DF: moradores de rua são obrigados a sair de abrigo para o frio às 6h

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No abrigo oferecido pelo Governo do Distrito Federal (GDF) para pessoas em situação de rua durante o inverno brasiliense, os responsáveis pelo espaço têm despertado o público acolhido por volta das 5h e os retirado do local cerca de uma hora depois, no frio. Os inícios das manhãs são justamente os períodos do dia com menores temperaturas.O abrigo fica no ginásio do Centro Interescolar de Esportes (Cief), na 907 Sul, e o protocolo adotado no local chamou a atenção da Defensoria Pública do Distrito Federal (DPDF), que registrou uma ação civil pública para cobrar que o GDF só retire as pessoas do abrigo às 7h.7 imagensFechar modal.1 de 7Cerca de 70% das pessoas retornam ao abrigo Fotos: KEBEC NOGUEIRA/METRÓPOLES @kebecfotografo2 de 7GDF questiona decisão que permite pessoas em situação de rua a ficarem até as 7h no abrigoFotos: KEBEC NOGUEIRA/METRÓPOLES @kebecfotografo3 de 7Pessoas em situação de rua enfrentam fila para retirada de senha e garantir uma vaga no abrigo emergencial do GDF Fotos: KEBEC NOGUEIRA/METRÓPOLES @kebecfotografo4 de 7Abrigo acolhe 110 pessoas por dia Fotos: KEBEC NOGUEIRA/METRÓPOLES @kebecfotografo5 de 7Abrigo oferece alimentação, cobertas, colchão e banho quente Fotos: KEBEC NOGUEIRA/METRÓPOLES @kebecfotografo6 de 7Pela manhã, local é usado por crianças e adolescentesFotos: KEBEC NOGUEIRA/METRÓPOLES @kebecfotografo7 de 720% do público-alvo é formado por idososFotos: KEBEC NOGUEIRA/METRÓPOLES @kebecfotografoDepois disso, o Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) emitiu uma decisão liminar – de caráter provisório – que proíbe a expulsão dos abrigados nas horas mais geladas das manhãs.O GDF, no entanto, recorreu e alegou que recebe estudantes dos 4 aos 12 anos a partir das 7h15. Além disso, justificou que a “convivência forçada de alunos com adultos em situação de vulnerabilidade social, ainda que seja por pouco tempo, expõe os menores a possível trauma psicológico e perigo sanitário”. Leia também São Paulo Defesa Civil ativa abrigo em estação de metrô para acolhimento no frio Distrito Federal Abrigo no frio: ginásio na Asa Sul receberá pessoas em situação de rua Grande Angular Sob frio intenso, DF terá abrigo para pessoas em situação de rua Distrito Federal Frio: voluntários criam abrigos para animais de rua. Saiba como ajudar Sem apresentar dados sobre esse ponto no processo, o GDF ainda afirmou que os acolhidos estão “muitas vezes sob efeito de substâncias psicoativas” dentro do abrigo.CumplicidadeO abrigo recebe 110 pessoas por dia, com cobertores, colchões, jantar, café da manhã e acesso a banho quente. Em média, 20% do público é formado por idosos, segundo a Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedes).Cerca de 70% das pessoas retornam ao espaço mais de uma vez para passar a noite. Sem se identificar, a reportagem visitou o local duas vezes para verificar a situação e, por volta das 20h, encontrou uma fila de pessoas à espera de entrar.Dentro do local, eles pegam colchões e se organizam em fileiras. O Metrópoles também observou uma relação de cumplicidade ente os abrigados e os assistentes sociais.“Você traz para mim uma corda de violão nota mi?”, pediu um acolhido a uma assistente, que também toca o instrumento. “Trago sim. Mas só tenho de nylon”, respondeu a profissional.A reportagem também ouviu pessoas que disseram gostar de ficar no abrigo. “O ruim é sair quando ainda está frio”, comentou um homem, que tem preferido dormir do lado de fora do abrigo, em uma barraca, para não ser acordado às 5h30.“Preconceito na vizinhança”Em entrevista em maio de 2024 ao Metrópoles, a secretária de Desenvolvimento Social, Ana Paula Marra, pediu a compreensão de moradores e frequentadores das áreas próximas a locais de abrigos, para que não agissem com preconceito.“A Sedes trabalha com vários serviços para tentar, de alguma forma, criar um vínculo com aquela pessoa e demonstrar um novo caminho de vida. Quando abrimos uma casa de passagem, há o preconceito na própria vizinhança, mas é preciso que a população entenda se tratar de uma questão complexa”, comentou.Ana Paula Marra comentou, ainda, que toda a sociedade deve se envolver nesse processo, de modo que a pessoa acolhida possa ter uma nova perspectiva de vida. A entrevista na íntegra está disponível neste link.Hotel SocialO Metrópoles questionou o GDF sobre o recurso apresentado à Justiça, mas não teve resposta até a mais recente atualização desta reportagem.Por meio de nota, a Sedes informou que o abrigo provisório do Cief terá as atividades encerradas ainda neste mês, quando passará a funcionar o Hotel Social, no Setor de Armazenagem e Abastecimento Norte (Saan).“O espaço terá pernoite permanente para a população de rua e contará com camas, banho quente, alimentação (jantar e café da manhã), além de canil para pets, com ração, água e outros cuidados. O horário irá das 19h às 8h. Também haverá micro-ônibus diariamente, do Centro Pop Brasília, na Asa Sul – especializado em atendimento socioassistencial – [até o Hotel Social]”, concluiu a pasta.