Por que as taxas atuais do Tesouro IPCA+ podem te levar a “decisões míopes”

Wait 5 sec.

Na renda fixa atrelada à inflação ou prefixada, os títulos de longo prazo são considerados mais arriscados por prenderem os investidores a uma taxa que pode subir e causar desvalorização do papel. Por isso, a remuneração desses ativos geralmente é maior. Nos últimos meses, porém, as taxas do Tesouro IPCA+ vêm evidenciando uma tendência de percepção de risco maior no curto prazo, o que causa uma diferença de remuneração cada vez maior entre os vencimentos e pode levar investidores ao erro, segundo analistas.Quem abriu a plataforma do Tesouro Direto no último dia 3 de fevereiro viu o Tesouro IPCA+ 2029 pagando juro real de 7,47%. Enquanto isso, o Tesouro IPCA+ 2050, lançado naquele dia e o mais longo entre os papéis da categoria sem juros semestrais, pagava 7,43%. A diferença, portanto, era de 4 pontos-base (pb). Mas fechamento quarta-feira (23), a diferença entre a remuneração dos dois papéis era de 83 pb.Leia também: Tesouro faz leilão conservador de títulos para conter alta nas taxas Não há coincidência no movimento. No Tesouro IPCA+ com juros semestrais a dinâmica foi a mesma: a diferença entre a remuneração do título mais curto para o mais longo saiu de 12pb em 3 de fevereiro para 25pb no fechamento de ontem. Para alguns investidores, a remuneração maior torna óbvia a escolha pelos títulos curtos. Outros podem achar que o movimento não diz nada sobre a atratividade de cada papel. Porém, analistas ouvidos pelo InfoMoney divergem dessas hipóteses.Ricardo Schweitzer, sócio da Garoa Wealth Management, resume que a dispersão maior das taxas “significa que o investidor precisa escolher entre liquidez e previsibilidade”. O que explica a diferença maior?O movimento que vem sendo acentuado nos últimos meses faz parte de um contexto maior que especialistas chamam de curva invertida: “lá na frente você ganha menos juros, porque o CDI atual vai ser alto e, depois, vai cair, então faz todo sentido”, diz Gustavo Jesus, sócio da Victrix. Mas alguns fatores explicam o motivo da diferença crescente entre curto e longo prazo. Um deles é a expectativa do mercado para a inflação e juros, segundo Guilherme Almeida, head de renda fixa da Suno Research. Ele explica que os agentes não esperam uma inflação na meta no curto prazo, o que vai continuar pressionando o Banco Central a manter os juros em patamares elevados. Diante disso, os investidores enxergam mais risco e passam a exigir prêmios maiores em vencimentos mais curtos. Por outro lado, “o longo prazo é beneficiado por uma espécie de busca por duration (prazo médio de recebimento)”, diz Almeida. Ele argumenta que os títulos de longo prazo estão mais ligados a temas estruturais e, portanto, suas taxas são menos sensíveis a notícias que impactam a economia num futuro próximo. Além disso, investidores importantes, como fundos de pensão e estrangeiros buscam “duration mais longa para casar com passivos de longo prazo”. Com esses compradores aproveitando os juros reais altos, as taxas vêm cedendo. Por último, o especialista da Suno Research cita as eleições de 2026 como um dos fatores que explicam a diferença maior entre as taxas. “Muitos gestores vendem os vértices mais líquidos e curtos para montar posições mais defensivas nos vértices mais longos, apostando que teremos uma volta à normalidade no longo prazo”.Para Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos, “essa diferença é um sinal de como o mercado vê o cenário adiante e deve ser levada em conta na escolha do prazo mais adequado para cada estratégia”. “Decisões míopes”Segundo Schweitzer, comparar apenas as taxas ao escolher entre um título e outro “pode levar a decisões míopes”. Harrison Gonçalves, analista CFA, diz que o cenário de alta das taxas de curto prazo ao mesmo tempo do recuo nos papéis longos “pode levar investidores a tomar decisões equivocadas ao focar exclusivamente na taxa nominal” e que “não se pode afirmar, de forma genérica, que taxas maiores nos títulos curtos são mais atraentes, tudo depende do cenário macroeconômico”. Ao escolher entre os vencimentos disponíveis, o investidor deve considerar os riscos associados a cada prazo, lembra Jeff Patzlaff, planejador financeiro e especialista em investimentos. “Um juro real elevado no curto prazo pode parecer atraente, mas não garante o melhor retorno absoluto no tempo”. Leia também: Como a alíquota “pouco significativa” de IOF afeta o mercado de FIDCs?O especialista cita um dos riscos associados aos papéis mais curtos: “os investidores podem ser obrigados a reinvestir em um cenário menos favorável no futuro”, algo que os especialistas chamam de risco de reinvestimento. Por outro lado, os papéis longos travam um juro alto por mais tempo, mas não oferecem liquidez. Além da taxa, os investidores ainda precisam considerar a volatilidade maior dos papéis mais longos, a expectativa de inflação que, “quanto mais ancorada, mais previsível torna o retorno real” e a sensibilidade dos títulos à marcação a mercado”, elenca Patzlaff. Para saber o que escolher, o investidor precisa definir um horizonte de investimento, com o objetivo de planejar onde investir após o vencimento daquele papel, segundo Almeida. Ele conclui lembrando que “o mercado está enxergando mais risco no curto prazo” e, portanto, as taxas mais altas não significam títulos mais vantajosos: “títulos mais longos, mesmo com taxas menores, oferecem uma proteção contra o risco de reinvestimento e podem gerar ganhos mais substanciais com a marcação a mercado”. The post Por que as taxas atuais do Tesouro IPCA+ podem te levar a “decisões míopes” appeared first on InfoMoney.