A popular meta de 10 mil passos por dia, culturalmente difundida como símbolo de um estilo de vida ativo, não surgiu a partir de estudos científicos. A sua origem vem de uma estratégia de marketing nos anos 1960. Agora, uma nova pesquisa questiona essa referência e aponta que caminhar menos já traz impactos significativos para a saúde.Segundo o estudo publicado na última quarta-feira (23), na The Lancet Public Health, pessoas que realizam cerca de 7 mil passos por dia apresentaram uma taxa de mortalidade quase 50% menor do que aquelas que caminham apenas 2 mil. Ou seja, mesmo com uma quantidade bem inferior à meta tradicional, os benefícios à saúde são expressivos.A meta dos 10 mil passos surgiu no Japão, em 1964, como parte de uma campanha da fabricante de pedômetros Yamasa durante os Jogos Olímpicos de Tóquio. Décadas depois, a ideia se espalhou pelo mundo com a chegada dos rastreadores de atividade em celulares e dispositivos vestíveis.“A marca de pedômetro foi definitivamente bem promovida”, afirmou Ding Ding, professora da Universidade de Sydney e principal autora do estudo, ao jornal britânico Financial Times. “Acho que trouxe benefícios importantes para a saúde pública, já que 10 mil é um número redondo, bom para definir metas, apesar de não ter base em evidências”.O estudo analisou dados de mais de 160 mil pessoas adultas para medir a relação entre quantidade de passos e o risco de desenvolver doenças crônicas ou morrer por causas variadas. A pesquisa reuniu dezenas de estudos já publicados, oferecendo uma visão abrangente sobre o impacto da caminhada diária.Os resultados mostraram que, ao caminhar 7 mil passos, o risco de morte geral foi 47% menor, quando comparado aos que andavam só 2 mil. Houve ainda queda nas chances de desenvolver câncer, diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares e até demência.Para quem alcançava os 10 mil passos, o risco de morte foi 48% menor. Isso significa que houve uma melhora marginal em relação ao grupo dos 7 mil. Em algumas condições específicas, como sintomas de depressão, os 10 mil passos diários continuaram sendo vantajosos, com uma redução adicional de 14% no risco.A professora e pesquisadora Ding reforça que os resultados não significam que uma pessoa precise reduzir seus passos por dia para 7 mil. Mas ela reforça que andar mais que 7 mil passos, o “retorno sobre o investimento é menor”, já que os ganhos extras de saúde para cada mil passos começa a diminuir. O estudo foi bem recebido por especialistas. Para Daniel Bailey, da Universidade Brunel de Londres, comentou em nota à imprensa que a pesquisa colabora para desmistificar a ideia de que 10 mil passos por dia devem ser a meta para uma saúde ideal. Apesar de não ter feito parte do estudo, ele ainda sugere que uma meta entre 5 mil e 7 mil passos diários seja mais realista e ainda eficaz para boa parte da população.Ainda assim, o levantamento mostrou que benefícios adicionais continuam crescendo: quem caminhava cerca de 12 mil passos por dia tinha uma redução de 55% na mortalidade geral, comparado aos que andavam só 2 mil. Ou seja, a iniciativa da Yamasa, embora não científica, incentivou níveis de atividade que continuam sendo positivos.The post Andar 10 mil passos por dia é o ideal para a saúde? Cientistas explicam appeared first on InfoMoney.