meses e meio na semana passada, pouco antes da eleição deste domingo, informou o Goldman Sachs em uma nota.Os principais índices acionários do Japão, o Nikkei 225 e o Topix, caíram 1,7% e 0,6%, respectivamente, até agora neste mês, na contramão da alta observada em outros mercados de ações. Ambos os índices fecharam em baixa na sexta-feira.As vendas dos fundos hedge entre 11 e 17 de julho foram motivadas principalmente pelo aumento nas apostas vendidas (short) e por uma redução relativamente moderada nas posições compradas (long), segundo uma nota da corretora principal do Goldman Sachs divulgada na sexta-feira e obtida pela Reuters nesta segunda-feira.Os mercados no Japão estavam fechados nesta segunda-feira (21) por causa de um feriado, mas o iene se fortaleceu e os futuros do Nikkei subiram levemente, já que os resultados da eleição aparentemente já estavam precificados pelo mercado.No geral, os fundos hedge continuam com uma posição acima da média (overweight) em ações japonesas, em comparação com sua participação no índice MSCI World, com uma diferença de 0,6%, informou o Goldman.